Política

Urbanitários discordam de privatização da Casal

Sindicato e Fórum citam consultoria do BNDES de 2017 com proposta que não atende ao objetivo de universalização da água

Por Luciana Martins com Tribuna Independente 28/02/2019 08h04
Urbanitários discordam de privatização da Casal
Reprodução - Foto: Assessoria
A defesa do novo secretário de Estado da Infraestrutura, Maurício Quintella, sobre uma possibilidade de privatização parcial da Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal) não é bem vista pelo Sindicato dos Urbanitários de Alagoas. À Tribuna, o presidente da entidade, Nestor Powell destaca que “privatizar a Casal é entregar o patrimônio do Estado à iniciativa privada”. Contrário à privatização da empresa, Nestor explica que na consultoria feita pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) fica claro que o governo será refém da iniciativa privada perdendo, inclusive, o poder de decisão. Além disso, a população é quem sofrerá as consequências. De acordo Nestor Powell, a tarifa cobrada atualmente pela Casal só é possível em virtude do subsídio cruzado. O presidente dos Urbanitários explica ainda que uma eventual chegada da iniciativa privada será cobrada a “tarifa real” para cada localidade. “Ou seja, se o custo para levar algo até determinada localidade for alto, aquela região pagará um valor maior. E qual a empresa vai ter interesse em levar água para comunidades mais distantes?”, questiona Nestor Powell. Nestor revela que comunidades com menos de 300 habitantes também não serão contempladas com o fornecimento, conforme o projeto de consultoria. “Serão 35 anos de exploração e a população é quem vai sofrer. A Casal tem se recuperado economicamente e o sistema tem apresentado melhoras”, pontuou. Para o presidente do Sindicato dos Urbanitários, a Casal corre o risco de permanecer apenas como uma produtora de água, já que a distribuição e comercialização ficarão a cargo da empresa privada. ENTENDA Durante a solenidade de posse na terça-feira (26), o secretário de Estado da Infraestrutura, Maurício Quintella disse que a prioridade é buscar parceria que possam possibilitar investimentos de grande porte até porque a cobertura de esgotamento sanitário no Estado é de apenas 30%, e na capital Maceió 35%. Para colocar esse projeto em prática, o novo secretário vai buscar apoio dos deputados estaduais, bem como na bancada federal. Superávit: Fórum destaca avanços e melhorias da Casal   [caption id="attachment_283264" align="aligncenter" width="640"] Companhia tem anunciado investimentos em setores estratégicos (Foto: Assessoria)[/caption] O Fórum Estadual em Defesa do Saneamento também enxerga como preocupante um cenário em que a Casal tem possibilidade de passar por um processo de privatização. “Estamos falando de um setor essencial e estratégico para a população. Sabemos que o setor privado tem a sua importância na economia, mas por sua essência não há como ele atuar em setores como o do saneamento, mantendo a essência desse serviço, que deve ser o social e não o lucro”, argumenta a coordenadora geral do Fórum, Dafne Orion. Ela ressalta que nos últimos três anos a Casal tem conseguido alavancar seus números, atuando com recursos próprios e com uma gestão de trabalhadores comprometidos com essa função social. Passar o controle para o setor privado, segundo ela, é reduzir os recursos para a Casal e comprometer a sua capacidade de operar os sistemas de água, colocando em risco este fornecimento à população. Assim como o presidente do Sindicato dos Urbanitários de Alagoas, Dafne Orion disse que o Fórum teve acesso ao relatório da consultoria do BNDES em 2017 e que a proposta de modelo apresentada não atende o objetivo principal que é a universalização do atendimento de água e esgoto no Estado. “Diante dessa proposta apresenta pelo BNDES será inevitável o aumento excessivo da conta de água e esgoto, a precarização do atendimento e principalmente a garantia da qualidade água e da sua distribuição”, alertou. Na avaliação do Fórum Estadual em Defesa do Saneamento, a melhor solução para ampliação dos serviços da Casal seria aumentar a participação da sociedade, por meio do controle social, possibilitar os investimentos por meio de parcerias público-público (com investimentos feitos via BNDES para a Casal) e o setor privado continuar atuando como já atua, em parcerias sob o controle e fiscalização da companhia Estadual. “O principal objetivo do fórum é defender o controle do estado e social desse setor de saneamento e discutir a melhor alternativa para que a população tenha um serviço com qualidade. Esperamos, enquanto Fórum, ter a escuta do secretário de Infraestrutura e do Governo do Estado”, defende. SUPERÁVIT A recuperação econômico-financeira da Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal), que apresentou superávit por três anos seguidos – em 2016, 2017 e 2018 –, tem sido destacada pelo presidente Clécio Falcão. Ele tratou sobre o assunto durante reunião com os gestores da empresa na Unidade de Negócio Sertão, em Delmiro Gouveia. O encontro foi para apresentação dos novos vice-presidentes da Companhia, que tomaram posse no final de janeiro.