Política

Bancada de Alagoas terá de lidar com o conservadorismo

Quatro dos nove deputados eleitos comentam o fator Bolsonaro que conseguiu impulsionar seus representantes na Câmara

Por Carlos Victor Costa 20/10/2018 09h47
Bancada de Alagoas terá de lidar com o conservadorismo
Reprodução - Foto: Assessoria
Em alta, o conservadorismo terá uma das maiores bancadas na Câmara Federal. A onda liderada pelo candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL) elegeu o Congresso mais conservador das últimas três décadas. Os números mostram isso. A taxa de renovação aumentou e atingiu 53%, contra 47% de quatro anos antes. Liderando nesse cenário, o PSL de Jair Bolsonaro, saltou de oito para 52 deputados federais. O PT, de Fernando Haddad, que disputa o segundo turno para presidente ainda se mantem como a maior bancada da Câmara, apesar de ter diminuído em relação à última eleição. Já MDB e PSDB, de bancadas históricas, saíram derrotados e perderam, respectivamente, 31 e 25 cadeiras. Empunhados por esta bancada conservadora, projetos como a revogação do Estatuto do Desarmamento e a aplicação do ‘Escola Sem Partido’, são alguns dos temas que devem ser abordados logo de início na Câmara Federal. Pautas essas defendidas Bolsonaro. Neste contexto, a reportagem da Tribuna Independente consultou a bancada alagoana eleita neste último pleito para saber como ela irá se portar diante do avanço do conservadorismo no Congresso Nacional e qual a análise política que os deputados federais eleitos fazem de um partido de extrema-direita ter ampliado a sua força na Câmara. Além de saber, também, o que pautas conservadoras representam para o país. A cientista política, Luciana Santana e o sociólogo Carlos Martins também foram consultados para fazer uma avaliação do Congresso Nacional a partir do próximo ano. O deputado João Henrique Caldas, JHC (PSB), mais votado no estado, disse que apesar de divergir profundamente de várias pautas do deputado Jair Bolsonaro, não o considera a “extrema-direita”. Ele ainda acrescentou que talvez o que cause espanto seja o aparecimento de uma direita em um cenário político acostumado ao monopólio da esquerda. “A democracia, no entanto, é isso: conviver com as diferenças. Como deputado, continuarei independente e avesso a qualquer forma de fisiologismo e “toma lá dá cá”. Essa será a minha forma de contribuir com Alagoas e com o Brasil”. IDEAIS Eleita pelo PSDB, Tereza Nelma, tem uma postura diferente de seus colegas de partido. Ela diz que é lamentável e perigosa a atual situação institucional e que independentemente do resultado do segundo turno, o país continuará dividido. “Se Bolsonaro vencer, com todas as ilegalidades que está praticando, o poder será o prolongamento dos corruptos do [Michel] Temer, acrescidos dos métodos violentos e inconstitucionais do Bolsonaro. Se o resultado for esse, estarei na resistência e defesa dos excluídos. Se for Haddad, meu candidato, espero participar da reconstrução de um novo projeto, com a correção de erros já conhecidos”. Livre de amarras político-partidárias, a Nelma diz não saber como será o comportamento da bancada alagoana em relação à ala conservadora, já que segundo ela, a maioria dos deputados votou vem votando contra os trabalhadores e as pessoas mais vulneráveis. Porém, Tereza afirma que pretende manter o diálogo com todos. A deputada acrescenta que se os conservadores quiserem manter o pacto da Constituição de 1988, poderá ter avanços, mesmo com dificuldades. “Nem todos os conservadores pregam a violência e atacam normas constitucionais, algumas pétreas, como faz a insanidade do Bolsonaro. Além disso, as forças progressistas, como uma ala social democrata do PSDB, o PSB, PDT, PT, PSOL e outros tem número suficiente para barrar as propostas mais extremistas da direita”. Encarregado de manter as políticas do PT de Alagoas em Brasília, Paulão vai para seu terceiro mandato. Ele reconhece o crescimento expressivo do PSL, mas acredita que ainda é muito cedo para fazer qualquer pré-julgamento de um cenário da co-formação da bancada. “É verdade que a gente já tinha uma pauta conservadora desde que o Eduardo Cunha assumiu e foi um dos motivos da queda da Dilma. Temos que verificar primeiro o cenário, primeiro saber o resultado da eleição no dia 28. Sou contra a essa visão conservadora de revogar o estatuto do desarmamento. E a escola sem partido também, porque na verdade é uma escola sem pensamento. O que eles querem é tirar o pensamento critico”. No tocante à revogação do estatuto do desarmamento, os deputados Marx Beltrão (PSD) e Isnaldo Bulhões (MDB) têm opiniões diferentes. Marx é a favor da revogação e ressalta que não tem fixação por esquerda, por direita, por centro ou por extrema-direita. Ele se diz a favor do Brasil e não acreditar em partidos, mas na boa fé das pessoas e na prática da boa política. Já Isnaldo é contrário à revogação e entende como natural o crescimento do PSL, por conta da força conquistada por Bolsonaro no país. Um mesmo segmento da sociedade pode agir de uma forma e pensar de outra. Esse é o início do raciocínio do sociólogo Carlos Martins para explicar o crescimento do conservadorismo no Congresso Nacional. “A forma de pensar do brasileiro é uma forma que eu diria conservadora. Fazendo um contraponto aí entre o conservadorismo e o liberalismo, o liberalismo clássico, entendendo como a garantia das liberdades fundamentais, o liberalismo político, que diferencia do conservadorismo de costumes. A população é, do ponto de vista econômico, liberal, mas do ponto de vista de costumes, conservadora”. Na avaliação do sociólogo, a candidatura do Bolsonaro traz à tona o que esse segmento conservador não tinha ainda a coragem de colocar para fora. Primeiro, a crítica ao politicamente correto, depois o advento da internet com a ascensão de grupos que pensam dentro de um campo mais conservador. “É por isso que ele [Bolsonaro] há 30 anos, é eleito e bem eleito pela sociedade carioca. Você pega os vídeos dele antigo são discursos bem reacionários, extremamente conservador e de uma direita extrema e cada vez mais encontrou terreno, encontrou espaço dentro da sociedade brasileira”. Carlos Martins ressalta ainda que todo esse fenômeno faz um partido nanico se tornar um dos partidos mais fortes do Brasil. Muito parecido, segundo ele com o que aconteceu com o partido de Adolf Hitler na Alemanha. “De modo que o que será pautado no Congresso Nacional, serão pautas dentro de uma agenda de uma direita, onde iremos esperar a diminuição dos direitos fundamentais porque são eles que garantem a liberdade de expressão para segmentos como LGBT, movimento negro, mulher, indígena. Esses segmentos sociais que vem demandando processos de mudanças e são alvos preferenciais dessa ultra direita que ascende independente ou não da vitória do Bolsonaro”. A partir de três questões, o sociólogo elenca o movimento que tem levado Bolsonaro a despontar como candidato preferencial do eleitor brasileiro. São eles: processo de manipulação das informações extremamente articulada, de modo que a mesma empresa do Donald Trump está atuando aqui e fazendo exatamente esse jogo das desinformações que vai manipulando a opinião pública. Os outros dois são a Religião e a Violência. Agenda econômica do PSL é extremamente privatista Relacionando uma pesquisa feita pelo sociólogo Alberto Carlos Almeida, publicada no livro “A Cabeça do Brasileiro”, Carlos Martins destaca como pensa o brasileiro de acordo com esse levantamento. Ele pontua que sobre a corrupção, o brasileiro não tem problemas, pois quando se é perguntado se alguém já usou o jeitinho brasileiro a resposta é que sim em sua maioria. E, de acordo com a pesquisa citada, quanto maior o grau de instrução, maior é o uso do jeitinho brasileiro para conseguir as coisas. No quesito religião, a pesquisa mostra que a população acredita na intervenção de Deus no destino dela, por isso o fato do messianismo praticado em torno do nome de Bolsonaro, que chega a dizer que tem uma missão dada por Deus. Sem ficar atrás da religião, o tema violência também é outro dominado por Bolsonaro. O discurso do candidato traz o tema como grande cabo eleitoral, segundo o sociólogo Carlos Martins. “Idolatria à violência como resolução dos problemas é o que o Bolsonaro apresenta. Ele está na sintonia dessa população. Ele pega carona nessa grande confusão que o brasileiro faz nessa capacidade de falta cognitiva de interpretação que o brasileiro tem e pega carona nisso fazendo a política da propagação da mentira, dos fake news, para fortalecer ainda mais essa posição conservadora que a população já tem. O que é tragicômico é o fato de que Bolsonaro, todo discurso dele vai contra esta população que o percebe como grande salvador, essa é a grande ironia nesse processo todo”. Sabe se que por traz de Bolsonaro, tem um grupo de pensadores e formuladores extremamente liberais do ponto de vista econômico e que a maior característica da direita do Brasil é o liberalismo, defende o sociólogo. “Temos uma direita extremamente liberal radical, que quer enxugar o estado ao máximo, ela quer retirar tudo e qualquer possibilidade de gerenciamento da economia do estado, e colocar todas as coisas nas mãos da iniciativa privada. O que está em pauta num provável governo de Bolsonaro é uma agenda econômica extremamente privatista. Paulo Guedes já tem colocado em algumas de suas declarações, que todas as empresas estatais serão vendidas. Seria privatizado tudo. Além de ser um governo forte no sentido da repressão para conter as movimentações sociais”. INFELICIDADE Reverter o cenário resultante do primeiro turno eleitoral não será possível, ao menos em curto prazo. Essa é a avaliação da cientista política, Luciana Santana, que entende que a tendência é de um crescimento ainda maior dessa bancada, dando sustentação para a aprovação de uma agenda mais conservadora. “Entretanto, há que se reforçar o aumento do numero de mulheres no congresso e de novas lideranças no campo da centro-esquerda. A oposição precisará se manter coesa para fazer frente a essas pautas”.