Política

Sobrenomes de peso na política seguem em seus mandatos

Em Alagoas, tradição em eleger familiares continua forte e amplia número de cargos na Assembleia Legislativa e Câmara

Por Carlos Victor Costa com Tribuna Independente 12/10/2018 10h42
Sobrenomes de peso na política seguem em seus mandatos
Reprodução - Foto: Assessoria
O Poder Legislativo, seja no Estado ou em Brasília, terá novos integrantes oriundos de famílias tradicionais na política. Dos 27 eleitos para a Assembleia Legislativa do Estado (ALE) é possível constatar que ao menos quatro eleitos não foram alçados ao mandato por meio das bases constituídas historicamente em redutos eleitorais. Na Câmara Federal, os sobrenomes de peso também conseguiram a reeleição, bem como foram eleitos de forma inédita. Na Assembleia Legislativa, a mais votada foi a deputada Jó Pereira (MDB), que tem os irmãos prefeitos em Teotônio Vilela e Campo Alegre, Joãozinho Pereira [já foi deputado estadual] e Pauline Pereira, respectivamente, além de ter representatividade familiar em Junqueiro. Jó está indo para seu segundo mandato consecutivo. Em sua estreia na disputa, o filho do ainda presidente da Assembleia Legislativa, Luiz Dantas (MDB), Paulo Dantas (MDB), foi um dos mais votados para o parlamento estadual e irá substituir o pai. Ele é ex-prefeito do município de Batalha. Outros quatro novatos na ALE, filhos de políticos tradicionais, são Cibele Moura (PSDB), de apenas 21 anos, Breno Albuquerque (PRTB), Davi Maia (DEM) e Dudu Ronalsa (PSDB). Cibele é filha de Abrahão Moura, ex-prefeito de Paripueira e reconhecido como grande articulador político. Já Breno é herdeiro de Dudu Albuquerque, ex-deputado estadual. Davi Maia é filho do prefeito de Quebrangulo, Marcelo Lima e tem como experiência a passagem por duas secretarias de Maceió na gestão de Rui Palmeira. Dudu Ronalsa é filho de Carlos Ronalsa, que foi candidato a prefeito em Piaçabuçu. Dudu não é novato na política e atualmente exerce o cargo de vereador em Maceió. Ronalsa tem laços familiares com a família Beltrão, no entanto não utiliza o sobrenome em suas campanhas. Fátima Canuto (PRTB), estreante na disputa e eleita com 37.151 votos é mãe do prefeito de Pilar, Renato Rezende. Em seu currículo, ela não tinha envolvimento com política, mas encabeça alguns projetos sociais. Ainda no Legislativo Estadual, estão a caminho do segundo mandato, mas com sobrenomes que certamente fortaleceram suas disputas, Gilvan Barros Filho (PSD), filho do ex-deputado Gilvan Barros e Bruno Toledo (Pros), filho de Fernando Toledo, ex-deputado e atualmente conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Após não conseguir se eleger em 2014, a ex-prefeita de Estrela de Alagoas e com forte influência na região de Palmeira dos Índios, Ângela Garrote foi eleita com 26.845 e ocupará uma das cadeiras da Assembleia Legislativa em 2019. O filho dela, Arlindo Garrote é o atual prefeito de Estrela de Alagoas. Albuquerque é eleito pela sétima vez Outras situações que demonstram o poder das famílias nas eleições foram reiteradas no último domingo (8). O ex-deputado João Beltrão conseguiu colocar em seu lugar o seu sobrinho Yvan Beltrão (PSD), filho do prefeito de Coruripe Joaquim Beltrão. Quem também conseguiu se reeleger foi o deputado Marx Beltrão (PSD) para mais um mandato na Câmara Federal com quase 140 mil votos. Mesmo com o sobrenome Beltrão, Marcelo, ex-prefeito de Jequiá da Praia, também foi eleito deputado estadual. Marcelo rompeu politicamente com a família por não ter aceitado a candidatura de Yvan em detrimento da sua. Com uma grande bagagem dentro da Assembleia Legislativa, Antonio Albuquerque (PTB) foi reeleito e vai para o sétimo mandato consecutivo. Além disso, seu filho - Nivaldo Albuquerque -, foi eleito para exercer o cargo de deputado federal. A família Calheiros, além de ter assegurado Renan Filho (MDB) para mais um mandato no governo, também tem o senador Renan Calheiros (MDB) novamente no Senado e Olavo Calheiros (MDB) mais uma vez na Assembleia Legislativa. CÂMARA FEDERAL Em Brasília, os mandatos na Câmara dos Deputados também apresentam exemplos das raízes familiares. O mais votado foi o já deputado federal JHC (PSB) com mais de 170 mil votos. Ele é filho do ex-deputado João Caldas e da ex-prefeita de Ibateguara, Eudócia Caldas, que encabeça a chapa do senador eleito Rodrigo Cunha (PSDB) como primeira suplente. Sendo o segundo deputado federal mais votado com 143.858 votos, Arthur Lira (PP) acabou vendo o seu pai, senador Benedito de Lira (PP) ser derrotado e ficando em quarto lugar na disputa pelo Senado Federal. Arthur está indo para seu terceiro mandato consecutivo na Câmara Federal. Apontado como o candidato do Palácio da República dos Palmares, Isnaldo Bulhões, que está em seu quinto mandato consecutivo na Assembleia Legislativa, conseguiu se eleger deputado federal com quase 72 mil votos. Eleição garante barganha A força política das famílias em Alagoas e suas sucessivas vitórias nas urnas para mandatos na Assembleia Legislativa, bem como na Câmara Federal, foi analisada pelo cientista político Ranulfo Paranhos. Paranhos explica que as lideranças dessas famílias conseguem transferir votos para que seus herdeiros sigam nos mandatos. “Quando a gente olha para Alagoas sem olhar sequer para a Assembleia Legislativa e já olhando para a Câmara dos Deputados, o nome do Isnaldinho [Bulhões] é um exemplo disso. Os Bulhões pertencem à história política de Alagoas, que tem poder numa região do estado. Eles têm influência e conseguem ter votos”. Ele também acredita que esse fator pode ser determinante para que essas famílias conquistem espaços dentro governo estadual. “Isso pode funcionar como moeda de troca e barganha política junto do Governo do Estado. Imagine o governo dizer que vai negar um pedido feito pela família Beltrão. É difícil. Nessa correlação de força, manda mais quem pode mais, e quanto eu tiver mais, posso conseguir algo mais”.