Política

Professor se diz intimidado por promover debate sobre LGBT

Pai de aluna acusa docente do Ifal de ensinar “ideologia de gênero” e doutrinação política

Por Claudio Bulgarelli, com redação com Tribuna Independente 12/10/2018 10h07
Professor se diz intimidado por promover debate sobre LGBT
Reprodução - Foto: Assessoria
Um professor de Filosofia do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), Campus Maragogi, se declarou intimidado e coagido em um áudio que circulou nos últimos dias em uma rede social. Renato Libardi Bittencourt relata, como desabafo - segundo ele próprio -, que o pai de uma aluna fez uma notificação extrajudicial ao estabelecimento acusando-o de doutrinação ideológica e propagação da ideologia de gênero, o que ele nega e diz que apenas debate com seus alunos ideias para promover o conhecimento. Ainda no áudio, Bittencourt diz que o professor Carlos Filgueiras, de História, foi igualmente alvo de acusação análoga na notificação. A queixa extrajudicial foi confirmada pela reportagem da Tribuna Independente. É de autoria do escritório Silva Brito Advocacia, representando o pai de uma aluna que alegou ter sofrido bullying por parte de outros alunos por discordar dos ensinamentos do professor. O texto da representação diz que há uma “predisposição” por parte de alguns docentes no sentido de “propagar e influenciar” alunos, ainda menores, sem o devido conhecimento e vigilância dos pais, em assuntos como ideologia de gênero e de cunho partidário, com ênfase a conceitos de “partidos de esquerda” e apologia ao PT. O diretor do campus, Dácio Camerino, encaminhou o caso ao departamento acadêmico, que terá dez dias para ouvir os envolvidos. Ele disse também que dentro da sala de aula o professor tem autonomia, mas que fora disso, a responsabilidade é dele e que cada um responde por suas palavras. Áudio No áudio, Bittencourt demonstra preocupação com a dimensão que o movimento chamado  “escola sem partido” vem tomando. “Essa coisa está tomando uma dimensão tão grande que está começando a se popularizar em regiões que a gente nem imaginava”, diz e faz um alerta para que as pessoas não se sintam intimidadas. O professor também narra que tentaram hackear seu perfil no Facebook. “Alunos fascistas. Já tentaram fazer comigo uma espécie de cyberbullying. Já tentaram me difamar. Aqui a gente já está instalando uma comissão que vai apurar para punir esses meninos. Foram dois meninos que tentaram hackear minha conta, fazer cyberbullying. Eles vão tomar no mínimo uma suspensão. Um já é de maior. Eu poderia, inclusive, acionar a Polícia Federal e denunciar, já entrar na Justiça, fora do âmbito do Ifal. Ainda estou estudando essa possibilidade”, declara. Sobre as acusações da família da aluna, Bittencourt explica que “ideologia de gênero nem é um termo cientifico; é diferente de orientação sexual ou mesmo de gênero em si”. - O que é que a instituição sempre deve promover, inclusive eu como professor de filosofia, e faço questão de reiterar isso, é que o nosso país é onde mais se mata LGTBs no mundo - explicou Bittencourt. “O que a gente faz então? A gente tenta introduzir conhecimento, debater inclusive. O que a gente faz é construir conhecimento através do debate, da informação. O problema é que têm setores conservadores, que infelizmente não compreendem a natureza do trabalho do professor e nos acusam de doutrinação e propaganda ideológico-partidária”, explicou. Ele rebate ainda que tenha envolvimento partidário - garantiu que é anarquista. “Não defendo nenhum partido. Não faço doutrina ideológico-partidária, já que sou apartidário. São acusações graves, que demonstram ignorância, no bom sentido da palavra, em relação ao trabalho do professor. Só que muitos não entendem ou agem de má-fé”, disse. Ele também disse que nas aulas de filosofia sempre combate o fascismo. “Tenho milhares de testemunhas, sempre abro o debate, sempre lutei para transformar uma sociedade melhor. Uma escola sem partido eu chamaria de lei da mordaça”, completou. O advogado Jadilson Brito,  do escritório de advocacia, disse que vai esperar os 10 dias para decidir que ação vai tomar. Por enquanto, disse que comunicou o fato ao MPE, diretamente à promotora Francisca de Paula de Jesus, e acionou a OAB/AL para que se posicionem. O advogado informou que também vai acionar o professor Renato Libardi, por ter dito, no áudio nas redes sociais, que seu escritório de advocacia seria “chave de cadeia”.