Política

Haddad diz que é preciso defender democracia para evitar autoritarismo 'ali na esquina'

Declarações de Haddad vem em meio a seguidas manifestações políticas de membros das Forças Armadas

Por Reuters 17/09/2018 17h37
Haddad diz que é preciso defender democracia para evitar autoritarismo 'ali na esquina'
Reprodução - Foto: Assessoria
O candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad, disse nesta segunda-feira que é preciso defender a democracia “às últimas consequências” ou o Brasil terá uma solução autoritária “ali na esquina”. “Quem está debaixo de uma hierarquia, vai ter que defender a democracia. Quem estiver sob o comando da Presidência da República, vai ter que defender a democracia, não vai ter acordo com quem quiser sabotar a democracia no Brasil, não teremos discussão sobre isso”, afirmou Haddad durante sabatina promovida pelo jornal Folha de S.Paulo, UOL e SBT. “Não vai se admitir, nem com gesto, nem com declarações, nem com nada”, disse o petista, acrescentando que, se a manifestação vier de algum cargo de confiança, a pessoa estará demitida no dia seguinte. As declarações de Haddad vem em meio a seguidas manifestações políticas de membros das Forças Armadas. O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, chegou a dar declaração pouco antes de o Supremo Tribunal Federal (STF) julgar um pedido de habeas corpus em favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e na semana passada afirmou que a legitimidade do próximo governo poderá ser questionada. No ano passado, o general Hamilton Mourão, hoje candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), falou da possibilidade de atuação das Forças Armadas caso haja uma situação de caos no país. E já na campanha eleitoral, neste mês, Mourão admitiu a possibilidade de um autogolpe do presidente da República com apoio das Forças Armadas. “Não se brinca com a democracia, nós estamos num momento delicado”, disse o presidenciável petista. “Ou nós vamos defender a Constituição às últimas consequências, ou nós vamos defender a democracia às últimas consequências, ou ali na esquina, nós vamos ter uma solução autoritária.” Durante uma transmissão nas redes sociais no último domingo, Bolsonaro, ainda hospitalizado em São Paulo, voltou a repetir que o PT está trabalhando com um plano B que “pode se materializar numa fraude” e voltou a colocar o resultado das eleições sob suspeita. Sem elaborar, Haddad disse apenas que espera que o Tribunal Superior Eleitoral se manifeste com relação a essas acusações. PSDB O candidato petista não rejeitou a possibilidade de aceitar apoio de outros partidos, inclusive do PSDB e do centrão, num eventual segundo turno contra Bolsonaro. “Tem dois tipos de apoio. Tem o apoio para evitar um mal maior, como se diz em política, e tem o apoio que é mais programático, aí pensando numa agenda nacional. Eu não saberia te dizer em que condições o PSDB estaria disposto a apoiar uma candidatura do PT contra o Bolsonaro”, disse Haddad. “O centrão eu acho que abraçou outro projeto, não sei se eles vão fazer uma reavaliação depois de outubro, porque o projeto que eles abraçaram não funcionou e eles estão vendo mais do mesmo”, avaliou o candidato sobre o grupo de partidos que fechou apoio ao candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, após também flertar com Ciro Gomes, do PDT. Sobre o MDB, com quem o PT se aliou nas eleições presidenciais de 2010 e 2014, com o atual presidente, Michel Temer, como vice da chapa de Dilma Rousseff, Haddad disse que acha muito difícil que os emedebistas sigam juntos após o atual governo. “Eu não vejo condições daquelas pessoas continuarem todas juntas depois do que aconteceu, depois do governo Temer”, avaliou. CIRO Haddad procurou evitar polemizar com Ciro, que tem dito que o ex-prefeito de São Paulo seria um “presidente por procuração” e que não tem a garra necessária para enfrentar as ameaças que assolam o país. O petista lembrou que houve um convite para ser vice de Ciro e que depois o pedetista chegou a ser convidado para ser vice na chapa do PT. “Eu fui o que mais buscou a aproximação de todas as partes da centro-esquerda para lutar contra esse obscurantismo que está solto. Continuarei lutando para que estejamos juntos. Não foi possível no primeiro turno, será possível no segundo e mais ainda no governo”, disse Haddad. REFORMAS O ex-prefeito de São Paulo defendeu a importância de quatro reformas para a retomada do crescimento da economia: bancária, fiscal, tributária e dos regimes próprios de Previdência. “Reforma bancária, para reduzir o juros para o tomador final, a reforma tributária para aumentar a renda disponível das famílias de classe média e classe baixa para voltarem a consumir e reativar a economia, fazer a roda da economia girar”, explicou. “Reforma fiscal para a gente abrir espaço orçamentário para a retomada de algumas obras fundamentais para o aumento da produtividade da economia brasileira e a reforma dos regimes próprios de Previdência, porque têm alguns Estados e municípios que não vão conseguir pagar a folha se a gente não ajustar as contas dos entes federados”, afirmou o candidato a jornalistas após a sabatina. Segundo ele, a reforma tributária parte de dois princípios básicos: isenção do Imposto de Renda de quem ganha até cinco salários mínimos e a volta da cobrança do IR de quem recebe dividendos. INDULTO A LULA O candidato do PT voltou a ser questionado sobre se, eleito, concederia indulto a Lula, preso em Curitiba condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, após o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), afirmar ter certeza de que Haddad concederia o benefício ao ex-presidente no primeiro dia de governo. “Ele (Pimentel) nunca conversou comigo sobre esse assunto. E eu conversei com o presidente Lula mais de uma vez sobre esse assunto”, disse. O candidato do PT voltou a afirmar que o ex-presidente quer o reconhecimento de sua inocência pelos tribunais superiores. “Não troco a minha dignidade pela minha liberdade. O que eu quero é o reconhecimento do meu recurso ao STJ e ao STF de que não há provas contra mim”, disse Haddad citando Lula.