Política

Maioria não tem propostas para preservar museus

Apenas Renan Filho e Fernando Collor falam, expressamente, sobre conservação do patrimônio histórico e cultural de Alagoas

Por Andrezza Tavares com Tribuna Independente 07/09/2018 09h04
Maioria não tem propostas para preservar museus
Reprodução - Foto: Assessoria
O incêndio no Museu Nacional, no último domingo (2), no Rio de Janeiro, expôs ao mundo a negligência e o abandono do poder público quanto à cultura, história, ciência e ao patrimônio público, importantes áreas que sempre ficam em último lugar, quando o assunto é investimento. Esse descaso é um problema que afeta todo o país. Mas, em meio a uma campanha eleitoral, como os cinco candidatos ao Governo de Alagoas pretendem trabalhar para preservar o nosso patrimônio histórico e cultural? Dos cinco candidatos, Renan Filho (MDB) e Fernando Collor (PTC) abordam expressamente o investimento na preservação e recuperação desse patrimônio. Renan Filho disse que vai reformar e modernizar o Centro de Belas Artes de Alagoas (Cenarte), além de recuperar e modernizar outros equipamentos culturais. Ele também vai ampliar o Programa Alagoas é Cultura no Interior (Pacin); intensificar o programa de Fomento e Incentivo à Cultura Alagoana (FICA), com publicação de novos editais em novos segmentos; e criar o programa “Benvindo, Alagoas é Cultura”, para recepcionar turistas, promovendo atividades artísticas e apresentando o patrimônio cultural de Alagoas. Fernando Collor não apontou onde será o investimento, mas destacou que vai investir na preservação do patrimônio histórico de Alagoas. Entre as suas propostas estão: estimular o empreendedorismo cultural, às cadeias produtivas da cultura e à qualificação profissional; promover a integração do calendário de atividades dos alunos das escolas da rede estadual com as atividades culturais do Estado, requalificando a estrutura física das bibliotecas públicas, bem como seus acervos, para atrair a comunidade; construir um grande espaço de exibição da cultura nordestina, o Pavilhão do Povo Nordestino são algumas das propostas de Fernando Collor para a cultura. Os demais candidatos não tratam da preservação do patrimônio histórico cultural em suas Propostas de Governo. O candidato Basile (PSOL) mencionou que fará, caso eleito, a “construção de equipamentos culturais, como bibliotecas, teatros e rádios comunitárias, junto às escolas públicas como base de uma política de difusão dos produtos culturais de qualidade para todos os alagoanos”. Embora fale em construção de novos prédios, Basile não fala sobre a recuperação dos equipamentos já existentes. O candidato Josan Leite (PSL) não trata sobre cultura em suas Propostas de Governo, que limita-se apenas ao turismo, educação, segurança pública, saúde, ciência e tecnologia a serviço da gestão pública e desenvolvimento, infraestrutura e obras, e agronegócio. Já o candidato Melquezedeque Farias (PCO), sequer apresentou proposta de Governo. Todas as propostas dos candidatos podem ser conferidas no divulgacandcontas.tse.jus.br. Ausência de propostas reflete na falta de sensibilidade política A cientista política e professora universitária, Luciana Santana, avaliou a ausência de propostas voltadas à preservação do patrimônio histórico cultural como o reflexo da falta de sensibilidade dos candidatos ao Governo de Alagoas. “Essas ausências de propostas para área cultural, especialmente ligada ao patrimônio, é o reflexo da sensibilidade que os candidatos têm ou não, em relação a essa área que deveria ser um alvo estratégico porque impulsiona outras áreas importantes no desenvolvimento do Estado como ciência, educação, turismo, e a própria preservação da história e da memória de Alagoas”, ressaltou. Luciana Santana afirmou que os museus precisam virar prioridades do Poder Público, uma vez que o Brasil tem ficado na contramão dos outros países por tratar o patrimônio histórico cultural como algo supérfluo. “Ou seja, se der a gente cuida, se houver muita pressão, a gente vai lá e libera algum recurso”, criticou. A cientista política diz que não só os candidatos, mas também os eleitos pelo povo devem começar a pensar de uma outra maneira e passar a enxergar os impactos positivos que áreas culturais podem ter no desenvolvimento do estado, do município, do país. “O grande problema hoje é que os gestores dizem que preservação acaba sendo muito caro. É caro sim, mas a gente precisa ponderar os benefícios em detrimento dos gastos e quando a gente pondera isso, os benefícios e os impactos positivos são muito maiores”, enfatizou. Santana lembra que não são só os Poderes Executivos - federal, estadual ou municipal - que têm a obrigação de preservar o patrimônio público, o Poder Legislativo também tem papel fundamental nesse processo e a responsabilidade em pautar a agenda em torno de discussões sobre prioridades que os governos devem dar para a execução orçamentária. Segundo ela, a participação da sociedade também é importante. Falta educação patrimonial aos políticos brasileiros “Os museus vivem da resistência de alguns abnegados - intelectuais e artistas -, porque os nossos políticos não têm a educação patrimonial indispensável ao reconhecimento da importância dos nossos museus, dos nossos arquivos e bibliotecas como centros de referências para a identidade do nosso país, do nosso estado e do nosso município”, declarou a museóloga Carmen Lúcia Dantas, salientando que não há um respeito pelo acervo museológico que representa a nossa própria identidade. Para Carmen Lúcia, a tragédia que aconteceu no Rio de Janeiro, causa um impacto no momento e uma dor enorme aos que têm consciência da perda irreparável, mas como não existe uma consciência cultural dos governantes em todas as instâncias, tudo volta ao mesmo quando passa o momento de impacto. “As verbas são cada vez mais escassas e quando há cortes, os primeiros vêm justamente para a cultura, porque assim é o Brasil que nós estamos vivendo, é o Brasil em chamas”, desabafou. Carmen Lúcia disse que a falta de educação patrimonial não se restringe apenas aos políticos, mas também a elite que quando sai do país visita outros museus, mas não valoriza os que têm. “Enquanto a educação não for o carro-chefe dos interesses de um país, eu não acredito em desenvolvimento. E é isso que nós estamos vendo. O que nós passamos com o Museu Nacional é uma consequência da falta de respeito pela educação. Uma vergonha internacional”, enfatizou a museóloga, salientando que a educação não é vista como prioridade, e por isso não se cria uma mentalidade preservacionista da história e memória. Segundo a estudiosa, a população também tem sua parcela de responsabilidade no descaso do Poder Público com os museus, por não cobrar dos gestores tais investimentos. MISA Em Maceió, o Museu da Imagem e do Som (Misa), de responsabilidade do Governo do Estado, precisa de investimentos. “O Misa tem um acervo muito fácil de ser destruído porque são papéis e do mesmo jeito que os outros museus, nunca têm verba e tem todas as dificuldades”, pontuou.