Política

Mal-estar causado por Segovia não está superado

A pedido do diretor-geral da PF, dirigentes se reuniram para tentar apagar desentendimentos, mas crise permanece

Por Jornal GGN 15/02/2018 11h46
Mal-estar causado por Segovia não está superado
Reprodução - Foto: Assessoria
A relação entre o diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, e a categoria que representa continua rachada, em razão das declarações feitas na última sexta-feira (09) à Reuters onde disse que não há indícios de crime contra Temer, até o momento, sobre o Decreto dos Portos, indicando que o inquérito poderá ser arquivado e, ainda, sugerindo que o delegado responsável pelo caso, Cleyber Malta Lopes, pode ser alvo de investigação interna pelas perguntas que encaminhou ao presidente. Logo após a publicação da matéria, representantes de entidades ligadas à classe se manifestaram. O presidente da ADPF (Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal), Edvandir Felix de Paiva, por exemplo, afirmou que a repercussão da entrevista foi "horrorosa". A pedido do próprio Segovia quatro representantes da ADPF e da Federação Nacional de Delegados da Polícia Federal (Fenadepol) se reuniram nesta quarta-feira (14) para explicar que sua entrevista foi mal interpretada Entretanto, reconheceu que não deveria ter abordado uma investigação ainda em andamento, revela a Reuters. Porém, em resposta ao mesmo jornal, Felix de Paiva, declarou que o "mal-estar" ainda "não está superado", completando que ele e outros dirigentes aguardam agora o desdobramento das explicações que Segovia irá prestar ao ministro Roberto Barroso, relator no Supremo Tribunal Federal, agendada para segunda-feira. Quando perguntado pela Reuters se ficou satisfeito com a reunião realizada pelo diretor-geral da PF para se explicar, o presidente da ADPF respondeu: “Se não tivesse falado, não teria essa crise toda. Por mais que tenha sido mal interpretado ou distorcido, o mal-estar já ocorreu e a Polícia Federal sangra desde sexta-feira com o mal-estar criado.” Oposição parlamentar pede explicações Ainda nesta quarta-feira, o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) anunciou que deve entrar com um requerimento na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara convocando Segovia para fazer explicações sobre a entrevista onde aparenta defender o presidente Temer. “No final a gente pode até concluir que não houve crime. Porque ali, em tese, o que a gente tem visto, nos depoimentos as pessoas têm reiteradamente confirmado que não houve nenhum tipo de corrupção, não há indícios de realmente de qualquer tipo de recurso ou dinheiro envolvidos. Há muitas conversas e poucas afirmações que levem realmente a que haja um crime”, disse Segovia na fatídica entrevista à Reuters. Outro parlamentar da Rede, o senador Randolfe Rodrigues, entrou com uma ação popular pedindo o afastamento do diretor-geral da PF por liminar e que, posteriormente, sua nomeação ao cargo seja cancelada. Se o afastamento de Segovia não for atendido, Randolfe pede que Segovia seja impedido de abrir qualquer procedimento administrativo contra Cleyber, o delegado do caso. “Temos como certa a configuração de atos lesivos ao interesse público que, a um só tempo, desviam a finalidade do exercício do poder disciplinar do diretor da Polícia Federal em relação ao exercício funcional dos delegados, que devem desempenhar autonomamente suas funções, livres de quaisquer pressões, e afigura-se violadores do preceito constitucional da legalidade, já que o sr. diretor se manifesta pública e indevidamente sobre inquérito ainda não finalizado e potencialmente divulga informações sigilosas sobre o andamento e desenvolvimento de tais investigações, a que tem acesso em razão do cargo”, diz a ação. O afastamento de Segovia também pode ser promovido por uma decisão da Comissão de Ética Pública da Presidência da República. Os deputados Ivan Valente (PSol-SP) e Paulo Teixeira (PT-SP) já se manifestaram que devem apresentar uma denúncia contra Segovia no órgão. Se isso se confirmar, explica o presidente da comissão, Mauro Menezes, o processo precisa ser imediatamente aberto e um relator já deverá ser sorteado na próxima reunião do colegiado. Defesa de Marun-Governo Por outro lado, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, defendeu o diretor-geral da PF dizendo que o governo não cogita o seu afastamento, mesmo com a crise se avolumando dentro da Polícia Federal: "Vejo o que se chama de tempestade com copo d’água. Ele faz declarações em que verbaliza o óbvio e transformam em um caso político, quando política pode haver na existência do inquérito", declarou ao portal à Reuters. Para Marun, “não há nada de grave” na entrevista de Segovia à Reuters. “Eu penso que o diretor-geral deve sim observar inquéritos de grande repercussão. Até para impedir que se transforme em objeto de guerra política”, completou refazendo a defesa do presidente Temer: “Não existe sequer o crime, não existe ilicitude. Em não existindo isso esse inquérito tem um provável caminho natural que é o arquivamento.” ENTENDA O presidente Michel Temer é investigado a pedido do então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para apurar suspeitas de recebimento de vantagens indevidas dos envolvidos pelo suposto favorecimento da empresa Rodrimar S/A por meio da edição do Decreto dos Portos (Decreto 9.048/2017). A Rodrimar, é ligada ao empresário Ricardo Mesquita que, segundo o delator da J&F, Ricardo Saud, teria sido indicado por Rocha Loures (enquanto exercia cargo de assessor especial da Presidência) para intermediar pagamento de propina semanal. Para Janot, a edição da normativa "contemplou, ao menos em parte, as demandas" de Rocha Loures em favor da Rodrimar. O pedido de abertura do inquérito chegou ao Supremo em junho do ano passado, inicialmente remetido ao ministro Edson Fachin. Mas, este pediu para a ação ser redistribuída dentro da corte. Dessa foram, Barros foi escolhido como novo relator.