Política

Condenação de Lula não representa união de siglas

Partidos de esquerda seguem apostando em pré-candidatos à presidência

Por Carlos Victor Costa com Jornal Tribuna Independente 04/02/2018 15h59
Condenação de Lula não representa união de siglas
Reprodução - Foto: Assessoria
Diante da condenação em segunda instância do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) na semana passada, os partidos em Alagoas – de esquerda e direita –, traçam suas perspectivas eleitorais diante do cenário que parece ser desfavorável ao pré-candidato líder nas pesquisas de intenção de voto. A iniciar pelo PT no Estado, Ricardo Barbosa, que preside a sigla, confirmou a informação de que o partido pensa em unir a esquerda em torno da candidatura do ex-presidente, o que de fato não foi bem recebido por partidos como PCdoB e PDT que já conta com seus pré-candidatos. Barbosa admite, ainda, que não existe plano b, caso Lula não possa ser o candidato. “As perspectivas permanecem num mesmo quadro de instabilidade, diante de uma conjuntura abertamente reacionária de um estado de exceção que se abriu no país. Nós não temos plano B. O PT só tem o plano L, que é o plano Lula. Inclusive, queremos a unidade desses partidos para defender o direito de o PT ter candidato”, avalia Barbosa. Embora PCdoB e PDT façam parte do mesmo campo ideológico da esquerda, e por muito tempo configurarem na base petista durante os governos de Lula e Dilma, lideranças desses partidos no Estado, não concordam com a unidade. O deputado federal Ronaldo Lessa está licenciado da presidência do PDT e aposta na candidatura do ex-ministro Ciro Gomes. “A ideia é manter a candidatura do Ciro [Gomes]. Se o Haddad [ex-prefeito de São Paulo, PT] fosse o vice do Ciro seria uma boa proposta. Na verdade as informações que temos da nacional é que nem o PDT, nem o PCdoB pensam em retirar as candidaturas. Há uma divergência na proposta que foi feita pelo PT de definir uma união de todas as esquerdas numa frente eleitoral. Acho que a gente tem que separar as coisas”, acredita Lessa. Legendas não abrem mão de ter candidatos A avaliação política do PCdoB, na análise da presidente da sigla em Alagoas, Cláudia Petuba, é que o cenário é complexo e o partido optou em ter uma pré-candidata à presidência que é a deputada federal Manuela D’Ávila (RS). “Como o cenário está muito complexo, é difícil fazer previsões e o PCdoB decidiu não ficar dependendo de outros partidos para apresentar um projeto à nação. Esperamos que com o lançamento da nossa pré-candidatura [Manuela D’Ávila] os outros partidos possam nos apoiar. Acreditamos que a candidatura do PCdoB tem condições de aglutinar o campo progressista e desenvolvimentista do nosso país”, analisa. ALIANÇAS Outro partido da esquerda que defende a candidatura de Lula é o PSOL. A sigla também terá seu candidato a presidente. A confirmação veio do presidente estadual da legenda, Gustavo Pessoa. Ele reconhece “acertos” dos governos petistas, mas critica as alianças feitas pelo PT com o que eles acreditam ser políticos que representam a oligarquia no país. “Antes mesmo da condenação do Lula, já era uma decisão do PSOL lançar uma candidatura própria. Alias, foi tradição desde a sua fundação. Mesmo nos melhores momentos do projeto lulista, o partido não abriu mão de lançar suas candidaturas porque tínhamos divergências com o projeto de coalisão de classe com o PT, com a política econômica. Mesmo que a gente reconhecesse naquele momento e ainda hoje reconheça avanços que foram alcançados naquele período dos governos petista, o PT nacional sinalizou a possibilidade antes mesmo da condenação do Lula de reabrir diálogo com setores da oligarquia, com Renan Calheiros aqui em Alagoas, com Eunício no Ceará e com Sarney no Maranhão. Para nós, na verdade, esse projeto de conciliação de classe está totalmente superado e é incompatível com o nosso projeto político”. O PSOL reafirmou em seu congresso a disposição de lançar uma candidatura própria e tudo converge internamente, segundo Pessoa, para que o candidato seja Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). “Independentemente da conjuntura ou da condenação do Lula, o nosso congresso apontou a necessidade de uma candidatura própria e nós entendemos que por conta de todo o contexto atual é importante que os partidos de esquerda e do campo progressista possam ter o direito de lançar as suas candidaturas e o direito de participar do debate de reorganização”, analisa Gustavo Pessoa à reportagem da Tribuna Independente. Cotado como candidato do PSOL à Presidência da República, Guilherme Boulos recusa-se a alimentar a inútil polêmica sobre a desunião da esquerda em 2018. A existência de diferentes candidaturas do campo progressista não representa uma ameaça à unidade e tampouco invalida uma aliança no segundo turno. Esta foi uma avaliação do próprio Boulos em entrevista à Carta Capital. “A esquerda precisa ter maturidade para estar junta naquilo que une a todos e, ao mesmo tempo, reconhecer sua própria diversidade. É preciso cerrar fileiras no enfrentamento ao golpe, às reformas de Temer e aos retrocessos democráticos, bem como na defesa do direito de Lula ser candidato”, diz. “Mas é preciso ter a mesma maturidade para compreender que a diversidade de posições não é um problema”. Cenário é incerto para tucanos e democratas As perspectivas após a condenação do ex-presidente Lula também dividiram opiniões de presidentes de partidos que compõem os campos da direita e centro-direita de Alagoas. O presidente do PSDB no Estado, o prefeito de Maceió Rui Palmeira, disse que os partidos ainda estão se organizando para as eleições de 2018. “Este processo foi iniciado, mas ainda é cedo para termos um cenário mais claro. E esta organização é natural em todo e qualquer ano eleitoral, independentemente da situação de quaisquer pré-candidatos. Ou seja, todos estão se organizando, o que é normal”. Segundo Palmeira, o PSDB ainda deve realizar prévias para saber quem será o candidato do partido. “O candidato do PSDB ainda não foi definido. E a dinâmica da política produz fatos novos diariamente. Mas acredito que, hoje, o nome do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin se apresenta como o com mais musculatura para pleitear a presidência da República”, ressalta o gestor da capital alagoana. Questionado se as denúncias envolvendo o próprio Alckmin, além das que pesam contra o senador Aécio Neves poderiam vim a prejudicar o partido nessa eleição, Palmeira disse acreditar que teremos uma eleição debatida na esteira dos últimos fatos que marcaram a política nacional. “Acredito também que o eleitor está cada vez mais consciente e pesquisará a trajetória de cada candidato para, assim, escolher o que avaliar como o melhor”. O presidente do PP em Alagoas, senador Benedito de Lira, confirmou que o partido chegou a cogitar lançar um pré-candidato a presidente, mas que acabou não vingando. Ele explicou ainda que a sigla se coligará majoritariamente a nível nacional. “O PP até hoje não tem nome para a presidência da República, mas vai ter um candidato ou irá se coligar com algum, mas não posso dizer com quem porque não sabemos nem quem são os candidatos. Houve uma expectativa de candidatura do partido no primeiro momento. Nós pensamos em lançar o nome do ministro Blairo Maggi, mas o Blairo posteriormente achou melhor a opção pelo retorno dele ao Senado. O PP irá fazer uma analise dos nomes que surgirão como candidatos e coligará sem dúvida nenhuma com aquele que tiver chance de ganhar a eleição”, informou o senador, que também foi consultado para falar sobre as projeções presidenciais após a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Oposição ao PT ganha ainda mais fôlego O líder do DEM, o atual secretário Municipal de Saúde, Thomaz Nonô falou sobre uma possível candidatura do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. Ele avaliou ainda que hoje não há nenhum candidato com cara de favorito e que isso anima todos os partidos a experimentar. “O Rodrigo Maia não é candidato, ele é um aspirante. A ideia básica é lançar o nome do Rodrigo, inclusive conversei com ele recentemente. Muitas pessoas acham que ele conduziu bem a Câmara nesse período. O candidato que vai ser o futuro presidente da República é o que conseguir empolgar essa imensa massa brasileira que está descrente da classe política. Eu acho que o Rodrigo com todas as dificuldades que há no parlamento é um candidato que pode ser considerado”. O Podemos (ex-PTN) trabalha com o nome do senador pelo Paraná, Álvaro Dias para a disputa presidencial. A informação foi confirmada pelo presidente da sigla em Alagoas, o advogado Omar Coêlho, em recente entrevista para a reportagem da Tribuna Independente. Ele ainda cogitou uma chapa do Podemos com o PSL, que teria dois candidatos à Presidência da República, caso a conjuntura não mude até à eleição: Álvaro Dias e Jair Bolsonaro. “O palanque nacional foi uma das dificuldades em compor localmente. O PSDB tem o Alckmin; o governador Renan Filho [MDB] tem o Lula [PT], e como a gente iria montar um palanque para o Álvaro Dias? A meu ver, ele é o candidato, dentre os que estão aí, que melhor pode oferecer algo ao país. O outro ponto é o compromisso que assumi de oferecer à sociedade alagoana algo diferente da política tradicional”, diz Omar Coêlho. DUAS VIAS O cientista político Ranulfo Paranhos fez uma avaliação sobre a situação da esquerda, após a condenação de Lula. Segundo ele, desde os anos 80 que a esquerda brasileira tem um comportamento com duas vias. “A primeira via foi o surgimento de partidos, desde o PT, PDT ao ressurgimento do PCB. Depois na década de 90, nós vemos a inauguração de outros partidos, PSTU, PCO. É uma esquerda com muita representação. A outra via se chamava única e exclusivamente Lula. Porque se você observar o comportamento de alguns partidos pós 89, quando todo mundo lança candidato a presidente naquele ano que o Collor ganha, depois esses partidos meio que retiram, deixam de disputar e estabelecem um arco de aliança com o Lula. Esses partidos viram apêndices do PT, um pouco mais de independência para o PPS e para o PDT que chegaram a lançar candidatos. Aí fica confusa a esquerda brasileira, por terem muitos partidos e não lançam muitos candidatos, pois apostam na imagem do Lula. O próprio PCdoB virou agora a ovelha negra, porque sempre apoiou o PT e agora resolveu lançar candidato antes mesmo de o Lula ser condenado”, destaca. Paranhos analisa ainda que com a condenação, partidos que historicamente se comportaram como oposição aos governos petista, acabam ganhando uma folga. “Não sabemos para onde vai caminhar o MDB ainda, mas se você pensar numa chapa histórica entre PSDB e DEM, com o Alckmin como cabeça de chapa você teria a possibilidade real de ter ele já de cara no segundo turno, porque ele tem uma elasticidade de crescimento muito grande. É um cara que já teve no segundo turno e não é muito difícil. Com o Lula no páreo até duas semanas atrás você tinha aí a figura de uma novidade nefasta para todo mundo, que é o Bolsonaro, que poderia arrancar o segundo turno de um cara como o Alckmin”, argumenta Paranhos. O cientista ressalta ainda que quando se vai para a eleição, de fato, não tem como o Bolsonaro concorrer num partido como o PSL, enfrentando orçamentos volumosos de partidos como PSDB, DEM, PT e PMDB. “Você compara um orçamento do PSL com o orçamento do PSDB e DEM juntos, um orçamento do PMDB, do PT, é incomparável o nível de campanha, de material que vai para a televisão, vai ser completamente diferente. E isso vai tirar muito voto dele [Bolsonaro]. Além disso, quando você vai para o debate é incomparável você pegar as figuras históricas num debate ao vivo com o Bolsonaro, essa turma vai apertá-lo de tal forma que não vai sobrar pedras sobre pedras”, projeta Paranhos.