Política

Cristiano Matheus montou 'complexa' rede de laranjas, afirma a Polícia Federal

Ex-prefeito de Marechal Deodoro também teria tentando obstruir a Justiça

Por Carlos Amaral com Tribuna Hoje 05/12/2017 13h20
Cristiano Matheus montou 'complexa' rede de laranjas, afirma a Polícia Federal
Reprodução - Foto: Assessoria
Durante entrevista coletiva realizada na manhã desta terça-feira (5), o superintendente da Polícia Federal (PF) em Alagoas, Bernardo Gonçalves, afirmou que o ex-prefeito de Marechal Deodoro, Cristiano Matheus, montou uma rede complexa de laranjas para ocultar o patrimônio fruto de desvio de programas federais. A entrevista teve o objetivo de esclarecer as ações da Operação Kali, desencadeadas nesta terça-feira. Ela é a segunda fase da Astaroth, deflagrada em julho deste ano. De acordo com as investigações da PF, o ex-gestor também tentou obstruir a ação policial. “Até seu motorista particular foi usado no esquema montado por ele, que é bastante complexo. O motorista era proprietário de uma sala comercial no Centro de Maceió, mas, segundo seu depoimento, ele não sabia que tinha isso em seu nome. A sala foi adquirida em 2012. Depois foi trocada por outra sala no mesmo prédio. E essa nova sala foi colocada em nome a uma outra ‘laranja’ que depois repassou para o motorista. Então, o motorista passou a sala para um amigo do ex-prefeito, proprietário atual da sala e do apartamento em que o ex-prefeito morava, aquele da polêmica nas redes sociais”, relata Bernardo Gonçalves. Ainda de acordo com o superintendente da PF, esse motorista, que não teve o nome revelado, possui um cargo em comissão na Secretaria de Estado da Cultura (Secult), comandada por Melina Freitas, ex-esposa de Cristiano Matheus. “Eles nos disse em depoimento que nunca deu um dia de serviço no estado e que trabalhava apenas como motorista do ex-prefeito”, completa Bernardo Gonçalves. Ainda segundo o superintendente da PF em Alagoas, Cristiano Matheus e seu sócio do Maranhão combinaram depoimento ao informarem valores de negociações. No entanto, eles mentiram sobre o montante em questão. “Você pode até ficar calado, mas daí mentir em depoimento é ato claro de tentar obstruir a Justiça”, comenta Bernardo Gonçalves. A PF, juntamente com o ministério Público Federal (MPF), pediu as prisões do ex-prefeito de Marechal Deodoro e mais 13 pessoas ligadas a ele. Dessas, cinco foram preventivas e nove temporárias. Contudo, o juízo da 2ª Vara Federal de Alagoas entendeu não haver a necessidade de prisão. DINHEIRO Durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão, foram encontrados na casa de uma proprietária de uma construtora que tinha contrato com a Prefeitura de Marechal Deodoro, R$ 297 mil; cinco mil dólares e 14 mil euros. “O valor do contrato dessa empresa com a Prefeitura, à época do ex-prefeito, era de R$ 14 milhões e foi essa empresa que pagou uma reforma no apartamento – do amigo do ex-prefeito – no valor de R$ 104 mil, em 2014”, explica Bernardo Gonçalves. Segundo a PF, Cristiano Matheus vinha tendo como prática realizar seus pagamentos em espécie e, sem constrangimento, usar os recursos da Prefeitura. “Certa vez ele contratou um serviço de móveis planejados e durante a negociação dos valores, e isto consta no depoimento da dona da loja, ele ligou para o então secretário de Finanças de Marechal Deodoro que se dirigiu até o local e pagou o valor acertado, R$ 110 mil, em espécie”, relata o superintendente da PF em Alagoas. Até mesmo o parto da ex-esposa de Cristiano Matheus foi pago pelo amigo – “dono” do apartamento –, também em espécie. O valor foi de R$ 4 mil e tudo foi confirmado pelo médico que realizou o procedimento. PROGRAMAS Cristiano Matheus é investigado pela PF por desvios de recursos Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e do Programa Caminho da Escola e Programa Nacional de Apoio ao Transporte Escolar (PNATE), na ordem de R$ 6 milhões.