Política

Prefeitos deixam siglas em busca de vantagens

PSDB segue perdendo seus filiados para a base do governo Renan Filho

Por Texto: Carlos Victor Costa com Tribuna Independente 25/11/2017 10h30
Prefeitos deixam siglas em busca de vantagens
Reprodução - Foto: Assessoria
A 11 meses das eleições, prefeitos alagoanos estão pulando do barco de seus partidos e se filiando ao PMDB, legenda que tem o governador Renan Filho e o senador Renan Calheiros como maiores expoentes políticos. O partido que mais vem sofrendo com essa debandada é o PSDB, que já teve como presidente o ex-governador Teotonio Vilela Filho e elegeu recentemente o prefeito de Maceió, Rui Palmeira, para comandar a sigla no Estado. Os tucanos viram o número de gestores caindo de 17 para 9. Em março deste ano, o PSDB perdeu Joãozinho Pereira, de Teotonio Vilela; e Aldo Popular, de Porto Real do Colégio; que embarcaram no PMDB. Pauline Pereira, de Campo Alegre, foi para o PMB. Também em março, quem deixou o PSDB foi o prefeito de Pilar, Renato Filho, que ficou sem partido. Já em julho, mais dois prefeitos deixaram o ninho tucano: Flávio Rangel, de Feira Grande, e Manuilson Andrade, de Colônia Leopoldina, que se filiaram ao PSC, da base de Renan Filho. Não parou por aí. Primo do ex-governador, Henrique Vilela deixou o PSDB, assim como Paula Santa Rosa, do pequeno município de Belém. A movimentação tem gerado uma série de questionamentos no meio político, principalmente porque o PMDB, de Renan Filho, está se construindo uma fortaleza para assegurar uma reeleição tranquila tanto para o chefe do Executivo quanto para o senador Renan Calheiros. Sobre o assunto, Renan Filho foi objetivo ao ser indagado pela reportagem da Tribuna Independente. “Acho que é natural pela relação que temos”, avaliou Renan Filho ao tratar das mudanças dos prefeitos para o PMDB. Saída de tucano foi surpresa e lamentada A estratégia em garantir um novo lar para prefeitos interessados em mudar de sigla é avaliada como natural dentro do PMDB. É o que analisa o secretário-geral do partido, Ricardo Santa Rita. Ele explica que outros governos vivenciaram essas mudanças de filiações. “De repente o prefeito tem vontade, até para ter uma proximidade maior, recebe o convite e aceita. Outros recebem e não aceitam. No governo do Ronaldo [Lessa] à época no PSB, muitos prefeitos foram para o partido. O governo do Teotonio [Vilela], com o PSDB, a mesma situação. Ou seja, acredito que é mais uma condição de quem está à frente do governo. Daí, o prefeito acha que participando da mesma agremiação, venha a ter alguma vantagem de assistência ao seu município. Talvez seja isso”, compreende. Hoje, o ex-governador Teotonio Vilela Filho, pensa diferente da análise feita dentro do PMDB. Vilela disse à reportagem da Tribuna Independente que esse comportamento partidário parecia ter sido superado em Alagoas. “Fui governador durante oito anos e nunca pedi ou induzi prefeito a vir para o meu partido. Não tirei prefeito de nenhum outro partido e sempre dei atenção a todos. Quando um prefeito foi eleito, ele é um representante do povo e tem que ser respeitado. Nunca perguntei a um prefeito se ele votou em mim ou se iria votar”, argumentou Vilela. De acordo com o ex-governador, atrair prefeitos com o objetivo eleitoral é uma política arcaica e não condiz com os valores republicanos. Segundo Vilela, os prefeitos que estão saindo dos partidos, não estão fazendo isso por amor ou por ideologia, mas a maioria, de uma forma até constrangida por absoluta necessidade de sobrevivência. “Diante de uma crise imensa e da oferta que está sendo feita a eles, de obras, ações, de ajuda do governo, que teria que ser feita até porque governo é para apoiar os municípios e não fazer disso uma moeda de troca. Eu respeito os prefeitos que saíram do meu partido porque sei que a grande maioria faz isso por absoluta falta de alternativa diante de uma crise”, disse Vilela. Quanto ao prefeito Henrique Vilela, o ex-governador disse estar surpreso. “Em relação ao prefeito de Porto de Pedras, por ser uma pessoa inclusive que é meu primo, esse aí eu lamentei duplamente. Primeiro pela surpresa, eu não esperava isso, essa atitude dele. Ele politicamente me deixou mal, mas isso faz parte da política”. Apesar disso, Vilela coloca em cheque a política de atrair muitos prefeitos. Para ele, a história mostra que essa estratégia tem uma eficácia eleitoral duvidosa, exemplificando a eleição de 2006, quando ele derrotou o usineiro João Lyra ainda no 1° turno. “João Lyra amealhou 90 prefeitos, 26 deputados, praticamente a totalidade das Câmaras de Vereadores e perdeu a eleição no primeiro turno. O voto majoritário não obedece necessariamente ao comando do líder, porque é um voto que vai muito com o momento, com a impressão que o candidato a governador, a senador coloca. Essa é minha maneira de ver”, considera o ex-governador. A reportagem da Tribuna Independente apurou que o PMDB estaria articulando nos bastidores convidar prefeitos do PP, do senador Benedito de Lira. Essa seria mais uma estratégia de fortalecimento do partido, principalmente numa eventual disputa ao Senado. Procurado para falar sobre o assunto, o senador Benedito de Lira, presidente estadual da sigla, não respondeu as chamadas até o fechamento desta edição. Gestores devem cobrar a fatura no pleito de 2020 Prefeitos entendem que apoio maximiza chances de reeleição no futuro Deixar legendas em busca de conforto eleitoral é um comportamento padrão no meio político. Essa é a avaliação do cientista político Ranulfo Paranhos à reportagem da Tribuna Independente. [caption id="attachment_18034" align="aligncenter" width="300"] Teotonio Vilela Filho diz que atrair prefeitos é retrógrado; PP, de Benedito Lira, ainda não foi atingido (Fotos: Sandro Lima / Montagem: Tribuna Independente)[/caption] “Crescer para aumentar a densidade eleitoral, ou seja, essa ideia básica de aumentar a quantidade para na rodada eleitoral seguinte você maximiza as chances das conquistas de votos. Tem uma lógica nas eleições de que os candidatos para proporcionais do estado, ou seja, deputado federal, estadual, esse perfil depende muito das bases dos municípios. Eles dependem muito do leque de aliança com os prefeitos. Sendo assim, prefeituras maiores onde o prefeito entra no partido, consequentemente subentende-se que o prefeito vai conseguir repassar mais votos, porque aí é uma troca”, explica Paranhos. Um mandatário, segundo Paranhos, quando convida um político para o seu partido em período eleitoral, como é caso do governador Renan Filho e do senador Renan Calheiros, a um ano das eleições, está pensando em voto, mas o prefeito necessita de algo em troca, principalmente quando o período eleitoral vislumbrar a eleição e reeleição de prefeitos e vereadores em 2020. “O PMDB é um partido que mais conquistou prefeituras na eleição de 2016. É o maior partido. Quando você olha para o Estado de Alagoas, é o partido do governo. E ainda há essa relação entre governo do estado e prefeitos, onde prefeitos tende a depender num certo grau do governador. Não que o cara da oposição não consiga nada, sempre consegue. Mas, o prefeito do partido tende a conseguir mais”, ressalta o cientista político consultado pela Tribuna. SEM RISCOS No campo da oposição, o atual secretário Municipal de Saúde, José Thomaz Nonô, presidente do DEM em Alagoas, garante que a base do partido permanece sólida. [caption id="attachment_18033" align="aligncenter" width="300"] Ranulfo Paranhos comenta que os gestores municipais já vislumbram a reeleição em 2020; Nonô garante que o DEM não corre riscos (Fotos: Sandro Lima / Montagem: Tribuna Independente)[/caption] “O DEM, a rigor, tem dois prefeitos no estado e vieram para o partido além do vinculo pessoal, também pela certeza absoluta de que ninguém lhe tomaria do partido. São eles: os prefeitos de São Miguel dos Campos [Pedoca] e o de Canapi [Zé Hermes Filho]. Não temos possibilidade dessas perdas”, assegura Nonô. Que já exerceu o cargo de vice-governador de Alagoas na gestão Teotonio Vilela Filho. Nonô ainda mantém a sua palavra ao acreditar que existe um acordo entre Teotonio Vilela e o senador Renan Calheiros para montar uma chapa para que ambos sejam eleitos para o Senado em 2018.