Política

Pistolagem em Batalha

Assassinato de líder dos Boiadeiro reacende confronto entre duas famílias que comandam a política na Bacia Leiteira

Por Carlos Victor Costa e Carlos Amaral com Tribuna Independente 10/11/2017 07h46
Pistolagem em Batalha
Reprodução - Foto: Assessoria
Conhecido como um dos homens mais temidos da região de Batalha, cidade sertaneja que fica a cerca de 150 km de Maceió, o vereador Adelmo Rodrigues de Melo, o “Neguinho Boiadeiro” (PSD) foi assassinado a tiros após deixar a Câmara de Vereadores e entrar em seu carro, na manhã de quinta-feira, 9 de novembro. A informação apurada pela reportagem da Tribuna Independente após a confirmação do crime, foi de que dois homens aguardavam a saída de Neguinho Boiadeiro e dispararam por diversas vezes em direção ao veículo do vereador. Boiadeiro tinha 61 anos e era presidente da Câmara de Vereadores do Município. Além dele, mais duas pessoas ficaram feridas após os disparos. São eles: Joaquim Lins “Pirauá”, de 55 anos, Policial Civil que seria segurança do vereador assassinado, e José Elson Oliveira da Silva, de 26 anos, apontado como assessor de Neguinho. REAÇÃO QUASE QUE IMEDIATA Ao receber a notícia do assassinato Neguinho Boiadeiro, seu filho, José Anselmo Cavalcante Melo, conhecido como Preto Boiadeiro, teria ido à residência de José Emílio Dantas, e efetuado disparos como revide à morte de seu pai. Esta é uma das linhas de investigação da Polícia Civil, que formalizou uma comissão para atuar no caso. O gerente da Polícia Judiciária da área do Sertão, delegado Cícero Lima será o responsável pelas investigações. Segundo o delegado Rômulo Monteiro, houve reação por parte de José Emílio, que ficou ferido com um tiro na região do ombro e foi encaminhado para o Hospital Geral do Estado (HGE), em Maceió. Em vídeos e fotos divulgados ontem, Zé Emílio, como é conhecido aparece sorrindo e acenando numa maca, mesmo baleado. José Emílio Dantas sendo transportado para Maceió (Foto: Reprodução)   Em meio à situação conflitante em Batalha, Preto Boiadeiro e Mércia Boiadeiro, viúva do vereador, concederam entrevista à imprensa e acusaram a família Dantas de ser os responsáveis pelo assassinato de Neguinho Boiadeiro. Preto chega a dizer que a polícia deve investigar a prefeita da cidade, Marina Dantas e Paulo Dantas, seu marido e ex-gestor do Município. Paulo é filho do presidente da Assembleia Legislativa do Estado, o deputado Luiz Dantas, do PMDB. CIDADE SITIADA A cidade de Batalha está sitiada. À reportagem da Tribuna Independente, o secretário-adjunto de Segurança Pública de Alagoas, Acácio Júnior, afirmou ter designado policiais para fazer a segurança das duas famílias: Dantas e Boiadeiro. Ele informou ainda que forças da polícia irão ocupar o município por tempo indeterminado e que até essa quinta-feira, o clima no município voltou a ser tranquilo. À imprensa, secretário-adjunto de Segurança Pública destacou que os dois suspeitos de terem executado Neguinho Boiadeiro estavam em Batalha no dia anterior ao crime. Ele explicou ainda que um inquérito será instaurado para apurar as circunstâncias do atentado que também deixou ferido o segurança do vereador - que seria policial civil -, além do segundo episódio envolvendo o filho de Neguinho Boiadeiro. Nenhuma linha de investigação, segundo o Acácio Júnior, está descartada. Ainda ontem, o presidente do Conselho de Segurança Pública de Alagoas (Conseg), juiz Maurício Brêda também se manifestou sobre o fato e cobrou apuração rigorosa. “O Conseg [Conselho de Segurança] quer uma apuração rigorosa neste caso. Vamos acompanhar todo o processo de investigação, cobrando as devidas responsabilidades”, destacou o magistrado. Município convive com confrontos entre Boiadeiro e Dantas há quase 20 anos O tiroteio que tomou conta da cidade de Batalha no final da manhã de ontem (9) é reflexo de uma briga familiar que já dura ao menos 18 anos entre os Dantas e os Boiadeiro. Em março de 1999, o então prefeito da cidade, José Miguel Rodrigues Dantas – conhecido como Zé Miguel – foi assassinado a mando de José Laércio Rodrigues de Melo – conhecido como Laércio Boiadeiro, sobrenome adotado pela família. A esposa de Zé Miguel, que era irmão do presidente da Assembleia Legislativa Estadual (ALE) Luiz Dantas (PMDB), Matilde Toscano, também foi assassinada. O motivo do assassinato que desencadeou a guerra familiar no Sertão alagoano teria sido disputa por terra e pelo poder de mando na cidade. Zé Miguel, sua morte em 1999 desencadeou rixa entre as famílias Dantas e Boiadeiro (Foto: Reprodução) Em 2012, Laércio Boiadeiro foi condenado a 35 anos de prisão em segundo julgamento, mas ficou apenas quatro anos detido e desde 2010 vive na cidade de Craíbas, segundo seu advogado Raimundo Palmeira, aguardando término do processo. O crime ocorreu num trecho da AL-220, próximo à cidade de Jaramataia. Até mesmo a Polícia Federal ajudou nas investigações. Mais três pessoas foram envolvidas no caso: Adelmo Rodrigues de Melo, o Neguinho Boiadeiro – morto ontem; o então vereador em Olho D’Agua das Flores, Paulo Fernando; e José Cícero Queiroz, conhecido como Ciço Fubuia, único a confirmar à polícia ter participado do crime. Ciço Fubuia disse que dirigiu a caminhonete Ranger, cedida por Adoniran Guerra, para a emboscada ao ex-prefeito a mando de Laércio Boiadeiro. O veículo foi apreendido na residência de Adoniran Guerra, em Arapiraca, à época superintendente municipal de transportes. MAIS MORTES Em 2013, José Anselmo Cavalcanti de Melo e José Márcio Cavalcanti – conhecidos como “Irmãos Boiadeiro” e filho do vereador Neguinho Boiadeiro – foram acusados de matar, em 2006, Samuel Theomar Bezerra Cavalcante e o sargento reformado da Polícia Militar de Alagoas, Edvaldo Joaquim de Matos, cunhado e segurança, respectivamente, do prefeito de Batalha à época, Paulo Dantas, filho do deputado estadual Luiz Dantas. Além dos irmãos, também são acusados de participar do crime Thiago Ferreira dos Santos, o “Pé de Ferro”, e José Marcos dos Santos, “o Tigrão”. Até hoje eles não foram julgados pelo crime e estão em liberdade. Porém, outro Boiadeiro também foi indicado como partícipe do crime. Em 2006, uma operação conjunta, envolvendo as polícias Militar e Civil e o Núcleo de Combate ao Crime Organizado (NCCO) foi à casa de Neguinho Boiadeiro em busca de Emanoel, seu sobrinho. Em 2016, Emanoel foi morto durante operação policial na cidade de Belo Monte. Segundo Raimundo Palmeira, advogado da família, Emanoel chegou a confessar ter atirado em Samuel Theomar Bezerra Cavalcante e em Edvaldo Joaquim de Matos. VINGANÇA? A prefeita de Batalha, Marina Dantas (PMDB), foi acusada por Antônio Silvino dos Santos de ser a mandante da morte de seu filho José Marcos Silvino dos Santos, em junho deste ano na cidade de Arapiraca. Marina é nora do deputado estadual Luiz Dantas. De acordo com Antônio Silvino, em entrevista a uma rádio de Arapiraca, seu filho José Marcos estava com Emanoel Boiadeiro na ocasião da morte de Samuel Theomar Bezerra Cavalcante e Edvaldo Joaquim de Matos. Samuel era irmão da prefeita de Batalha. Antônio Silvino garantiu que seu filho não atirou em ninguém. Após a morte do filho, Antônio Silvino afirmou, em depoimento à polícia, que saiu de Batalha por causa de ameaças. “Fomos motivados pelas ameaças que recebíamos desde o ocorrido em 2006, quando do homicídio do segurança do prefeito Paulo Dantas, o sargento reformado da Polícia Militar, Edvaldo Joaquim de Matos, e do seu cunhado, Samuel Theomar Bezerra Cavalcante, irmão da sua esposa e atual prefeita de Batalha, Marina Dantas”.