Política

Vereador é acusado de crime eleitoral

Antonio Hollanda prestou depoimento à Polícia Federal sob a acusação de compra de votos na eleição de 2016

Por Carlos Amaral e Carlos Victor Costa 02/11/2017 07h53
Vereador é acusado de crime eleitoral
Reprodução - Foto: Assessoria
O vereador por Maceió Antonio Hollanda (PMDB) foi conduzido coercitivamente na última quarta-feira (1°) para a sede da Polícia Federal (PF), em Alagoas, para prestar depoimento por suspeita de compra de votos na eleição de 2016.

A PF constatou que uma clínica médica e odontológica foi instalada na sede da Organização Não Governamental (ONG) para o Desenvolvimento de Maceió, a Pense Maceió, localizada no bairro do Vergel, umas das regiões mais pobres da capital. A investigação diz respeito a uma suposta troca de prestação de serviços por votos, no qual Antonio Hollanda, foi o maior beneficiário.

A Pense Maceió foi fundada, segundo seu Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), em 3 de junho de 2016, às vésperas da campanha eleitoral do ano passado.

Em coletiva realizada também na última quarta-feira, os delegados Bernardo Gonçalves – superintendente da PF no estado –, e Daniel Silvestre, delegado da Polícia Federal, falaram sobre a operação batizada com o nome da ONG. Seis mandados de busca e apreensão expedidos pela 3ª Zona Eleitoral do Estado de Alagoas foram cumpridos. A operação ocorreu após inquérito instaurado por requisição do Ministério Público Eleitoral.

Depoimentos de moradores do bairro do Vergel do Lago foram fundamentais para o andamento da operação. “Eles revelaram que, de fato, o consultório instalado nesse local era utilizado para fins eleitoreiros. O funcionamento desse consultório se dava na sede da ONG, que é presidida por pessoas que são vinculadas ao vereador e outro político parente desse vereador”, diz o superintendente da PF em Alagoas.

O vereador Antonio Hollanda (PMDB) pode chegar a perder o mandato caso o MP Eleitoral acate a denúncia embasada no inquérito instaurado pela Polícia Federal. A reportagem tentou contato com o vereador, mas não obteve sucesso.

O delegado Daniel Silvestre revelou ainda que a presidente da ONG é assessora parlamentar do vereador Antonio Hollanda. Disse também que o tesoureiro da instituição seria assessor parlamentar de um político que é parente do vereador.

A partir destas informações, a reportagem da Tribuna Independente apurou que Anízia Maria de Araujo Freire, nomeada assessora parlamentar do gabinete do vereador em janeiro deste ano, é a presidente da Pense Maceió. De acordo com o Diário Oficial do Município (DOM), portaria GP 006/17, ela está lotada como Assessora Parlamentar de Gabinete III, CCPG3.

A reportagem tentou contatar Anízia Freire, mas os telefones vinculados à Pense Maceió não atenderam às ligações. Um deles, de telefonia celular, foi passado como sendo de Eduardo Ferreira da Silva Junior, o Dudu, também nomeado na mesma portaria de Anízia Freire. Sua tipificação é Assessor Parlamentar de Gabinete I, CCPG1. Ele é tido como principal assessor de Antonio Hollanda.

Já o tesoureiro da Pense Maceió seria lotado no gabinete do filho de Antonio Hollanda, o deputado estadual Dudu Hollanda (PSD). O nome do tesoureiro não foi informado pelos delegados da Polícia Federal.

“Coincidências” entre as organizações

Existem ao menos três ONGs com o mesmo padrão de nome e atividade em Alagoas. Além da Pense Maceió, há a Pense Alagoas e a Pense Brasil. As razões sociais de todas elas são “Fórum para o Desenvolvimento”; uma “para o Estado de Alagoas”; e a outra “Para a Barra de São Miguel – Pense Brasil”.

A reportagem da Tribuna Independente apurou que a Pense Alagoas também possui ligação com os Hollanda. Postagens em redes sociais comprovam a relação, inclusive, com o vereador Antonio Hollanda, que é médico, realizando atendimentos. O deputado Dudu Hollanda (PSD) já fez inúmeras postagens enaltecendo o trabalho das ONGs Pense Alagoas e Pense Maceió.

A terceira ONG tem vinculação com o prefeito de Barra de São Miguel, José Medeiros Nicolau (PMDB), conhecido como Zezeco, que, aliás, foi apoiado por Dudu Hollanda em sua primeira eleição, em 2012.

A Pense Alagoas tem sede no Benedito Bentes e foi criada em fevereiro de 2014, ano eleitoral. Já Pense Maceió tem sede no Vergel do Lago, enquanto que a Pense Brasil está situada na Barra de São Miguel.

A reportagem da Tribuna Independente contatou um dos membros da Pense Alagoas, conhecido como “Markinho da Ong”. Questionado se teria relação com os Hollanda e se fazia parte da instituição, num primeiro momento negou fazer parte da Organização, finalizando a ligação, dizendo que só falava através de seu advogado.

Institutos também têm raio de atuação em conjuntos na parte alta de Maceió

A Pense Maceió foi declarada como instituição de utilidade pública municipal pela Câmara de Maceió no dia 23 de março deste ano. Já a Pense Alagoas, desta vez pela Assembleia Legislativa do Estado (ALE), em maio de 2016. Em abril de 2016, a Pense Alagoas foi contemplada com R$ 300 mil em emendas parlamentares da ALE. O vereador Antonio Hollanda possui o instituto batizado com seu nome com unidades nos conjuntos Rosane Collor e Frei Damião, ambos na parte alta de Maceió, criados em época pré-eleitoral.