Política

Dallagnol: "Na terra da impunidade, a Lava Jato parece uma árvore frondosa"

Procurador participou do 1° Congresso Brasileiro da Escola de Altos Estudos Criminais, realizado na Zona Sul da capital paulista

Por G1 SP 26/08/2017 18h42
Dallagnol: 'Na terra da impunidade, a Lava Jato parece uma árvore frondosa'
Reprodução - Foto: Assessoria
O procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato no Paraná, defendeu a operação em evento em São Paulo neste sábado (26). “Na terra da impunidade, a Lava Jato parece uma árvore frondosa. Mas é uma árvore frondosa que floresceu no deserto", disse.

A afirmação foi feita durante o 1° Congresso Brasileiro da Escola de Altos Estudos Criminais, realizado na Zona Sul da capital paulista. Durante o evento, ele apresentou alguns resultados da operação. "Existe um compromisso de devolução de mais de R$ 10 bilhões; R$ 1 bilhão já foram devolvidos."

Dallagnol destacou o que, para ele, são as condições que propiciam a corrupção. "No cenário brasileiro, duas [condições] se destacam com folga: a primeira dela é a impunidade. Nós somos o paraíso da impunidade. E a segunda são falhas no sistema político.”

Segundo ele, a corrupção é um crime “difícil de descobrir” e, quando se descobre, “é difícil de comprovar por causa da lavagem de dinheiro”. O procurador também criticou as penas baixas a esse tipo de crime e a prescrição –principalmente quando o acusado é poderoso. “O sistema favorece a anulação de casos envolvendo réus ricos e poderosos.”

O procurador afirmou que “a Lava Jato rompeu esta impunidade”. Ele citou três motivos: “Novo modelo de investigação, apoio da população e uma série de sortes”. Entre as “sortes“, citou os “bons juízes” que julgam os processos resultantes da operação.

Revisão do STF

Dallagnol também expressou preocupação na possibilidade de que o STF revise a decisão de autorizar a prisão após condenação em 2ª instância. “Algo que contribuiu muito para a Lava Jato foi a possibilidade de execução provisória da pena. Por isso nos preocupa muito a revisão de posicionamento do Supremo Tribunal Federal.”

Opinião semelhante apresentou, mais cedo, no mesmo evento, o juiz federal Sérgio Moro. "Seria, com todo respeito ao Supremo Tribunal Federal, seria muito triste, que a meu ver a principal reforma geral da lei processual nos últimos anos fosse alterada por uma decisão do supremo". "Essa foi a mudança fundamental nos nossos últimos anos no que se refere ao processo penal", argumentou.

'Enxugar gelo'

Horas antes, em um congresso de economia em Campos do Jordão, no interior paulista, Dallagnol disse que “a Lava Jato, sem mudanças mais profundas, é enxugar gelo". Ele afirmou que a operação é um diagnóstico do problema que o país enfrenta e acrescentou esperar que ela gere resultados efetivos no combate à corrupção e na diminuição da impunidade no país.

"A Lava Jato transformará nosso país? Difícil. A Lava Jato é fruto da coragem, mas é o primeiro passo. Não podemos adotar a teoria da maçã podre. Não basta jogar a maçã podre fora. Temos que melhorar a produção dela para que durem mais", disse.

Durante sua palestra, que durou cerca de 40 minutos, Dallagnol ainda defendeu que seja feita uma reforma política como medida para combater a corrupção, mas criticou as mudanças atuais propostas pelo governo.

"Temos a reforma política como alternativa. Não a que estão propondo, porque essa muda algumas coisas para no fim ficar do mesmo jeito. Renovação política é questão de saúde do nosso sistema e sobrevivência da Lava Jato", disse.

O coordenador da Lava Jato foi um dos palestrantes do 8° Congresso Internacional de Mercados Financeiros e de Capitais, organizado pela B3. Ele participou de um painel sobre as consequências econômicas e políticas da Lava Jato ao lado do economista Eduardo Giannetti e do senador Ronaldo Caiado (DEM).