Política

Vaccarezza e outros dois presos na Lava Jato fazem exames no IML

Ex-deputado, operador financeiro e ex-gerente da Petrobras foram presos na sexta-feira (18), em duas fases conjuntas da operação que investiga crimes na estatal

Por G1 19/08/2017 11h39
Vaccarezza e outros dois presos na Lava Jato fazem exames no IML
Reprodução - Foto: Assessoria

O ex-deputado Cândido Vaccarezza, o operador financeiro Henry Hoyer de Carvalho e o ex-gerente da Petrobras Márcio Albuquerque Aché Cordeiro, presos na Operação Lava Jato, fizeram exames de corpo de delito no Instituto Médico-Legal de Curitiba, na manhã deste sábado (19).

As prisões temporárias (válidas por cinco dias) foram determinadas pelo juiz federal Sérgio Moro e cumpridas na sexta-feira, na 43ª e na 44ª fases da Operação Lava Jato.

Vaccarezza, Carvalho e Cordeiro seguiram para a carceragem da Polícia Federal, no bairro curitibano Santa Cândida, onde seguem presos. As defesas dos três negam participação nos crimes relacionados à Petrobras.

Principais pontos das investigações

Ações apuram o favorecimento de empresas estrangeiras em contratos com Petrobras. Operação Abate investiga fraudes no fornecimento de asfalto para a Petrobras por uma empresa norte-americana, entre 2010 e 2013. Funcionários da Petrobras, o PT e, principalmente, Cândido Vaccarezza teriam recebido propinas que somam US$ 500 mil no esquema da Abate. Operação Sem Fronteiras investiga o pagamento de propinas para contratação de armadores (transportadores marítimos) da Grécia, entre 2009 e 2013. Ao menos 3% dos contratos com as empresas gregas, que superaram US$ 500 milhões, seriam propina para políticos, funcionários da estatal e operadores financeiros. As investigações surgiram da delação do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.

Operação Sem Fronteiras

Segundo a PF, o foco da Sem Fronteiras é a relação ilícita entre executivos da Petrobras e grupo de armadores gregos para obter contratos milionários com a empresa brasileira.

As investigações tiveram início a partir de relato do colaborador e ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e se desenvolveram com a análise de materiais apreendidos na 13ª fase da operação.

Os procuradores dizem que Costa ajustou com o cônsul honorário da Grécia no Brasil, Konstantinos Kotronakis, um esquema de facilitação de contratação de navios gregos por meio do fornecimento de informações privilegiadas e o pagamento de propinas.

A força-tarefa da Lava Jato chegou a pedir a prisão do cônsul honorário da Grécia, mas o juiz Sérgio Moro indeferiu.

"Relativamente a Konstantinos Georgios Kotromakis, embora sejam cabíveis tanto a prisão preventiva como a temporária, resolvo substituir as medidas mais drásticas por cautelares alternativas. Afinal, Konstantinos Georgios Kotromakis é cônsul honorário da Grécia no Brasil", explicou Sérgio Moro. O cônsul não pode deixar o país, nem a cidade de residência e deve entregar os passaportes.

A defesa Konstantinos e Georgios Kotronakis disse que os clientes têm total interesse em esclarecer os fatos e contribuir com o trabalho da Justiça.

Operação Abate

A outra é a Operação Abate, que mira um grupo criminoso que era apadrinhado por Cândido Vaccarezza, cuja influência era utilizada para a obtenção de contratos da Petrobras com empresa estrangeira. Nesta relação criminosa, recursos foram direcionados para pagamentos indevidos a executivos da estatal e agentes públicos e políticos, além do próprio ex-parlamentar, segundo a PF.

Essa investigação trata do fornecimento de asfalto para a Petrobras pela empresa norte-americana Sargeant Marine, que também teve início a partir do relato Costa. Foram colhidas provas adicionais a partir de buscas e apreensões da 1ª e da 16ª fases da operação Lava Jato, além de resultados de quebra de sigilo bancário, fiscal e telemático e de pedidos de cooperação internacional.

As provas apontam que Cândido Vaccarezza utilizou a influência decorrente do cargo em favor da contratação da Sargeant Marine pela Petrobras e que isso culminou na celebração dos contratos, entre 2010 e 2013, no valor de aproximadamente US$ 180 milhões, segundo os procuradores.

As duas etapas investigam os crimes de corrupção, desvio de verbas públicas e lavagens de ativos identificados em contratação de grandes empresas com a Petrobras.

A prisão temporária tem prazo de cinco dias e pode ser prorrogada pelo mesmo período ou convertida para preventiva, que é quando não há prazo para deixar a carceragem.

Perfil de Cândido Vaccarezza

Cândido Elpídio de Souza Vaccarezza, 61 anos, foi duas vezes deputado estadual em São Paulo e outras duas deputado federal. Nos quatro mandatos era filiado ao PT. Em Brasília, foi líder do governo dos ex-presidente Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff. Ganhou fama de articulador hábil e ecumênico, com trânsito nas banc adas de partidos que tradicionalmente fazem oposição ao PT.

Vaccarezza ganhou espaço nas articulações do PT em Brasília a partir do vácuo provocado derrocada do ex-ministro José Dirceu, com o escândalo do mensalão, em 2005.

Apesar da carreira política construída em São Paulo, Vaccarezza nasceu na Bahia. Natural de Senhor do Bonfim (BA), iniciou a militância política no movimento estudantil. Participou da União Nacional dos Estudantes (UNE) e concluiu o curso de medicina na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atuou nos primórdios do PT em seu estado e migrou para São Paulo, na década de 1980, para fazer a residência médica. Fixou a nova morada e, a partir dos anos 2000, conquistou seus mandatos eletivos

Ex-secretário da Cultura Esportes e Lazer da cidade de Mauá (SP), chegou à Assembleia Legislativa como suplente. Em 2001, assumiu cadeira na Casa em razão de parlamentares petistas que ocuparam secretarias na gestão de Marta Suplicy na prefeitura de São Paulo. Em 2002, Vaccarezza ganhou a vaga de titular nas urnas. Em 2006 e 2010, elegeu-se deputado federal. Tentou um terceiro mandato em 2014, mas não conseguiu a nova reeleição.

O fracasso nas urnas acelerou o distanciamento de Vaccarezza do PT e ampliou as críticas dirigidas pelo político ao governo de Dilma Rousseff. Ele deixou o partido em 2016, após 35 anos de militância. Na oportunidade, anunciou apoio ao candidato do PRB à prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno.

Disposto a reconquistar o mandato, Vaccarezza filiou-se ao PTdoB e assumiu o diretório estadual da legenda, que recentemente mudou de nome para Avante.

Outras suspeitas contra Vaccarezza

7 de março de 2015

STF divulga lista e autoriza investigação contra 47 deputados mencionados em delações premiadas na Operação Lava Jato. O nome de Cândido Vaccarezza aparece pela primeira vez como suspeito por desvio de recursos da Petrobras.

17 de junho de 2015

Vaccarezza foi à Polícia Federal depor sobre acusações de que teria recebido propina quando atuava na Petrobras. Na ocasião, o petista afirmou que as acusações contra ele eram inconsistentes.

3 de setembro de 2015

Polícia Federal conclui investigações contra Vaccarezza e afirma que haviam indícios de que Alberto Youssef, ex-doleiro do PP, pagou propina ao ex-deputado petista durante campanha eleitoral de 2010.

12 de janeiro de 2016

Em sua delação premiada, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró relata que foi indicado à diretoria financeira da BR Distribuidora por gratidão do PT com ele, após reunião com Vaccarezza e outros políticos.

15 de março de 2016

TRE-SP rejeita contas da campanha eleitoral de 2014 de Cândido Vaccarezza. Segundo o tribunal, o petista deixou de informar despesas realizadas que foram encontradas pela Justiça Eleitoral.

15 de junho de 2016

Delator da Lava Jato, o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado afirmou aos investigadores que Vaccarezza recebeu R$ 500 mil de propina desviada da Petrobras.

12 de abril de 2017

Relator da Lava Jato no STF, o ministro Edson Facchin pede abertura de inquérito contra Cândido Vaccarezza e mais 38 deputados. A suspeita é de que o ex-deputado do PT tenha pedido propina à Odebrecht em troca da aprovação de um investimento pela Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil.

O que diz a defesa de Vaccarezza

A defesa de Cândido Vaccarezza, por meio do advogado Marcellus Ferreira Pinto, esclarece, em nota, que:

"Cândido Vaccarezza nunca intermediou qualquer tipo de negociação entre empresas privadas e a Petrobras. A prisão foi decretada com base em delações contraditórias, algumas já retificadas pelos próprios delatores. A busca e apreensão excedeu os limites da decisão judicial, confiscando valores declarados no imposto de renda e objetos pertencentes a terceiros sem vínculo com a investigação. A defesa se manifestará nos autos e espera que a prisão seja revogada e as demais ilegalidades corrigidas."