Política

Esquerda se divide por "sangria" de Michel Temer

Partidos podem se beneficiar eleitoralmente com instabilidade política no país

Por Tribuna Independente 12/08/2017 09h00
Esquerda se divide por 'sangria' de Michel Temer
Reprodução - Foto: Assessoria

Com mais de 90% de rejeição popular e graves acusações de corrupção passiva, Michel Temer (PMDB) mantém-se à frente da República. A esquerda, por sua vez, ainda é defensora da queda de Temer, além de bradar por eleições diretas. No entanto, os partidos e suas tendências em Alagoas estão se dividindo entre a permanência do peemedebista “sangrando” no governo e sua saída.

Para os partidos, a instabilidade política e econômica do governo Temer é mote para discurso de campanha eleitoral em 2018. O presidente do PT em Alagoas, Ricardo Barbosa, entende que essa análise de seguir  “aturando o Temer”  para pode usar o discurso de que avisou o quanto a manutenção dele seria um retrocesso ao país, não possa ser levada como prioridade para o processo eleitoral.

Por outro lado, Barbosa analisa que quanto mais o presidente permanecer no governo praticando “erros e ferindo a classe trabalhadora”, haverá  benefício a esquerda por ter um programa alternativo.

“É claro que vai haver desgaste, isso é uma consequência natural. Então isso acaba fortalecendo o discurso e a narrativa dos partidos de esquerda em 2018”, complementa Barbosa.

O representante de outro partido de esquerda em Alagoas, Gustavo Pessoa (PSOL), explica que essa vertente política é é muito heterogênea atualmente. Ele acredita que há setores na esquerda que entendem que essa seria uma estratégia mais adequada na medida em que se trata de um governo muito impopular e que tende a se tornar mais impopular até a eleição, mas que o PSOL enxerga diferente.

“As reformas são profundamente impopulares, então esse seria o candidato mais fácil de ser batido. Então, nesse momento e nesse contexto existem setores da esquerda que enxergam isso. Mas, nós do PSOL enxergamos que a luta contra o Temer é fundamental contra essa agenda de reformas”.

De acordo com Pessoa, num momento conturbado como esse que a política brasileira vem vivendo se abre a oportunidade para figuras que representem o novo surjam.

PSDB E DEM

Peemedebista tem rejeição até em sua base

Outro partido contrário ao governo Michel Temer é o PDT, de Ronaldo Lessa. O deputado federal explicou que “aturar” Temer na presidência até 2018 poderia causar mais prejuízos ao país.

 Ronaldo Lessa afirma que Temer é prejudicial; Ranulfo Paranhos analisa cenário para o próximo ano (Divulgação e Sandro Lima)

 

“Não vamos fazer esse sacrifício para o país nem contra o povo brasileiro, para ganhar a eleição. Isso é de quem não tem compromisso ético com a política. Você ter um ano e meio de prejuízo no país para poder ganhar uma eleição não é correto”, analisa Lessa.

Já a presidente do PCdoB em Alagoas, Cláudia Petuba também defende que a esquerda não é homogênea e que por isso pode ter ideias diferentes.

“Nós compreendemos que o Temer à frente da presidência coloca em prática uma agenda de retrocesso para os brasileiros. Desde o primeiro momento que nós alertávamos de que o que poderia acontecer com a presidente Dilma poderia ser um golpe e veio a se concretizar a gente sabia que não era nada contra a Dilma, mas sim contra a agenda programada que os governos do PT vinham tendo para implementar no país”, avalia Petuba.

MOBILIZAÇÕES

A reportagem da Tribuna Independente ouviu também a diretora da Central Única dos Trabalhadores, Emanuelle Wanderley, para saber os motivos de não haver mais mobilizações e se isso seria um reflexo de uma estratégia eleitoral para o renascimento da esquerda. Ela disse que os movimentos, mesmo que internamente, vêm acontecendo e que os sindicatos defendem a imediata saída do presidente da República.

“A CUT entende que a melhor saída agora é realmente a queda do golpista. Esse governo representa uma ameaça forte aos direitos da classe trabalhadora. Já tivemos várias atividades, algumas greves gerais durante o ano. Estamos construindo um movimento e não estamos parados. Só não tem como fazer greve todos os dias, pois complicaria ainda mais a condição do trabalhador”, informa.

ESTRATÉGIA

O cientista político, Ranulfo Paranhos, avalia que a possível estratégia da esquerda seguir “aturando o Temer” na presidência só daria certo se existisse apenas uma esquerda. Paranhos entende que há uma fragmentação, uma esquerda mais purista, que aposta numa saída do presidente, a exemplo de um segmento mais racional que prefere a permanência do peemedebista até 2018.

“Não vou chamar de esquerda. Vou chamar de oposição mais racional, é essa postura que o próprio Lula defende. Ou seja, vamos deixar ele [Michel Temer] sangrar porque fica mais fácil chegar em 2018 com um presidente sangrando, que não conseguiu ajeitar a casa, que a economia continua com alta taxa de desemprego. E a ideia do sangrar é do Aloysio Nunes, quando ele disse que queria que o governo Dilma sangrasse até 2018 para não voltar nunca mais. E era uma lógica que se esperava da oposição do governo Dilma naquele momento”.

A análise do cientista político é de que o PMDB dificilmente fará um sucessor de Temer devido aos casos de corrupção envolvendo a maioria dos seus membros. A mesma regra pode valer para o PSDB, principal aliado do governo, que também viu despencar a popularidade de seus presidenciáveis. “Contando ainda a insistência de Temer em continuar no cargo, afundando sua imagem, de seu partido e dos aliados”, completa.

“Qual o grande xis da questão? É que o governo Temer sangrando não faz muita diferença em 2018 por dois motivos: ou seja, o Temer não é candidato. Questão número dois, Michel Temer não vai subir no palanque de ninguém. Não é significativo. Você tem estrutura para alguns partidos, ministérios, mas, por exemplo, o DEM já sinalizou que vai lançar candidato à presidência da República e vai rachar uma aliança com o PSDB histórica. Você tem um candidato possível do PSDB. Ou seja, a própria base lançará candidatos. E o Temer não será candidato e o próprio PMDB é rachado hoje, a tal ponto que não consegue fazer uma oposição muito mais forte ou muito mais séria a qualquer outro candidato da base do governo”, finaliza Paranhos.