Política

Ex-prefeito é acusado de ocultar patrimônio adquirido com dinheiro público

Para Polícia Federal, Cristiano Matheus (PMDB) chefiou uma organização criminosa composta por 14 pessoas

Por Tribuna Independente 21/07/2017 08h12
Ex-prefeito é acusado de ocultar patrimônio adquirido com dinheiro público
Reprodução - Foto: Assessoria

O ex-prefeito de Marechal Deodoro, Cristiano Matheus (PMDB), é suspeito de chefiar uma organização criminosa, composta por 14 pessoas, que teria desviado R$ 6 milhões de programas educacionais, a exemplo do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), entre 2011 e 2014. Por isso, ele e os demais foram alvo da operação Astaroth, da Polícia Federal (PF), na manhã de ontem (20), realizada também em Pernambuco e no Maranhão, com 14 mandados de busca e apreensão e sequestro de bens.

Os mandados foram expedidos pela 2ª Vara Federal de Alagoas. No estado, os mandados foram cumpridos em Marechal Deodoro, Pão de Açúcar , Santana do Ipanema e Maceió, no apartamento onde reside Cristiano Matheus, na Ponta Verde.

Suspeita-se que o ex-prefeito seja dono de três postos de combustível – um em Marechal Deodoro e os demais no Maranhão –, e que também seja proprietário de imóveis e automóveis, tudo em nome de “laranjas”.

Em entrevista coletiva, o superintendente da PF em Alagoas, Bernardo Gonçalves – ao lado do delegado Fábio Maia, superintendente adjunto; e do delegado Márcio Tenório, da PF em Pernambuco – relatou a apreensão de quatro carros, uma moto, onze mil euros, uma arma de fogo, computadores e documentos durante o cumprimento de nove, dos catorzes mandados cumpridos até o final da manhã de ontem.

Delegados da PF em coletiva para explicar operação Astaroth (Foto: Sandro Lima)

 

“Foram 25 equipes, com 100 agentes da PF de quatro superintendências: Maranhão, Pernambuco, Alagoas e Sergipe para cumprir todos os mandados”, explica Bernardo Gonçalves.

A PF solicitou a condução coercitiva dos suspeitos, mas a Justiça negou o pedido.

“A suspeita é que os R$ 6 milhões desviados foram usados para comprar imóveis e montar empresas, em nome de terceiros”, explica Bernardo Gonçalves.

Cristiano chegou a ser afastado do mandato

Ainda em setembro de 2016, já no término de sua passagem à frente da Prefeitura de Marechal Deodoro, Cristiano Matheus foi afastado do mandato por suspeita de desviar recursos do Fundeb, do Programa Nacional de Transporte Escolar (PNATE) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) – além de contratos de reconstrução da orla lagunar da cidade – em ação impetrada pelo Ministério Público Federal (MPF).

A operação Astaroth é resultado da ação do MPF, que se baseou em auditoria da Controladoria Geral da União (CGU).

O superintendente da PF em Alagoas, Bernardo Gonçalves, destacou o afastamento de Cristiano Matheus durante a entrevista coletiva de ontem.

A reportagem tentou contatar o ex-prefeito de Marechal Deodoro, mas seu telefone celular estava desligado.

“Todos os membros do esquema responderão por desvio de recursos públicos – como prefeito e de servidor público – fraude em licitações, lavagem de capitais e organização criminosa”, explica Bernardo Gonçalves, superintendente da PF em Alagoas.

Segundo ele, todos os envolvidos são alagoanos e apenas Cristiano Matheus já teve mandato eletivo.

“Um dos suspeitos já foi secretário municipal”, completa.

Na entrevista coletiva, a PF não forneceu os nomes dos envolvidos, nem mesmo de Cristiano Matheus, apesar de não se negar seu envolvimento.

“Pelo período do desvio dá para saber quem é o ex-prefeito”, comenta o superintendente da PF.

MPF apontou irregularidades em setembro

Em setembro de 2016, o MPF ajuizou três ações civis públicas contra Cristiano Matheus e mais 38 pessoas, além de 15 empresas, por atos de improbidade administrativa na Prefeitura de Marechal Deodoro. O dano ao erário, segundo a instituição, foi de pelo menos R$ 6 milhões.

As ações do MPF resultaram no afastamento dele do mandato de prefeito. À época, se pediu a indisponibilidade dos bens dos acusados e ressarcimento ao erário superior a R$ 100 milhões.

Segundo o MPF – e CGU – os ilícitos na Prefeitura de Marechal Deodoro foram encontrados em repasses de programas educacionais e contratos de restauração das orlas lagunar e marítima da cidade.

Além do prefeito, de acordo com o MPF, Flávia Célia dos Santos e Álvaro Otávio Vieira Machado, ex-secretários municipais de Educação; Norma Sandra Duarte Braga, ex-procuradora-geral adjunta; Diogo Santos de Albuquerque, procurador municipal em Marechal Deodoro; e José Albérico de Sousa Azevedo, pregoeiro e presidente da comissão de licitação, também faziam parte do esquema.

À época do ajuizamento das ações, o MPF apontou que “as irregularidades constatadas apontam para um desvio de mais de R$ 6 milhões de recursos públicos federais, no mínimo. Os desvios do transporte escolar alcançaram, no mínimo, o montante de R$ 5.533.385,21; da merenda, no mínimo, R$ 259.277,64; de obras públicas, pelo menos, o valor de R$ 646.537,60”, diz o site da instituição.

ASTAROTH

O nome da operação da PF, realizada ontem, é Astaroth: um demônio, cuja imagem é um homem nu com asas, mãos e pés de dragão, e outro par de asas com plumas. Ele seduz pela beleza e vaidade.

Segundo o escritor inglês Francis Barrett, Astaroth é o príncipe dos acusadores e inquisidores.