Política
JHC: “Temer não tem condições de governar”
Autor de um dos pedidos de impeachment, deputado diz que Brasil necessita de presidente com legitimidade
Logo que a delação da JBS direcionada ao presidente Michel Temer (PMDB) caiu como uma bomba no cenário político brasileiro, parlamentares de oposição deram início a pedidos de impeachment do peemedebista na Câmara dos Deputados. O deputado Alessandro Molon, do partido Rede-RJ, foi o primeiro a adotar a medida. Em seguida, o deputado federal alagoano João Henrique Caldas, o JHC (PSB), protocolou pedido semelhante. Cabe, agora, o presidente da Câmara, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) aceitar ou rejeitar pedidos de impeachment. JHC foi entrevistado pela reportagem da Tribuna Independente para tratar de um tema que volta à tona no Congresso Nacional um ano após o afastamento da então presidente Dilma Rousseff (PT). O deputado alagoano, que votou favorável ao impedimento da petista, deixou claro que mantém a sua linha de coerência ao defender a saída de Michel Temer, pois neste exato momento, o peemedebista não tem mais condições de governabilidade, bem como a sua base de aliados começa a ensaiar resistências à permanência de Temer no cargo ao qual foi alçado.
Tribuna Independente – Somente após a delação da JBS com o presidente Michel Temer como alvo principal que houve a necessidade de protocolar o pedido de impeachment na Câmara dos Deputados?
JHC – O fato de a delação da empresa JBS foi o mais forte e gerador deste pedido de impeachment do presidente Michel Temer. Pela gravidade dos fatos que já foram confirmados inclusive pelo Supremo Tribunal Federal (STF), dá garantias e substâncias legais para protocolar o pedido contrário à presidência de Michel Temer. Não tive dúvidas da forma em que procedi ao dar andamento ao pedido junto à presidência da Câmara dos Deputados. As informações que tive são precisas. Enquanto cidadão e deputado federal, me senti incomodado com a atual situação e na obrigação de me posicionar em decorrência de denúncias tão graves. E o remédio para isso é justamente o pedido de impeachment do presidente Michel Temer, que por sua vez, já perdeu qualquer condição de poder governar o país.
Tribuna Independente – O deputado acredita em celeridade nos pedidos de impeachment já feitos na Câmara Federal?
JHC – Espero que o quanto antes os pedidos sejam analisados pelo presidente da Câmara, o deputado Rodrigo Maia. Precisamos encontrar uma solução para mais este grave problema enfrentado pelo país e paralelo a este debate tratar aqui mesmo no Congresso Nacional em eleições diretas ou indiretas. Necessitamos realizar esta discussão aqui no Congresso Nacional com os mais variados partidos e líderes partidários, bem como com o Poder Judiciário e sociedade civil organizada. Temos que chegar a um consenso ou ao menos atender ao pleito do povo brasileiro para ter um governo com legitimidade direta.
Tribuna Independente – O impeachment é uma possibilidade real ou o presidente Michel Temer consegue reverter esta situação junto às suas bases no Congresso Nacional?
JHC – O clima no Congresso Nacional é pró-impeachment ou renúncia. A própria base aliada do presidente Michel Temer já admite a possibilidade de ele renunciar para caducar o processo de impeachment. Quanto à base aliada, o PSDB que dá sustentação ao governo Temer vem se reunindo e muitos parlamentares já cogitam deixar de prestar seu apoio ao governo. Partidos de oposição como Rede e PSOL também já estão se movimentando para pressionar pelo impeachment. O clima é de que o governo acabou e de pensar no próximo passo.
Tribuna Independente – Ao ser favorável ao impeachment da então presidente Dilma Rousseff, não era perceptível que o futuro governo de Michel Temer não estivesse envolto em escândalos, delações, entre outras acusações graves?
JHC – Claro. Era imaginário que o governo Michel Temer também estivesse envolvido em denúncias de corrupção. Eu votei em Marina Silva (que disputou à Presidência em 2014 pelo PSB). Sempre defendi que se houvesse a necessidade de votar favorável ao impeachment do presidente Michel Temer, assim o faria. Tanto é que protocolei um pedido na Câmara. Após a votação do impeachment da então presidente Dilma, fiz questão de deixar claro que eu não faria coro para o governo de sucessão. Há duas semanas, por exemplo, fiz uma provocação porque o presidente Michel Temer está interferindo na Comissão de Ética devido às diversas acusações que pesam contra ministros. Enquanto isso, o presidente da República segue em silêncio.
Tribuna Independente – Já iniciou um debate pela eleição direta no Congresso Nacional e a população também emana este pedido. O Congresso pode atender a este pleito?
JHC – A eleição direta seria a viabilidade para o país. Eu não sei se seria a solução mais rápida ou eficaz neste momento. Defendo as eleições diretas, no entanto, ainda não sei se esta proposta tem maioria aqui no Congresso Nacional. O que defendo é que o Brasil tenha alguém na Presidência com grau de legitimidade, que atualmente não tem. É preciso ter uma lei clara para tratar da eleição direta. É algo que está sendo estudado e analisado. Para se ter uma ideia da divergência de posições aqui no Congresso Nacional, muitos parlamentares aguardam como solução o julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) da chapa Dilma-Temer. Existe uma Proposta de Emenda à Constituição de autoria do deputado Miro Teixeira que já está em debate, porém, a PEC passa por um grande rito aqui na Casa e uma discussão ampliada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Ou seja, pode demorar ainda mais.
Tribuna Independente – A delação da JBS paralisa os planos do governo em aprovar as reformas trabalhistas e da previdência no Congresso Nacional?
JHC – A reforma trabalhista que já foi aprovada pela Câmara ainda vai passar pelo Senado. Neste momento de crise, as reformas defendidas pelo governo ficam paralisadas e fogem da ordem do dia de trabalho.
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