Política

Marqueteiro João Santana diz que decisões dependiam "da palavra final do chefe"

Ministro Edson Fachin, do STF, retirou nesta quinta o sigilo das delações premiadas de Santana e Monica Moura, que trabalharam nas campanhas eleitorais a presidente de Lula e Dilma

Por G1 11/05/2017 23h30
Marqueteiro João Santana diz que decisões dependiam 'da palavra final do chefe'
Reprodução - Foto: Assessoria
O marqueteiro João Santana afirmou em delação premiada à Procuradoria-Geral da República que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha conhecimento dos pagamentos "por fora" feitos à empresa dele no exterior.

Segundo João Santana, responsável pelas campanhas eleitorais a presidente de Lula em 2006 e 2010 e de Dilma Rousseff em 2014, o ex-ministro Antonio Palocci sempre afirmava que as "decisões definitivas" dependiam da "palavra final do chefe".

Santana disse ter participado de encontros com Palocci nos quais disse ter ficado "claro" que Lula "sabia de todos os detalhes, de todos os pagamentos por fora recebidos pela Pólis [a empresa de Santana]".

"Apesar de nunca ter participado de discussões finais de preços ou contratos - tarefa de MONICA MOURA - JOÃO SANTANA participou dos encaminhamentos iniciais e decisivos com ANTONIO P ALOCCI. Nestes encontros ficou claro que LULA sabia de todos os detalhes, de todos os pagamentos por fora recebidos pela Pólis, porque ANTONIO P ALOCCI, então Ministro da Fazenda, sempre alegava que as decisões definitivas dependiam da "palavra final do chefe”, diz trecho do documento da delação premiada de Santana.

Procurada, a assessoria do Instituto Lula afirmou: "Não vamos comentar declarações de pessoas que buscam benefícios judiciais. Delações, pela legislação brasileira, não são provas.

O advogado de Palocci, José Roberto Battochio, disse: “Primeiramente, não se conhece com precisão o exato teor dessa suposta delação. Independentemente disso, é certo que nessas ‘delações à la carte’ o cardápio que se apresenta para se oferecer liberdade é sempre o nome do ex-presidente e daquele que foi o principal ministro da Economia do nosso país. É o preço que está sendo cobrado pela liberdade impune”.

Nesta quinta-feira, o ministro Edson Facchin, relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, determinou a retirada do sigilo das delações premiadas do casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura. Os dois são investigados por indícios de terem recebido dinheiro de caixa 2 por trabalhos em campanhas eleitorais. O ministro também retirou o sigilo da delação de André Luis Reis Santana, funcionário do casal.

'Alerta vermelho'

Segundo João Santana afirmou na delação, "em momentos críticos de inadimplência" durante as campanhas, era ele quem dava o "alerta vermelho" com a ameaça de interrupção dos trabalhos.

De acordo com o relato do marqueteiro, em uma dessas ocasiões, na campanha de Lula à reeleição em 2006. Na ocasião, segundo o documento da delação, o ex-presidente acionou o ex-ministro Antonio Palocci, que "colocou a empresa Odebrecht no circuito".

Na delação, Santana disse que soube pela mulher dele, Monica Moura, que Palocci tinha "poder quase que absoluto" sobre o caixa 2 mantido pela empreiteira Odebrecht.

"ALERTAS VERMELHO" Em momentos críticos de inadimplência, durante as campanhas, era JOÃO SANTANA, que após tentativas frustradas de MONICA MOURA, dava o "alerta vermelho" a LULA - e depois a DILMA - ameaçando interromper os trabalhos. Este tipo de alerta foi feito com LULA, em duas ocasiões: no final do primeiro turno de sua reeleição e, especialmente, no intervalo entre o primeiro e segundo turno. Lula, então, pressionou ANTONIO P ALOCCI, então Ministro da Fazenda que colocou a empresa ODEBRECHT no circuito. Futuramente, JOÃO SANTANA soube por sua esposa MONICA MOURA, que ANTONIO P ALOCCI tinha poder quase que absoluto sobre o fundo de caixa dois do PT gerido pela ODEBRECHT", diz o texto.