Política

Deputados da base aliada articulam substituição do líder do governo na Câmara

André Moura (PSC-SE) não vê insatisfação do Planalto com o trabalho dele e atribui pressão à "disputa de espaço" entre partidos governistas; Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) é apontado como substituto.

Por G1 04/02/2017 12h28
Deputados da base aliada articulam substituição do líder do governo na Câmara
Reprodução - Foto: Assessoria

Passada a eleição para presidente da Câmara, que reconduziu ao posto Rodrigo Maia (DEM-RJ) para o período 2017-2018, uma parcela dos deputados governistas passou a defender a substituição do líder do governo na Casa.

Atualmente, o líder é André Moura (SE), do PSC, partido cuja bancada reúne 10 dos 513 deputados. Moura integra o chamado "Centrão", bloco informal de partidos conservadores articulado no início do ano passado pelo ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deputado cassado e atualmente preso em Curitiba por decisão do juiz Sérgio Moro, da Operação Lava Jato.

O líder do governo é o deputado que tem o papel de defender a posição do Palácio do Planalto na Câmara em relação às matérias em votação. A escolha cabe ao presidente da República.

Deputados governistas que querem a substituição de Moura defendem a indicação de Aguinaldo Ribeiro (PB), do PP, partido com uma bancada de 46 deputados. Ministro das Cidades no governo Dilma Rousseff, Ribeiro, também integrante do "Centrão", é o atual líder do PP na Câmara.

Segundo informou neste sábado (4) o Blog do Camarotti, a avaliação no Palácio do Planalto é que Moura já está "inviabilizado" como líder.

Mas interlocutores do presidente Michel Temer afirmam que uma eventual substituição só deve acontecer após a instalação da comissão especial que discutirá a reforma da Previdência, prioridade do governo para este ano.

A proposta de reforma prevê alterações nas regras de aposentadorias. A intenção do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é instalar a comissão na semana que vem.

Ao G1, Moura atribuiu a pressão para que seja substituído a uma disputa de poder.

“Não há insatisfação do Palácio nem do presidente com o meu trabalho, isso dito pelo próprio presidente da República várias vezes. Aprovamos todas as matérias que o governo tinha para aprovar durante o ano passado. O que está acontecendo é um jogo de disputa de espaço de alguns partidos políticos”, afirmou.

Ele afirmou ainda que não teve nenhuma indicação do Planalto de que poderá ser removido do cargo, mas que, se isso acontecer, respeitará a decisão.

Para alguns líderes aliados, a troca do líder do governo é necessária para que o posto seja ocupado por alguém com maior trânsito entre todas as legendas.

“Eu acho que deveria haver troca, sim, do líder do governo. Tinha que escolher alguém de outro partido da base, com mais interlocução. Considero que houve alguns problemas na condução do André Moura. Em alguns momentos, ele se ausentava do plenário e outros líderes da base tinham que assumir”, opinou o líder de um dos principais partidos aliados, ouvido sob a condição de anonimato.

Outra liderança engrossa o coro. “Eu acho que a troca é importante até para renovar. Teremos dois anos difíceis pela frente”, disse.

Para o líder do PSD, Marcos Montes (MG), uma mudança permitiria uma "oxigenação" do cargo. Ele entende, no entanto, que, se decidir pela troca, Temer terá de consultar os demais partidos da base governista.

“Essa é uma posição extremamente delicada e importante. Nós queremos ser ouvidos. O Aguinaldo é um excelente nome, mas outros partidos da base também têm que ser prestigiados. E o PSD, pelo que ele representa, está subrepresentado no governo”, avaliou. Atualmente, a sigla detém o Ministério da Fazenda e o Ministério da Ciência e Tecnologia e Comunicações.

Em entrevista ao jornal "O Globo" publicada neste sábado (4), Rodrigo Maia criticou André Moura e disse que "seria melhor" se o governo tivesse um líder "afinado" com o presidente da Câmara.

"Eu acho que produzo melhor com um líder mais afinado comigo. Não é o caso do André Moura. Mas é uma decisão do presidente", declarou Maia.

O deputado Carlos Marun (PMDB-MS), vice-líder do governo, defende a permanência de Moura por considerar que ele tem desenvolvido um bom trabalho. “Se houver troca, não terá sido por incompetência. Mas não sou um dos que estão tocando esse tambor a favor da troca”, disse.

Outro nome cogitado para o lugar de André Moura é o de Jovair Arantes (PTB-GO), que saiu derrotado na disputa pela presidência da Câmara.

O líder do PTB é outro integrante do “Centrão”. Se Aguinaldo Ribeiro for confirmado na liderança do governo, Jovair Arantes poderia ser contemplado com um ministério.

Isso porque ele conseguiu uma votação mais expressiva do que o esperado por Temer na eleição para presidência da Câmara – 105 votos contra 293 do vencedor Rodrigo Maia.

O resultado incomodou o governo e deu poder de barganha a Jovair e, consequentemente, ao Centrão. Nesta quinta, logo depois da eleição na Câmara, Jovair Arantes esteve reunido com Temer no Palácio do Planalto.

No caso de uma troca ministerial, com uma eventual nomeação de Arantes ou de alguém indicado por ele, o grupo facilitaria a aprovação das reformas propostas pelo Planalto no Congresso.