Política

Padilha concentrava arrecadações do PMDB na Câmara, diz delator

Segundo Cláudio Melo, Temer e Moreira Franco também comandavam núcleo do PMDB na Câmara. Os três negam afirmações de ex-diretor da Odebrecht

Por G1 10/12/2016 18h59
Padilha concentrava arrecadações do PMDB na Câmara, diz delator
Reprodução - Foto: Assessoria

Nas negociações para o acordo de delação premiada, o ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho afirma que o núcleo político organizado do PMDB na Câmara era historicamente liderado pelo presidente Michel Temer, quando ainda era deputado federal.

Esse núcleo era formado também por Eliseu Padilha, hoje ministro-chefe da Casa Civil e Moreira Franco, outro com cargo de destaque no Palácio do Planalto.

“Pelo que pude perceber ao longo dos anos, a pessoa mais destacada desse grupo para falar com agentes privados e centralizar as arrecadações financeiras é Eliseu Padilha, conhecido pelo codinome ‘primo’”, disse Cláudio nos termos de confidencialidade – espécie de pré-delação que antecede a assinatura do acordo com o Ministério Público Federal (MPF).

“Ele atua como verdadeiro preposto de Michel Temer e deixa claro que muitas vezes fala em seu nome. Eliseu Padilha concentra as arrecadações financeiras desse núcleo político do PMDB para posteriores repasses internos”, afirmou.

Eliseu padilha disse que a acusação é mentirosa e que não foi candidato em 2014. O ministro afirmou que nunca tratou de arrecadação para deputados ou para quem quer que seja.

Cláudio Melo Filho também disse às autoridades que Geddel Vieira Lima, de codinome “babel”, ex-secretário de governo de Temer, “também possui influência dentro do grupo, interagindo com agentes privados para atender seus pleitos em troca de pagamentos”.

O ex-diretor falou que na ocasião do aniversário de cinquenta anos de Geddel, em março de 2009, “demos, em nome da Odebrecht, um presente relevante a ele. Compramos um relógio Patek-Philippe, modelo Calatrava, que foi enviado juntamente com um cartão assinado por Emílio Odebrecht, Marcelo Odebrecht e eu”.

Cláudio anexou a foto do relógio ao acordo de delação.

Ele falou também das reclamações de Geddel. “Apesar dos pagamentos frequentes, sempre me disse que poderíamos ser mais generosos com ele. Geddel sempre me dizia que se considerava um ‘amigo da empresa’ e que isso precisava ser mais bem refletido financeiramente”, afirmou.

Cláudio diz que em 2006, a pedido de Geddel, foram realizados pagamentos por meio de contribuições oficiais e também pagamentos não declarados via caixa dois. “Os pagamentos realizados atingiram R$ 1 milhão aproximadamente”, disse. “Durante a disputa de Geddel ao cargo de governador da Bahia na campanha de 2010, a pedido de Geddel, solicitei e ocorreu um pagamento entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão”.

Geddel Vieira Lima informou que estranha qualquer citação do nome dele nessa delação e que as doações da Odebrecht foram declaradas na Justiça Eleitoral.

O ex-diretor também falou sobre a proximidade com Moreira Franco, conhecido pelo codinome “angorá”. “Eu conheço Wellington Moreira Franco há muitos anos, pois possuo parentesco distante com ele”, afirmou.

Cláudio lembra que, em algumas oportunidades, se reuniu com Moreira Franco para tratar sobre temas afeitos à aviação civil. Na época, Moreira era secretário da área.

Cláudio conta ainda que acredita que há uma ação orquestrada entre Moreira e Eliseu Padilha para captação de recursos para o seu grupo do PMDB, porque Moreira solicitou apoio de contribuição financeira, mas transferiu a responsabilidade pelo recebimento para Padilha.

O ministro Moreira Franco chamou de mentira o relato de Melo Filho e disse que jamais falou de política ou de recursos para o PMDB com ele.

O ex-diretor da Odebrecht afirmou que de forma mais recente, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de codinome “caranguejo”, ganhou bastante espaço dentro desse núcleo do PMDB, muito em razão do poder que tinha de influenciar seus pares, o que era uma poderosa moeda de troca na hora de negociar a sua atuação como parlamentar.

Cláudio apresentou uma planilha com 17 pagamentos para o ex-presidente da Câmara, totalizando R$ 10,5 milhões.

Também disse que, nas vezes em que se reuniu com Cunha sobre assuntos legislativos de interesse da empresa, sabia que os pagamentos feitos o “creditavam uma situação confortável e que seriam um elemento de atendimento às questões da Odebrecht”.

Uma das medidas provisórias que atendeu aos interesses da Odebrecht é a 613, de 2013. O texto do governo Dilma concedia desonerações tributárias aos produtores de etanol e à indústria química e petroquímica, áreas que a Odebrecht também atua. Parlamentares do PMDB ajudaram na aprovação da MP.

Em e-mails a Marcelo Odebrecht, Cláudio relata como estava a tramitação na Câmara e a ajuda que vinha recebendo de parlamentares, entre eles Eduardo Cunha.

Ele escreve "vencemos na comissão. Pancadaria geral!!! Perdi uma emenda que atendia a Agro, uma empresa da Odebrecht. Segue agora à tarde para plenário, devendo ser votada amanhã. Seguindo para o Senado. Ontem o carang (caranguejo, o codinome de Cunha), chegou em minha casa as 00h45... Pode imaginar isso!!!?? Dona Cláudia quase me mata!!! Vamos em frente!!!”

A defesa de Eduardo Cunha informou que só vai se manifestar depois de ter acesso à delação e lembrou que essa peça deveria ter seu sigilo resguardado pelo Ministério Público.