Polícia

Defesa de médica aguarda a revogação da prisão

Polícia Científica confirma que Alan Carlos foi morto com único disparo

Por Valdete Calheiros - colaboradora / Tribuna Independente 19/11/2025 07h42 - Atualizado em 19/11/2025 07h59
Defesa de médica aguarda a revogação da prisão
Médico Alan Carlos foi assassinado pela ex-companheira no domingo em frente a uma unidade de saúde - Foto: Divulgação

Enquanto aguarda o pedido de revogação da prisão ser analisado pela Justiça alagoana, a médica Nádia Tamyres, 38 anos, acusada de ter assassinado o ex-marido, o também médico Alan Carlos de Lima Cavalcante, está recebendo apenas a visita dos advogados de defesa. O pedido de habeas corpus pode ser deferido ou não, o que irá definir se a médica continuará presa ou será posta em liberdade.

Enquanto o advogado de defesa tenta colocar a acusada em liberdade, a Polícia Civil de Alagoas esteve na casa do ex-casal, em Arapiraca, e apreendeu duas armas de fogo. De acordo com informações do delegado Esron Pinho, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), uma equipe policial esteve no imóvel onde o casal morou quando ainda era casado, após autorização da defesa de Nádia Tamyres.

Uma das armas estava registrada no nome do médico Alan Carlos e a outra arma registrada no nome de Nádia Tamyres. Os modelos e calibres das armas não foram divulgados pela polícia. Ainda segundo o delegado, as armas são idênticas, e uma perícia criteriosa será feita nelas para determinar qual delas foi utilizada no crime. As armas serão encaminhadas ao Instituto de Criminalística para exames periciais.

Embora o veículo do médico Alan Carlos Lima Cavalcante tenha sido atingido por pelo menos oito tiros, ele foi morto por um único disparo de arma de fogo. A informação foi confirmada na tarde de ontem (18) pela Polícia Científica de Alagoas. A análise foi realizada no local do crime, no Povoado Capim, em Arapiraca, pelo perito criminal Israel Bezerra, do Instituto de Criminalística do Agreste. O perito identificou os impactos no automóvel e constatou que apenas um dos disparos alcançou a vítima, atingindo a região torácica.

O Instituto Médico Legal (IML) de Arapiraca confirmou a causa da morte após o exame cadavérico. De acordo com o perito médico legista Matheus Custódio, o projétil atingiu o pulmão direito, a artéria aorta ascendente e o átrio esquerdo. O projétil foi recuperado na musculatura das costas da vítima.

Testemunhas

Não há previsão ainda para que as testemunhas do crime sejam ouvidas. Isto acontecerá na audiência de instrução, o que não tem ainda data marcada para acontecer.

O advogado de defesa da médica, Luiz Lessa, sustentou que a acusada não apresenta risco à sociedade e que, por isso e para cuidar da filha menor de idade, deve responder ao processo em liberdade.

“A sociedade sabe que ela agiu em legítima defesa. Os casos de feminicídio provam isso. Ela é uma sobrevivente. Caso contrário, teria virado estatística. Ela tentou de tudo para que isso não acontecesse. Mas, infelizmente, o poder público foi omisso. ela tinha que garantir a integridade física tanto dela quanto da sua filha, uma vulnerável. Apesar de a medida protetiva ter sido decretada, ele continuava a rondar a vida dela”, detalhou o advogado.

A médica está detida no Presídio Feminino Santa Luzia, para onde foi levada, na última segunda-feira, depois de ter tido a prisão preventiva decretada em audiência de custódia pela juíza Bruna Saback, da 15ª Vara Criminal.

Enquanto a acusada recebe, através das redes sociais, apoio de parte da sociedade por ter “reagido a toda violência sofrida por ela e pela filha do ex-casal”, no seio familiar, a situação é diferente.

O irmão da médica, Emerson Lima Barros, acusa-a de ter “matado um inocente”. Ele condenou a atitude da irmã. Segundo ele, há, inclusive, laudo que nega conjunção carnal na criança, o que teria influenciado para a absolvição do médico na denúncia de estupro.

Para Emerson Lima Barros, a irmã teria premeditado o assassinato por interesses financeiros. “Ela não agiu em legítima defesa. A quantidade de tiros prova isso. Depois que nós descobrimos toda a verdade, ninguém estava apoiando. Eu não estava apoiando. Minha mãe não estava apoiando. Ela agiu covardemente depois que viu que as mentiras estavam sendo descobertas”, afirmou o irmão da acusada.

De acordo com Emerson Lima Barros, a família está em choque e certa de que a médica matou um homem inocente. “Como irmão, já defendi com unhas e dentes, travei brigas por ela. Mas aí o tempo foi passando e fomos percebendo que ela mentia. Nós acreditamos na inocência do Alan Carlos, ela matou um inocente”, contou.

Segundo ele, o casal não era divorciado. Em comunhão, tinham uma academia, cuja inauguração está marcada para este sábado, dia 22. Era o sonho do Alan. Vamos inaugurar nem que tenhamos que ir com a polícia”, adiantou ele.

Emerson Lima Barros contou ainda que morou pelo menos por 15 anos com o ex-casal e que nunca presenciou nada que desabonasse a conduta do ex-cunhado.

Quando questionado sobre a denúncia de Nádia Tamyres sobre o estupro de vulnerável contra a filha, ele rebateu, dizendo se tratar de “uma grande mentira. Tanto que ele foi inocentando. No início, acreditei na palavra dela, mas depois vimos os laudos e a máscara dela foi caindo. Temos laudo que comprovam que foi mentira.

Segundo Emerson Lima Barros, ele e a mãe chegaram a procurar o Ministério Público em Arapiraca para denunciar a conduta da irmã.
A filha do ex-casal está sob a guarda da avó materna. “Minha mãe está cuidando da criança no momento e está morrendo de medo que ela seja solta, que tenha acesso a outras armas e cometa mais uma tragédia”, expôs.

O médico Alan Carlos foi assassinado a tiros dentro de um carro em frente à Unidade Básica de Saúde (UBS), no Sítio Capim, na zona rural de Arapiraca, agreste de Alagoas, no último domingo.

A acusada foi localizada e detida em Maceió com a arma do crime. Imagens que circulam nas redes mostram o momento após o assassinato. O homem estava no banco do motorista, sem vida, sendo abraçado por uma outra mulher. Populares se aglomeraram ao redor do veículo.

Defesa da médica

O advogado de defesa da médica, Luiz Lessa, sustentou que o homicídio foi um “grito de socorro”. Segundo a defesa, ela agiu para se proteger e proteger a filha.

“Ela não pretendia fugir de forma alguma. Quem quer fugir, não procurar a avenida mais movimentada da capital. Ela estava indo ao nosso encontro. Para garantir seus direitos com um advogado constituído. Ela ia se entregar”, garantiu o advogado Luiz Lessa.

Ela admitiu que possui porte de arma desde 2020 e andava armada “por medo. Quando vi o carro parado daquele jeito, eu entrei em pânico. Achei que ele ia me matar”, detalhou.