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Polícia Federal é acionada para investigar tiros em escola

Autoridades têm se posicionado após tiros em porta de colégio indígena na comunidade Xukuru-Kariri, em Palmeira dos Índios

Por Emanuelle Vanderlei - colaboradora / Tribuna Independente 12/11/2025 07h45
Polícia Federal é acionada para investigar tiros em escola
Polícia Federal foi acionada para investigar o ataque e a Secretaria de Educação promete apoio à comunidade indígena Xukuru-Kariri - Foto: Assessoria Cimi

O ataque à Escola Estadual Indígena Pajé Miguel Selestino, em Palmeira dos Índios, causou comoção e mobilizou autoridades, que reforçam a preocupação com o clima de tensão que se aprofunda na região em torno da demarcação das terras Xukuru-Kariri.

Cícero Albuquerque, coordenador regional da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) em Alagoas, explica que as instâncias superiores já foram acionadas. As investigações devem ser conduzidas pela Polícia Federal (PF), que foi comunicada, assim como a Funai em Brasília, e o Ministério dos Povos Indígenas.

Na avaliação dele, é urgente que o caso seja solucionado. “Esperamos que as forças policiais esclareçam o ocorrido. Não podemos aceitar que essa violência fique impune. A situação está escalando e não podemos permitir que isso continue”. Ele não tem dúvidas sobre a motivação do ataque. “Trata-se de mais uma tentativa de intimidação, uma ameaça explícita contra a comunidade”.

Em nota oficial, a Secretaria de Estado da Educação se posiciona ao lado da comunidade e diz estar priorizando a retomada da normalidade. “A 3ª Gerência Especial de Educação [GEE] está prestando total apoio ao gestor, e mobilizou recursos para garantir o suporte pedagógico e de acolhimento a toda a equipe e aos alunos. Apesar do susto, a Seduc informa que as aulas prosseguiram normalmente na segunda-feira [10]. A Secretaria reitera seu compromisso com a segurança e o bem-estar de todos, garantindo o respeito e apoio às reivindicações do Povo Xukuru-Kariri, em defesa da vida, da educação e da paz”.

O órgão estadual trata o caso com a devida seriedade, condena os atos, e informa as providências. “A Seduc repudia veementemente o ataque a tiros ocorrido na noite de domingo [09/11/2025] na Escola Estadual Indígena Pajé Miguel Selestino da Silva, Aldeia Fazenda Canto, Terra Indígena Xukuru-Kariri, em Palmeira dos Índios/AL. A Seduc reconhece a gravidade do ato, que a comunidade Xukuru-Kariri interpreta como uma clara tentativa de intimidação, inserida no contexto de avanço da regulamentação do seu Território. Para garantir a segurança e o bem-estar da comunidade escolar, o gestor da escola realizou o imediato registro de Boletim de Ocorrência [BO], e a Seduc acompanhará de perto a investigação junto às autoridades competentes”, disse a nota da secretaria.

O povo Xukuru-Kariri se manifestou sobre o assunto trazendo mais elementos e apelando por providências. “Os invasores estavam num automóvel de marca Fiat, cor preta. A escola é um dos locais sagrados para nosso povo, violar esse espaço é algo inaceitável. Em nenhum momento no processo de negociação do nosso território realizamos qualquer forma de ameaça e intimidação aos ocupantes, logo repudiamos toda e qualquer forma de agressão, violência e invasão de nossas terras, como uma estratégia de criar um clima de insegurança local, medo e instabilidade”.

Não é novidade que a situação está complicada na região. Em outubro, a Fundação Nacional do Índio providenciou escoltas para os seus técnicos que estavam trabalhando na região, por conta das ameaças que vinham sofrendo.

Segundo informações do processo, servidores da Funai teriam sido abordados por indivíduo não identificado em um quadriciclo que os ameaçou de forma direta e reiterada, afirmando que soltaria cães, acionaria cerca elétrica e “derrubaria na bala” quem ingressasse em suas terras.

O episódio foi registrado em boletim de ocorrência policial. Também circularam mensagens de incitação à violência contra a Funai em grupo de WhatsApp de agricultores, contribuindo para fomentar um ambiente de hostilidade generalizada contra servidores em campo.

Na petição, a Procuradoria Regional Federal da 5ª Região destaca que a equipe atua em estrito cumprimento às atribuições legais da Funai e que o ingresso em imóveis particulares para levantamento técnico, mediante prévia comunicação, é autorizado pela Lei nº 14.701/2023.