Polícia

PM acusado de matar irmãos será julgado pelo Tribunal do Júri

Johnerson Simões Marcelino responde pelo assassinato de Josivaldo Ferreira Aleixo e Josenildo Ferreira Aleixo; juiz também quer apuração de falso testemunho e ameaça de morte

Por Carlos Amaral com Tribuna Hoje 05/11/2018 12h10
PM acusado de matar irmãos será julgado pelo Tribunal do Júri
Reprodução - Foto: Assessoria
O cabo da Polícia Militar de Alagoas, Johnerson Simões Marcelino, será julgado pelo Tribunal do Júri pelas mortes dos irmãos Josivaldo Ferreira Aleixo e Josenildo Ferreira Aleixo, ocorrido em 2016 no Conjunto Village Campestre II, na parte alta de Maceió. A sentença de pronúncia foi decretada no último dia 1º pelo juiz Geraldo Cavalcante Amorim, da 9ª Vara Criminal da Capital. Segundo a Diretoria de Comunicação do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ/AL) ainda não há data para a realização do Tribunal do Júri. Em sua sentença, Geraldo Cavalcante Amorim também manteve a prisão preventiva do cabo da Polícia Militar e determina a abertura de inquérito para apurar falso testemunho. “Conforme transcrição de partes das declarações prestadas pela testemunha Rúbia Estevam dos Santos, em sede de audiência de instrução, percebe-se a possibilidade de ter havido afirmação falsa, ou negativa ou omissão da verdade, de modo que se faz necessária extração de cópia da mídia de seu respectivo depoimento, a fim de ser enviado à Autoridade Policial para que esta instaure inquérito policial, para apurar eventual responsabilidade, diante da sua afirmação de que não se lembra das roupas das vítimas”, relata. “‘Que, no dia do ocorrido, estava trabalhando de dia [de 07h às 19h]’, quando os documentos indicam que Josenildo e Josivaldo deram entrada no HGE às 20h26min”, completa o magistrado. Em outro trecho de sua decisão, o juiz da 9ª Vara Criminal da Capital aponta para investigar o depoimento da testemunha Franscico Bazilio da Silva por “eventual responsabilidade por afirmação falsa, ou negativa ou omissão da verdade, diante de suas afirmações que ‘Foi de carro ao local’; ‘Que não tinha telefone’; ‘Que os “meninos” não tinham hábito de brincar com crianças’”. O juiz também quer apuração de suposto extravio de documento oficial do Hospital Geral do Estado (HGE). “No mesmo sentido, deve a Autoridade Policial instaurar inquérito, também, para apurar suposto extravio de livro ou documento oficial, uma vez que este Juízo enviou ofício ao HGE requisitando a ‘cópia do livro de ocorrência do dia do fato’, sendo que a funcionária do HGE, a mesma testemunha Rúbia Estevam dos Santos, disse a este Juízo: ‘Que o setor responsável pela custódia do livro não o encontrou, mas que lhe orientaram, lá no hospital, que não é de sua responsabilidade’, no entanto, a defesa do acusado juntou aos autos suposta foto do livro de ocorrência”, determina Geraldo Cavalcante Amorim. Ainda de acordo com a decisão do juiz Geraldo Cavalcante Amorim, o cabo da Polícia Militar Johnerson Simões Marcelino afirmou em interrogatório que ouviu “comentários” de que o coronel Rocha Lima e o tenente-coronel Eugênio queriam matá-lo. O magistrado a investigação do caso pela Promotoria responsável pelo controle externo da atividade policial. “Por fim, diante do pedido do réu, em seu interrogatório, “Que gostaria até de ter uma reunião com o Dr. Alfredo Gaspar de Mendonça, para relatar os comentários que lhe chegam de que o Coronel Rocha Lima e o Tenente-Coronel Eugênio querem lhe matar. Que já invadiram duas vezes sua casa", remeta-se cópia do interrogatório do réu para a Promotoria responsável pelo controle externo da atividade policial”, diz o juiz da 9ª Criminal da Capital. CRIME A ocorrência foi registrada em 25 de março do ano passado, em um ponto de ônibus, no Conjunto Village Campestre II. Segundo o MPE/AL, policiais militares abordaram os dois irmãos Josivaldo e Josenildo, que eram deficientes mentais, haviam saído da escola minutos antes e se dirigiam à casa de familiares. Pelo que foi apurado pela 49ª Promotoria de Justiça da Capital, eles não possuíam antecedentes criminais, e, um deles, inclusive, era menor de idade. Também não há relatos de que os irmãos teriam reagido a abordagem policial. De acordo com a denúncia, no dia do crime, o cabo Johnerson Simões integrava uma guarnição da Polícia Militar e fazia uma patrulha de rotina nas ruas do conjunto Benedito Bentes, quando recebeu a informação que dois assaltantes estavam agindo no Conjuntos Village Campestre II. Ao chegar no local informado, junto aos outros PMs, o denunciado abordou os dois irmãos e, a partir daí, teria ocorrido “uma série de ações desastrosas que culimaram nos homicídios”. Na ação, o promotor de Justiça José Antônio Malta Marques relata que depoimentos de testemunhas confirmaram que dois militares da guarnição iniciaram agressivamente as revistas, razão pela qual Josenildo, a vítima de maior idade, ao assistir o irmão ser agredido, passou a defender Josivaldo. Teria sido nesse momento que o denunciado, que assistia a abordagem encostado na viatura, realizou os disparos. “A ação do cabo Johnerson foi tão desmedida que ao realizar os disparos, de modo consciente, em atingindo Josenildo com dois e Josivaldo com três projeteis, pela mesma ação, ainda lesionou, com tiros de raspão, os policiais militares que estavam próximos das vítimas, e terminou por atingir fatalmente Reinaldo da Silva Ferreira, que estava a cerca de 20 metros de distância, no lado oposto da rua”, diz um trecho da denúncia. Após o fato, de acordo com o MPE/AL, o denunciado pediu a poio a uma segunda guarnição, que fez o socorro dos policias feridos. Enquanto isso, outros policiais ficaram no local. Um deles, o soldado Jailson Stallaiken, teria lhe dado apoio para forjar a cena do crime. “Foi nesse momento que eles implantaram pistola, espingarda e munições entre os pertences das vítimas”, denunciou o promotor de justiça em sua petição.