Polícia

Polícia Federal identifica novas vítimas de golpe do falso glaucoma

Só em Paulo Jacinto, 151 dos 188 diagnosticados com a doença realizam novo exame e 90 descobrem que não têm o problema

Por Tribuna Independente 20/09/2017 07h58
Polícia Federal identifica novas vítimas de golpe do falso glaucoma
Reprodução - Foto: Assessoria

A Polícia Federal (PF) identificou novas vítimas do golpe do falso glaucoma em Alagoas. Até o momento, só na cidade de Paulo Jacinto, das 188 pessoas diagnosticadas com a doença em mutirão para realização de exames oftalmológicos, 90 tiveram o tratamento suspenso após uma nova avaliação por outra clínica. O novo exame não identificou o problema.

A Secretaria de Saúde do município está responsável por localizar todos os 188 pacientes que fizeram os exames. No entanto, até o momento 151 já passaram por uma nova avalição, segundo relatório feito pelo o órgão.

“Essas pessoas já foram localizadas. E desse número, 90 tiveram que interromper o uso de colírios e o tratamento de Glaucoma. Os pacientes diagnosticados com a doença vão ser acompanhados para saber até que ponto o uso dos colírios prejudicaram a saúde deles”, informou a coordenadora de atenção básica à saúde de Paulo Jacinto.

Na última segunda-feira (18), a Secretaria de Saúde de Marechal Deodoro informou que 21 pacientes cadastrados no programa do glaucoma vão passar por uma nova consulta.

Porto Calvo também teve vítimas. No entanto, a equipe de reportagem da Tribuna Independente entrou em contato com a  Secretaria de Saúde do município, mas até o fechamento da matéria não obteve retorno.

De acordo com a PF, a operação ainda está em andamento em 13 cidades.  Os donos e o diretor administrativo do Instituto Oftalmológico de Alagoas (Iofal) foram indiciados. Além deles, alguns médicos que participaram dos mutirões serão ouvidos e indiciados. Segundo as investigações, as irregularidades acontecem desde 2011. “Tem médico que deu diagnóstico e não é oftalmologista”, informou a PF.

INVESTIGAÇÃO

As suspeitas dos órgãos e das próprias vítimas aconteceram após a operação deflagrada pela PF. Segundo o delegado Daniel Silvestre, a organização criminosa dava diagnósticos falsos.

As investigações continuam, mas cinco pessoas já foram indiciadas pela PF e mais de 60 pessoas foram ouvidas no inquérito que deverá ser concluído em até 60 dias.

O delegado disse que uma auditoria do Ministério da Saúde (MS) vai determinar se ainda será necessário colher novos depoimentos e ouvir outras pessoas sobre o esquema.

A chefe da Seção de Auditoria do Ministério da Saúde em Alagoas (MS/AL), Geilsa Menezes, explicou que os documentos financeiros e mais de dois mil prontuários de pacientes e notas fiscais estão sendo analisadas por auditores do MS.

Pacientes relatam que colírio não surtia efeito e piorava a visão

Dentre as vítimas estavam até adolescentes. Segundo relatos de alguns dos moradores de Paulo Jacinto e Porto Calvo dado a uma emissora de TV local, os exames eram feitos em um mutirão.

A mãe de um adolescente que também foi diagnosticada com a doença disse que o filho foi diagnosticado com a doença em menos de um minuto. “Quando ele sentou o médico simplesmente olhou um olho e o outro e disse que ele tinha glaucoma e receitou o colírio”.

Outras vítimas falaram que as situações dos olhos pioraram após o uso do colírio. Uma das vítimas desconfiou das filas para o exame e resolveu fazer procurar um consultório particular. Foi quando descobriu que não tinha a doença.

GOLPE

Em junho desse ano a PF iniciou uma investigação para encontrar uma quadrilha que agia em quatro estados e teria desviado em torno de R$ 30 milhões da saúde pública.

De acordo com a PF, o golpe começava no consultório de oftalmologia. O paciente recebia um diagnóstico falso de glaucoma e era orientado a usar colírios. Segundo a polícia, os pacientes quando iam receber esses colírios assinavam fichas em branco.

Os fraudadores não assinalavam qual colírio estava sendo fornecido; forneciam barato e na ficha assinalavam que havia fornecido o colírio mais caro. Entre os quatro suspeitos estava André Born, que já foi secretário adjunto da Saúde em Maceió e ocupou cargos no Ministério da Saúde em 2016.