Polícia
Em Alagoas, cerca de 80% dos homicídios foram cometidos com armas de fogo
Pesquisador afirma que a difusão do porte legal de armas também contribui para que mais armas cheguem ao mercado ilegal
As armas de fogo são "um personagem central" nos números sobre homicídios no Brasil, avaliou, nesta segunda (5), o pesquisador Daniel Cerqueira, durante o lançamento do Atlas da Violência 2017. No estudo, o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública analisam dados de 2015 e informam que 71,9% dos 59 mil homicídios registrados no país naquele ano foram cometidos com armas de fogo. No Estado de Alagoas, a maioria dos crimes foram com uso de armas de fogo.
Se nacionalmente 71,9% dos homicídios se dão com armas de fogo, os estados em que a violência mais têm crescido nos últimos dez anos têm taxas bem maiores. Em Alagoas, 84,4% dos homicídios foram feitos com armas de fogo; no Ceará, foram 81,5%; na Paraíba, 83,1%; e em Sergipe, 85,1%.
"O personagem central desse enredo é a arma de fogo", disse Daniel Cerqueira, acrescentando que elas estão relacionadas a acidentes domésticos, suicídios e crimes decorrentes de conflitos interpessoais. "Existe uma ideia de que o cidadão angustiado com a violência vai se armar e ficar mais seguro, mas é ledo engano. A arma de fogo dentro de casa contribui para aumentar as probabilidades de alguém sofrer homicídio dentro daquela residência."
O pesquisador afirma que a difusão do porte legal de armas também contribui para que mais armas cheguem ao mercado ilegal, seja via roubos ou vendas ilegais. Com o aumento dessa oferta no mercado ilegal, o preço dessas armas cai e mais "criminosos desorganizados", como assaltantes, têm acesso a elas. "Cerca de 40% das armas apreendidas em crimes são de procedência nacional e foram registradas", diz ele.
Em números absolutos, as armas de fogo foram usadas em 41.817 casos de homicídio no país em 2015. O número de casos é 25,1% maior que em 2005.
Diretora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, comparou o número de mortes no Brasil em 2015 com outras tragédias. Segundo ela, houve mais de 1 milhão de assassinatos no país entre 1995 e 2015, intervalo de tempo equivalente ao que a Guerra do Vietnã deixou 1,1 milhão de civis mortos.
"É como se um Boing 737 caísse com 161 passageiros todo dia. Agora imagine que nesse Boing a maior parte dos passageiros seja de adolescentes e jovens de até 29 anos", destacou ela. "Isso tem um custo econômico para o Estado. As perdas anuais em decorrência da mortalidade desse jovem representam 1,5% do Produto Interno Bruto. E isso é o que a gente gasta com politicas públicas de segurança."
De cada 100 mortos, 71 são negros
Os pesquisadores apontam ainda que a população negra é a principal vítima dos homicídios. A cada 100 assassinatos no país em 2015, 71 tiveram negros como vítimas.
Tanto homens quanto mulheres negras sofrem mais com a incidência da violência letal e, segundo a pesquisa, um negro tem 23,5% mais chances de morrer que um branco que vive no mesmo bairro, com a mesma escolaridade e o mesmo estado civil.
"A violência tem cor também. Os negros são a população que está mais vulnerável à violência letal", lamentou Samira Bueno.
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