Polícia

Principal testemunha do caso "Davi da Silva" é morta no Benedito Bentes

Advogado falou sobre a saída de Raniel do programa de proteção a testemunhas

25/11/2016 21h23
Principal testemunha do caso 'Davi da Silva' é morta no Benedito Bentes
Reprodução - Foto: Assessoria

A única testemunha do ‘caso Davi da Silva’ foi morta na manhã dessa quinta-feira (24) no complexo habitacional Benedito Bentes, na parte alta de Maceió. Raniel Victor de Oliveira tinha 19 anos de idade e foi executado a tiros. Por causa da distância da família, recentemente o jovem tinha pedido para sair do programa federal de proteção a vítimas e testemunhas. O advogado do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente Zumbi dos Palmares (Cedeca Alagoas), Pedro Montenegro, falou à reportagem do Tribuna Hoje sobre o assunto.

“Além da pergunta ‘Quem matou Raniel?’, também temos a pergunta ‘Onde está Davi da Silva?’. O Estado de Alagoas deve essa explicação à dona Maria José, aquela verdureira humilde que mora no Cidade Sorriso, que não teve o direito universal de prantear o filho”, afirmou Pedro Montenegro. O advogado disse que comunicou o assassinato de Raniel Victor ao juiz e aos promotores do caso ‘Davi da Silva’. “Pedi também ao pessoal do Cedeca para fazer um ofício e encaminhá-lo ao secretário de Segurança [Lima Júnior], pedindo uma minuciosa investigação. É um fato objetivo, pois se trata de um homicídio que vitimou a principal testemunha do caso ‘Davi’. Isso já merece uma investigação que não descarte nenhuma hipótese”, afirmou o advogado.

O advogado relatou que, na época do inquérito policial, Raniel ainda era adolescente e foi oferecido a ele um ingresso no programa de proteção à criança e ao adolescente ameaçados. “Ele ficou de pensar se ingressaria no programa. Só que, naquela época, surgiu a oportunidade dele sair de Alagoas e trabalhar em outro estado com um parente. Ele foi e ficou relativamente seguro, pois pouca gente sabia onde ele estava”, disse o advogado.

Porém, de acordo com Pedro Montenegro, o jovem foi trabalhar em uma obra que foi paralisada por conta da Operação Lava Jato. “Então ele foi demitido e voltou a Alagoas. Ele chegou aqui e tentamos acionar o Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas (Provita) do Estado de Alagoas. O Ministério Público fez o pedido de ingresso dele, só que no momento que o Conselho aprovou a entrada de Raniel, o programa foi desativado. Começamos, então, uma articulação para ele entrar em um programa [de proteção a testemunhas] federal”, explicou o advogado.

Já no programa federal de proteção a testemunhas, Pedro Montenegro disse que o jovem foi enviado a outro estado – que não quis identificar – e sentiu falta dos familiares. “Ele me ligou pouco tempo depois de ter saído de Alagoas dizendo que a família estava com problemas, que estava com saudades e queria retornar. Ele me disse que estava com boas condições de vida no local, inclusive melhores do que a situação dele em Maceió. A ideia do programa é que a pessoa possa recomeçar a vida em outro local, e eu disse para ele que pensasse bem, pois logo ele iria começar a estudar e fazer cursos profissionalizantes. Pedi um pouco de paciência para ele”, afirmou.

Depois de algum tempo da conversa pelo telefone com Raniel, o advogado disse que o jovem voltou, recentemente, por conta própria para Maceió. “Ele me disse que não estava se aguentando de saudades e, quando foi hoje, eu fui surpreendido pela notícia da morte dele”, disse Montenegro.

“Nós, do Cedeca, esperamos que haja uma investigação detalhada sobre o crime que vitimou Raniel. O caso aqui é a morte de uma testemunha de um caso que não é só de Alagoas, é nacional. Tem um pedido tramitando no Ministério Público Federal (MPF) para que o caso ‘Davi’ seja deslocado para a competência federal. Não é um caso qualquer”, finalizou o advogado.

O caso ‘Davi da Silva’

De acordo com investigações, Davi da Silva desapareceu no dia 25 de agosto de 2014, no Conjunto Cidade Sorriso, no Benedito Bentes, logo depois de ser abordado por uma guarnição da Radiopatrulha da Polícia Militar. Davi teria sido colocado dentro da cela da viatura e, desde então, nunca mais apareceu.

A família e a Polícia Civil (PC) fizeram diversas buscas, mas não encontraram o jovem.