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Jornal pró-democracia de Hong Kong anuncia seu fim após ser alvo de operações

Governo chinês tem usado a lei de segurança nacional de 2020 para ampliar o controle sobre a cidade, que foi até 1997 uma colônia britânica, e restringir a liberdade de imprensa.

Por G1 23/06/2021 12h44
Jornal pró-democracia de Hong Kong anuncia seu fim após ser alvo de operações
Reprodução - Foto: Assessoria

O jornal "Apple Daily", que defende a democracia em Hong Kong, anunciou nesta quarta-feira (23) que sua última edição será publicada amanhã, quinta-feira (24), em meio à pressão do governo chinês.

A decisão ocorre menos de uma semana após o jornal ser alvo de uma nova operação policial e ter seus bens congelados.

Vários executivos foram presos na operação, o editor-chefe e o executivo-chefe do tabloide foram acusados formalmente de conluio com país estrangeiro.

Foi a segunda vez em menos de um ano que a polícia entrou na redação do "Apple Daily". Seu dono, o bilionário Jimmy Lai, foi acusado de conspiração após uma operação em agosto.

O bilionário de 73 anos cumpre atualmente várias sentenças de prisão por participar das manifestações pró-democracia que abalaram Hong Kong em 2018.

"O 'Apple Daily' decidiu que o jornal encerrará suas atividades a partir de meia-noite e que 24 de junho será o último dia de publicação", anunciou o periódico em seu site oficial.

Jimmy Lai é detido em Hong Kong em 10 de agosto de 2020 — Foto: AP

O governo chinês tentou por várias vezes calar o jornal e passou a utilizar a lei de segurança nacional para minar o trabalho do "Apple Daily" (veja mais abaixo). Com frequência, a imprensa estatal chinesa chama Lai de "traidor".

O jornal sempre expressou apoio ao movimento pró-democracia de Hong Kong — que era um território britânico e foi devolvido à China em 1997 — e nunca parou de criticar abertamente as autoridades chinesas.

Repressão chinesa

O acordo de devolução assinado entre Reino Unido e China previa a preservação da autonomia da região, o que tem sido cada vez mais desrespeitado — sobretudo após os protestos de 2018 em Hong Kong.

A cidade passou há três por uma onda de manifestações que reivindicavam mais liberdade política e menos intervenção chinesa.

Como resposta, o governo chinês aprovou em 2020,suma lei de segurança nacional que tem sido usada para reprimir opositores ao regime comunista. Sem aval do parlamento de Hong Kong, ela foi incorporada à "Lei Fundamental" da cidade.

A lei, que visa reprimir o "separatismo", o "terrorismo", a "subversão" e o "conluio com forças externas e estrangeiras", criminalizou grande parte da oposição e deu às autoridades amplos poderes de investigação.

A China afirma que a lei de segurança nacional é necessária para devolver estabilidade a Hong Kong. Críticos dizem que a repressão acabou com a promessa de que a cidade permaneceria com certas liberdades e autonomia após a sua devolução.

Policiais fazem operação na sede do jornal pró-democracia 'Apple Daily', em Hong Kong, em 17 de junho de 2021 — Foto: Apple Daily via Reuters