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Ex-presidente da Bolívia Jeanine Áñez é presa por golpe político em 2019

Por Diário Argentino 13/03/2021 15h26
Ex-presidente da Bolívia Jeanine Áñez é presa por golpe político em 2019
Reprodução - Foto: Assessoria
A ex-presidente da Bolívia Jeanine Áñez foi presa na madrugada deste sábado (13) devido a uma investigação sobre um suposto golpe de Estado contra o ex-presidente esquerdista Evo Morales. A televisão da Bolívia mostrou Áñez chegando ao aeroporto de El Alto, que serve La Paz, momento em que ela acusou sua prisão como "ilegal". Junto a ela, que não estava algemada, estavam o ministro do Governo (Interior) Carlos Eduardo del Castillo e vários policiais. "Informo ao povo boliviano que a senhora Jeanine Áñez já foi apreendida e neste momento está nas mãos da polícia", anunciou antes Del Castillo em suas contas do Twitter e Facebook, parabenizando as forças de ordem pelo seu "grande trabalho (...) nesta grande e histórica tarefa de fazer justiça ao povo boliviano". Em sua primeira reação pública, o ex-presidente Evo Morales pediu no Twitter que "se investigue e sancione os autores e cúmplices" do que denunciou como um "golpe de Estado" contra ele, mas sem mencionar sua sucessora Áñez. Em La Paz, a ex-senadora de 53 anos foi levada para um quartel da polícia e depois para os escritórios do Ministério Público, onde deu suas declarações. "É um ultraje absoluto, porque nos acusam de sermos cúmplices de um suposto golpe, é algo que não tem pé nem cabeça, é uma intimidação absolutamente política", disse Áñez. Sedição, terrorismo, conspiração O Ministério Público da Bolívia emitiu na sexta-feira uma ordem de prisão contra a ex-presidente de direita e vários de seus ministros, denunciados por crimes de sedição, terrorismo e conspiração.Dois deles, Álvaro Coímbra, ex-chefe da Justiça, e Rodrigo Guzmán, da Energia, foram detidos em Trinidad e transferidos para La Paz. A ordem do MP partiu de uma denúncia apresentada em dezembro passado por Lidia Patty, ex-legisladora do governante Movimento Ao Socialismo (MAS, esquerda), de Morales.Em sua denúncia, Patty afirmou que o líder civil da região de Santa Cruz (leste), Luis Fernando Camacho, Áñez, vários ex-ministros, ex-militares, ex-policiais e civis promoveram a queda de Morales em novembro de 2019, após 14 anos no poder. Áñez substituitu Morales constitucionalmente após sua renúncia em novembro de 2019 em meio aos protestos após eleições denunciadas como fraudulentas. Liderou o governo até novembro de 2020, quando o atual presidente Luis Arce foi eleito. Em uma carta, Camacho alertou que "os bolivianos não ficarão de braços cruzados diante do abuso" e garantiu que não deixará o país. Camacho venceu a eleição do fim de semana passado para governador da rica região de Santa Cruz (leste) com mais de 55% dos votos. A ordem dos promotores abrange também os ex-ministros Arturo Murillo (Interior), Luis Fernando López (Defesa) e Yerko Núñez (Presidência). Evo pede sanções Em seu tuíte, Morales pediu "justiça e verdade para as 36 vítimas fatais, os mais de 800 feridos e mais de 1.500 detidos ilegalmente no golpe de Estado". "Que se investigue e sancione os autores e cúmplices da ditadura que abalou a economia e ameaçou a vida e a democracia na Bolívia", acrescentou. Morales, que renunciou dois dias antes da posse de Áñez como presidente, alega que foi alvo de um golpe de Estado. Os ex-presidentes da Bolívia, o centrista Carlos Mesa (2003-2005) e o direitista Jorge Quiroga (2001-2002), rejeitaram separadamente as prisões e ordens de prisão. Ambos foram atores-chave para a transição do governo de Morales para o de Áñez em 2019. "Estamos em um processo de perseguição política pior do que nas ditaduras. Está sendo executado contra quem defendeu a democracia e a liberdade em 2019", disse Mesa no Twitter.Quiroga, no mesmo caminho, apontou que "começa uma caça à vingança" e o presidente Arce respondeu a ele que "é um aprendiz de tirano". Um grupo de opositores impulsionou protestos em todo o país em 2019 após as eleições de outubro desse ano, denunciadas como fraudulentas a favor de Morales, que buscava um quarto mandato.Morales buscou refúgio no México e um mês depois foi para a Argentina, onde ficou refugiado até a eleição de Arce.Um grupo de investigadores da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) está na Bolívia indagando o ocorrido no final de 2019.