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'Violência extrema veio atacar a República', diz Macron sobre protestos

Presidente francês comentou no Twitter atos deste sábado de grupo que protesta contra o governo

Por AFP e G1 05/01/2019 18h30
'Violência extrema veio atacar a República', diz Macron sobre protestos
Reprodução - Foto: Assessoria
Dezenas de milhares de "coletes amarelos" se manifestaram neste sábado (5) na França, marcado por confrontos com as forças de segurança e criticado pelo presidente francês, Emmanuel Macron, por sua "violência extrema". "Mais uma vez, uma violência extrema veio atacar a República – seus guardiões, seus representantes, seus símbolos. Quem comete esses atos esquece a base de nosso pacto cívico. A justiça será feita. Todos devem se acalmar para que possa haver debate e diálogo", escreveu Macron no Twitter. O "VIII Ato" da mobilização reuniu 50 mil pessoas – contra 32 mil do sábado anterior –, anunciou o ministro do Interior, Christophe Castaner. No fim de semana anterior ao Natal, haviam sido 65 mil manifestantes. O ministro procurou, no entanto, minimizar o alcance deste dado: "50 mil é um pouco mais de uma pessoa por município na França (...) Então vemos que esse movimento não é representativo da França", afirmou à emissora LCI. Castaner também condenou os confrontos durante o dia, embora reconhecendo que a maioria das manifestações "correu bem". Em particular, ele denunciou ataques a prefeituras, instituições e gendarmarias, assim como "jornalistas e jornais (...) maltratados". Em Paris, embora a passeata que partiu da avenida Champs-Elysées tenha corrido sem incidentes durante a manhã - com cerca de 4 mil participantes à tarde -, confrontos estalaram em diversos bairros, sobretudo nos cais do Sena. Um incêndio foi registrado em um barco-restaurante ancorado perto do Musée d'Orsay. Várias motos, um carro e latas de lixo foram queimados no Boulevard Saint-Germain, um bairro nobre do popular centro turístico, onde foram erguidas barricadas improvisadas. "Tacar fogo assim não é possível. É o apocalipse", comentou uma moradora, preocupada com "a imagem da França no mundo". No meio da tarde, o porta-voz do governo, Benjamin Griveaux, foi evacuado de seu escritório após uma invasão de "coletes amarelos" com um trator ao pátio do ministério, localizado próximo ao do primeiro-ministro. "Havia 'coletes amarelos', pessoas vestidas de preto (...) que pegaram uma máquina de construção que estava na rua e arrombaram a porta do ministério (...) e quebraram dois carros" disse Griveaux à AFP. "Não sou eu quem é alvo, é a República", por "aqueles que desejam a insurreição, derrubar o governo", mas "a República está de pé", declarou. 'Mudar o sistema' Várias cidades menores, onde milhares de manifestantes se reuniram, também viveram confrontos nessa nova mobilização. Em Rouen (noroeste), a polícia disparou bombas de gás lacrimogêneo e balas de defesa (LBD), atingindo um manifestante na parte de trás da cabeça. Em seguida, "coletes amarelos" ergueram barricadas e lançaram projéteis contra um quartel da gendarmeria, segundo o procurador da cidade. Em Caen (oeste), "os manifestantes foram à delegacia de polícia com intenções muito agressivas (...) Projéteis foram lançados contra a polícia", disse a Prefeitura em nota. Vários incêndios foram registrados, especialmente em frente ao centro administrativo. O movimento de "coletes amarelos" reúne franceses das classes média e baixa que criticam, desde 17 de novembro, a política fiscal e social do governo, considerada injusta, e também reivindicam maior poder aquisitivo. Essa forma sem precedentes de mobilização dos cidadãos reflete-se, em especial, na ocupação de rotatórias em toda a França e em sessões de ação aos sábados. Esses franceses com menor poder aquisitivo continuam insensíveis às concessões anunciadas pelo presidente Emmanuel Macron – cancelamento para 2019 do aumento da tributação dos combustíveis, medidas para melhorar o poder de compra por um custo estimado em 10 bilhões de euros, debate nacional que será aberto em meados de janeiro para trazer reivindicações. Com uma mobilização a mais que no último sábado, Bordeaux e Toulouse (sudoeste) estavam entre os principais bastiões do movimento. Precedidos por uma faixa proclamando "Unidos, a mudança é possível", cerca de 4.600 "coletes amarelos" desfilaram em Bordeaux em calma, sem confrontos com as forças de segurança. Em Toulouse, foram 2 mil pessoas, contra 1.350 no último sábado. Milhares de "coletes amarelos" também bloquearam em ambas as direções a estrada A7 que atravessa a cidade de Lyon (centro-leste), gerando engarrafamentos na volta das festas de fim de ano. "Estamos aqui para mudar o sistema, então enquanto não houver nada que mude, continuaremos a estar lá, não temos razão para voltar", disse Walter, estudante 23 anos de idade.