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Brasileira relata desespero em cidade atingida por incêndio na Grécia

Moradora de cidade atingida por incêndio contou que teve 'sorte' ao deixar o prédio onde vive: 'Saímos com a roupa do corpo'

Por G1 25/07/2018 09h29
Brasileira relata desespero em cidade atingida por incêndio na Grécia
Reprodução - Foto: Assessoria
"Se prepara, porque, quando você voltar, não vai mais ter nada", disse a si mesma a brasileira Tuca Oliveira ao deixar o prédio onde mora em Rafina, na Grécia, após ver as chamas de um dos piores incêndios florestais da história do país se aproximarem do bairro. Em entrevista ao G1, ela descreveu o desespero vivido na segunda-feira (23), data em que o fogo matou mais de 70 pessoas. Tuca vive na Grécia há dois anos e trabalha como videomaker — área da produção audiovisual. Ela relatou que assistia, do lado de fora de casa, à movimentação dos helicópteros usados no combate às chamas. A brasileira e o marido, o grego Freddy Stefanakis, notaram que havia algo errado quando as aeronaves se perderam na fumaça, cada vez mais densa. "Em 20 minutos, pegamos os documentos, passaporte, e saímos com a roupa do corpo", contou a videomaker brasileira Tuca Oliveira. 'Sabia que muita gente iria morrer' Quando conseguiram sair, o fogo já ardia na rua onde o casal morava. "Todo mundo correndo, muita gente demorou para entender o que estava acontecendo. Muita gente perdida, muitos idosos e pessoas com criança no colo", relembrou Tuca.Ao pegar um dos carros do casal — o outro foi deixado para trás — e dirigir por um atalho para escapar do engarrafamento, Tuca notou a gravidade do incêndio. "Desesperador, porque a gente olhava para trás e percebia quantas pessoas iam morrer. Era muito óbvio que as pessoas não conseguiriam se salvar." Segundo a brasileira, os ventos fortes — a mais de 100 km/h — faziam o incêndio se alastrar rapidamente. "Era como uma onda de fogo muito rápida. Queimava o que dava para queimar e seguia", descreveu. Uma hipótese para a rápida propagação do fogo aponta as condições meteorológicas enfrentadas pelo país neste ano como uma das causas. O inverno, geralmente mais úmido, foi seco, ressecando a vegetação. E o verão quente com baixa umidade — o que é normal nesta época — favoreceu o alastramento do incêndio. Rede de solidariedade Tuca afirma que ela e o marido tiveram sorte por conseguir escapar rapidamente. Como o fogo se alastrou principalmente na parte montanhosa da península, as pessoas que demoraram mais ou não tinham carro não tiveram outra opção senão se refugiar na praias — onde, mesmo assim, houve mortes, inclusive de vítimas de afogamentos durante operações de resgate. Rafina, a pequena cidade de 13 mil pessoas onde a brasileira vive, fica a menos de 30 quilômetros a leste da capital da Grécia, Atenas. Tuca e o marido fugiram usando a avenida Maratona, uma das principais da região de Ática. Era hora, portanto, de procurar um local para passar a noite. Afinal, voltar a Rafina seria arriscado. Os dois pensaram, então, em alugar um quarto por meio de um serviço de aluguel online por temporada. Não precisaram pagar nada. "Assim que a gente falou que era de Rafina, ele [o locatário] ofereceu o quarto de graça. O povo grego é muito solidário", contou a brasileira. Tuca contou que os incêndios na Grécia geraram uma rede de ajuda no país. Os gregos vêm reunindo roupas e alimentos para doar a quem perdeu tudo com a devastação. "O grego é um povo muito unido. Todo mundo está tentando ajudar", comentou a brasileira. Casa intacta em meio à destruição Ao voltar para contabilizar o estrago, na terça-feira (24), o alívio: o fogo queimou a fachada e a varanda do prédio onde o casal mora, mas não atingiu a parte de dentro do apartamento. "Demos muita sorte, porque outras partes da cidade ficaram em cinzas", relembrou Tuca. Nem mesmo o outro carro do casal, que havia sido deixado para trás, foi destruído. "A gente estava certo que não iria tê-lo de volta", disse. A menos de 10 metros dali, contou a brasileira, havia a carcaça de um veículo consumido pelas chamas. O incêndio parou de queimar em Rafina, mas ainda assim o casal não sabe quando retornará a viver ali. "A gente não sabe quando vai estar seguro porque o ar ainda está muito tóxico", afirmou Tuca. 'Clima de guerra' Se o fogo poupou algumas construções em Rafina, o vilarejo vizinho de Mati ficou totalmente destruído pelo incêndio. "Mati acabou. [Parece] Um clima de guerra", avaliou Tuca. Lá, em somente uma casa, as autoridades encontraram 25 corpos. As imagens clicadas por fotojornalistas de agências de notícias locais e internacionais mostram destruição completa: não sobrou praticamente nada naquela região. Até o balanço mais recente dos bombeiros gregos, o fogo que atingiu o nordeste de Atenas deixou 74 mortos e 187 feridos. Os incêndios são considerados os piores a atingir o país em mais de uma década. Entre os feridos há 23 crianças. Entre os mortos, está um bebê de 6 meses que não resistiu à intoxicação por fumaça. O número de desaparecidos ainda é incerto, segundo os bombeiros. Por causa do incêndio, a Grécia pediu ajuda internacional. Itália, Alemanha, Polônia, França, Canadá e Portugal enviaram equipes para ajudar no combate às chamas.