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Colombianos vão às urnas para escolher novo presidente

Ivan Duque e Gustavo Petro se enfrentam no 2º turno neste domingo

Por G1 17/06/2018 10h31
Colombianos vão às urnas para escolher novo presidente
Reprodução - Foto: Assessoria
A Colômbia vota neste domingo (14) para decidir quem substituirá Juan Manuel Santos pelos próximos quatro na presidência do país. De um lado, Iván Duque, senador “uribista” a favor de mudanças no histórico acordo de paz firmado entre o governo e as antigas guerrilhas das Farc. De outro, Gustavo Petro, ex-guerrilheiro do grupo M-19 e ex-prefeito de Bogotá, que promete consolidar o pacto. Mais de 32 milhões de colombianos estão aptos para votar. No primeiro turno, Duque recebeu 7,56 milhões de votos (39,14%), enquanto Petro teve 4,85 milhões (25,08%). Foi a primeira vez na história moderna do país que um candidato de esquerda chegou ao segundo turno de uma eleição presidencial. Isso assusta uma coalizão de forças conservadoras e de direita, que temem um governo de orientação chavista, contrário à propriedade privada. Mas as pesquisas indicam que no pleito deste domingo Duque tem vantagem de entre 6 e 20 pontos. O candidato eleito terá um Congresso de maioria direitista. Também enfrentará uma conjuntura crítica. A diminuição da desigualdade, o combate ao narcotráfico e à corrupção, a paz com grupos armados e o controle das fronteiras estão entre os principais desafios do novo presidente da Colômbia. País polarizado Segundo analistas ouvidos pela agência France Presse, o pacto com as Farc – que agora são um partido e retirou seu candidato por problemas de saúde – operou como um divisor de águas na Colômbia e contribuiu para a polarização política da sociedade. "A Colômbia está polarizada desde antes das eleições. A polarização ficou evidente nas campanhas pelo 'sim' e pelo 'não' do plebiscito" pela paz, afirma Andrés Macías, pesquisador da Universidade Externado. Quem é Ivan Duque? Advogado com mestrado em direito internacional e administração pública, foi senador entre 2014 e 2018. É apadrinhado pelo ex-presidente Álvaro Uribe. Foi uma das vozes mais fortes da oposição pelo “Não” no plebiscito para referendar o acordo de paz com as Farc. Duque, de 41 anos e candidato pelo Centro Democrático, conquistou seus eleitores com um discurso conservador que defende a empresa privada e o corte de impostos e da burocracia. Ele batalha para não parecer um "fantoche" de Uribe, embora tenha a mesma agenda: investimento privado, Estado austero e valores familiares tradicionais. Também propõe "recuperar a economia, eliminando o desperdício", mediante uma reforma para reduzir o funcionalismo público. "Quero um país de legalidade, de luta frontal contra a corrupção, um país onde se respire segurança em todo território. Quero um país de empreendimento", afirmou Duque ao votar no primeiro turno em Bogotá. Quem é Gustavo Petro? Economista com especialização em administração pública, foi prefeito de Bogotá entre 2012 e 2015 e senador entre 2006 e 2010. Antes, atuou como guerrilheiro do M-19 (Movimento 19 de abril), que em 1985 ocupou o Palácio da Justiça para pressionar o então presidente, Belisario Betancur, provocando uma violenta resposta do Exército que deixou 100 mortos. Petro, de 58 anos e candidato pelo Colômbia Humana, ganhou força e conseguiu cerrar fileiras com seu discurso antissistema, a favor do meio ambiente, das minorias e de uma economia independente do petróleo. Ele promete profundas reformas econômicas, entre elas a taxação da terra improdutiva. Em declaração durante o primeiro turno, defendeu "um presente e um futuro" sem ódio nem vingança, que deixe para trás "o maquinário da corrupção". Veja a seguir os principais desafios que o novo presidente deve enfrentar: Economia e desigualdade O novo presidente colombiano terá entre suas principais tarefas manter o ritmo da economia e diminuir a desigualdade social. Rica em minerais, biodiversidade e pedras preciosas, a Colômbia é também um dos países mais desiguais do continente, superada apenas pelo Haiti e por Honduras. A pobreza afeta 17% dos 49 milhões de habitantes, com picos de 36,6% nas regiões mais isoladas, particularmente nas áreas rurais, segundo dados oficiais. Duque, amigo do livre-mercado e do investimento privado, prefere um Estado enxuto e austero. "Vamos reestruturar o Estado para eliminar o desperdício e os gastos desnecessários", afirma. É um defensor de uma economia que estimula a inovação em uma ampla gama de atividades. Também prevê baixar impostos das empresas para que gerem mais empregos e melhores salários, além de manter a mineração dentro dos altos padrões ambientais. Já Petro, convencido da ameaça da mudança climática, propõe acabar com a dependência do petróleo e com a mineração (que representam 7% do PIB). "A ideia é transitar para uma economia produtiva, agrária, industrial", explica. Nesse sentido, quer substituir a energia fóssil pela solar. Sua proposta de tributar latifúndios improdutivos fez seus críticos reavivarem o fantasma das desapropriações, as quais relacionam com o chavismo na Venezuela. O impacto foi tão grande que Petro precisou garantir, em um manifesto público, que não desapropriará nada e que promoverá a iniciativa privada, o empreendimento e a formalização trabalhista. Paz com guerrilhas Nascida em 1964 de uma insurreição camponesa que exigia uma maior distribuição de terras, ex-guerrilha Farc chegou a ser o grupo rebelde mais poderoso da América Latina e se desarmou no ano passado, tornando-se um partido político. O partido Farc estreou nas eleições legislativas de março, quando obteve 0,5% do total dos votos parlamentares, embora o pacto lhes garanta 5 cadeiras no Senado e 5 na Câmara. Manuel Santos venceu o Nobel da Paz naquele ano pelo acordo histórico assinado em 2016 e que colocou fim a um conflito que durou mais de 50 anos no país. Ainda falta, contudo, implementar o sistema de justiça que garanta "verdade e reparação" a milhões de vítimas. Outra pendência envolve as reformas rurais, que poderiam evitar o reativamento do conflito. Iván Duque é um crítico ferrenho do processo e promete reformar o acordo. Seu partido considera que ele garante "impunidade" aos responsáveis por crimes graves. Duque quer impedir que os rebeldes que já entregaram as armas e estão envolvidos em crimes atrozes possam atuar na política sem antes cumprir um mínimo de tempo na prisão. Já Gustavo Petro diz que vai respeitar e consolidar o acordo, mas defende reformas sociais para a garantia da paz. Petro pretende honrar os compromissos que garantem que os ex-líderes guerrilheiros recebam penas alternativas à prisão, se confessarem seus crimes, e indenizarem as centenas de milhares de vítimas do. O novo presidente eleito também deverá levar adiante as negociações de paz com a ELN reconhecido pelo governo como o último grupo rebelde. As conversas com a guerrilha estavam suspensas desde janeiro, após uma série de atentados atribuídos ao grupo, mas foram retomadas em maio, desta vez em Cuba e não mais no Equador. Imigrantes venezuelanos A Colômbia é, junto com o Brasil, um dos países que mais recebe venezuelanos que fogem da profunda crise econômica que atinge o país governado por Nicolás Maduro. Segundo o governo, nos últimos dois anos, chegaram 762 mil venezuelanos, e 518 mil deles pretendem se instalar na Colômbia. O novo fluxo de imigrantes é inédito no país, que durante décadas viu sua própria população migrar para outras nações. O conflito armado na Colômbia gerou 311 mil refugiados ou solicitantes de refúgio no exterior. Os dois candidatos expressaram sua intenção de continuar acolhendo imigrantes e refugiados. Fronteiras e narcotráfico Desde os anos 80, a Colômbia está no radar mundial do narcotráfico. O país continua a ser o maior produtor mundial de cocaína, um mercado arduamente disputado pelos dissidentes das Farc, por gangues criminosas e pelo ELN. Após a assinatura do acordo de paz com as Farc, ganhou força o tráfico de drogas e a disputa de seus territórios chave por grupos rebeldes, já que o Estado não ocupou imediatamente as zonas deixadas pelos rebeldes. Duque rejeita legalizar o consumo para acabar com o negócio multimilionário, propondo, inclusive, abolir o porte e a dose mínima autorizados desde 2009. "É preciso voltar a penalizar, mas não criminalizar", diz.

Petro propõe incentivar o debate internacional sobre o fracasso da luta antidrogas e dar terras para que os camponeses que cultivam coca tenham incentivo para desistir dessa plantação. Também privilegiará o tratamento médico para os consumidores. "Relacionar o jovem com os centros de reabilitação, não com a Polícia", explicou.

Na fronteira com a Venezuela há contrabando de mercadorias e de gasolina subsidiada do país vizinho, substância usada na fabricação de cocaína. Até 2016, no lado colombiano, concentravam-se 15% dos 146 mil hectares de folhas de coca plantados na Colômbia. Pela Venezuela, saem toneladas de cocaína para Europa e África, concordam especialistas e autoridades ouvidos pela agência France Presse. Na fronteira com o Equador, se assentam populações historicamente abandonadas pelos Estados. A maioria é formada por negros, indígenas e colonos. Este ano, o sequestro e assassinato de uma equipe de repórteres de Quito, em um ponto limítrofe, expôs o poder da máfia que atua no local. Segundo militares, a máfia mexicana estaria por trás dos dissidentes das Farc que mataram os três equatorianos, capturaram outros dois e atacaram a força pública do Equador. Corrupção A Colômbia ocupa o 96º lugar no ranking de percepção de corrupção da organização Transparência International, que avalia 180 países. Além das irregularidades na entrega de licitações públicas, o país também foi abalado pelo esquema de corrupção da empreiteira brasileira Odebrecht. A empresa reconheceu ter entregado US$ 11,1 milhões em propinas na Colômbia. Já a Promotoria avalia esse valor em mais de US$ 27,7 milhões.