Mundo
Retomada de Mossul revela cidade em ruínas
Apesar da vitória, Estados Unidos encaram retomada com cautela, e consideram que Estado Islâmico vai resistir até o último combatente
Após o anúncio oficial feito pelo governo do Iraque no domingo (9) da retomada de Mossul, uma das principais cidades até então dominadas pelo grupo extremista Estado Islâmico, as tropas iraquianas encontram, aos poucos, uma cidade em ruínas.
De acordo com cálculos divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU), no final da última semana, a reconstrução da infraestrutura básica da cidade vai custar mais de US$ 1 bilhão e deve levar anos.
Segundo a estimativa, o montante seria gasto para restaurar o sistema de água, esgoto e eletricidade de Mossul, reabrir escolas e hospitais, completamente destruídos por quase nove meses de combate.
Apesar da vitória do Iraque, com apoio do Estados Unidos, o governo de Donald Trump se manteve cauteloso, e não divulgou comunicado sobre o feito. Militares americanos alertam que ainda há focos de conflito, e que os militantes do Estado Islâmico devem resistir até que o último homem do grupo seja derrotado.
No domingo, enquanto o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, caminhava pela cidade saudando soldados e comemorando a retomada de Mossul, tiros e explosões ainda podiam ser ouvidos na cidade. As autoridades iraquianas confirmam que os militantes ainda controlam um pequeno reduto na cidade velha.
De acordo com generais militares, estima-se que centenas de combatentes ainda estejam dentro da cidade histórica, e que suas famílias - especialmente mulheres e crianças - estejam sendo usadas como escudos humanos.
Ajuda Internacional
Nesta segunda-feira (10), o Irã felicitou o Iraque pela vitória, e ofereceu ajuda para reconstruir a cidade.
"Felicitamos a população corajosa e o governo do Iraque pela libertação de Mossul", escreveu no Twitter o ministro iraniano das Relações Exteriores, Javad Zarif.
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, também comentou o tema, dizendo que a retomara era uma boa notícia, e manifestando preocupação com as condições da cidade de Mossul.
"A cidade foi deixada em ruínas. Quem vai pagar o preço da reconstrução da cidade para o povo de Mossul?", questionou, durante um evento em Istambul.
Crise Humanitária
Além de grande parte da cidade ter sido destruida durante os combates, milhares de pessoas foram mortas e mais de 900 mil deixaram suas casas, segundo a ONU. Cerca de 700 mil moradores de Mossul ainda permanecem deslocados.
"É um alívio saber que a campanha militar em Mossul está terminando. A luta pode terminar, mas a crise humanitária não", comentou a Coordenadora Humanitária da ONU no Iraque, Lisa Grande.
"Muitas das pessoas que fugiram perderam tudo. Elas precisam de alimento, cuidados de saúde, água, saneamento e kits de emergência. Os níveis de trauma que estamos vendo são altíssimos. O que essas pessoas viveram é quase inimaginável", comentou.
No domingo, mulheres, crianças e jovens esperavam em fila, sob um sol escaldante, para receber ajuda de organizações humanitárias. Eles haviam sido resgatados de Maidan, um dos últimos bairros a serem retirados das mãos dos terroristas.
Na calçada, uma menina de cerca de 3 anos andava perdida. Cabelo castanho desgrenhado, túnica azul-turquesa e atadura branca no pescoço, ela apertava contra o seu coração uma pequena garrafa de água meio vazia.
Um pouco mais adiante, uma jovem mãe, túnica preta e um véu azul, agachava-se contra uma parede. Primeiro prostrada e silenciosa, ela implorou ao soldado mais próximo para ouvir sua angústia.
Uma hora antes, ela perdra seu filho de 7 anos de idade em um bombardeio quando a família, escondida há vários meses, preparava-se para fugir. "Eu não pude fazer nada", ela gritava, desfigurada pela dor.
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