Mundo
Advogado mexicano ajuda imigrantes em desafio a Donald Trump
"Eu sei que algum dia prestarei juramento como cidadão americano. Mas não preciso de um papel que me diga que sou americano", disse César Vargas
César Vargas chegou a Nova York aos cinco anos, depois de cruzar a fronteira com o México por baixo de uma cerca. Hoje, aos 33 anos, é advogado e defende os imigrantes que não têm documentos como ele, na turbulenta era Trump.
Vargas se encontrou com a repórter da AFP em um dia gelado no Battery Park, em frente à Estátua da Liberdade, um símbolo de esperança para várias gerações de imigrantes que chegaram a Nova York.
"Eu sei que algum dia prestarei juramento como cidadão americano. Mas não preciso de um papel que me diga que sou americano. Eu sou, eu vou lutar pelo direito de todos de conseguirem seu sonho americano", afirma o advogado.
Depois de graduar-se em Direito, Vargas entrou em uma batalha legal de quatro anos para poder exercer sua profissão. Há um ano conseguiu vencer e se converteu no primeiro advogado abertamente ilegal de Nova York.
"Foi uma grande vitória. O estado de Nova York enfrentou o governo federal e disse que não importava meu status migratório, que eu podia ser advogado", conta em inglês, o idioma com o qual se sente mais à vontade.
A vida em uma bolsa
Vargas cresceu em uma família humilde da periferia de Puebla, no centro do México. Lembra que muitas vezes só tinham café e pão doce para comer. Eram oito filhos.
Alguns anos depois de enviuvar, sua mãe, Teresa, ficou sabendo que quatro de seus filhos, que já haviam partido para os Estados Unidos, estavam dormindo na praia, sem teto, e decidiu imigrar com os menores para ajudá-los.
"Ainda me lembro de nosso último dia no México. Minha mãe foi me buscar na escola e nos levou à catedral de Puebla para rezar, e disse: 'Deus, cuide de nós'. Tenho uma foto diante da catedral. Minha mãe guardava numa bolsa de plástico, na qual cabia nossa vida".
O começo não foi fácil. No Brooklyn, Teresa, que é analfabeta, cozinhava, vendia comida, cuidava de crianças, catava latas que depois vendia por cinco centavos de dólar para reciclar.
Vargas cresceu e viu com os próprios olhos como muitos advogados enganavam os imigrantes com falsas promessas de documentos e honorários extorsivos.
"Foi quando decidi defender a mim mesmo, não ficar dependente. Precisava contar minha história", comentou.
E, em 2010, decidiu revelar que não tinha documentos, justo em um evento para defender a reforma migratória no Congresso americano.
"Isso me fez entender o poder de minha história. Deixei de me sentir envergonhado por não ter documentos. Eu me senti liberado. Este sou eu. Não tenho que me esconder. Senti que devia ser ativista e ajudar a outros como eu", explica.
Mas seu caso mais importante, que é a razão de sua vida, é conseguir documentos para sua mãe, que já tem mais de 70 anos.
Luta contra o medo
Vargas, que na campanha eleitoral foi assessor do ex-pré-candidato democrata Bernie Sanders, não sabe o que exatamente fará Trump, que prometeu deportar milhões de imigrantes ilegais e ordenou construir um muro com o México.
Mas, com as regras já mudando rapidamente para refugiados e imigrantes de sete países muçulmanos, já se prepara para o pior.
Codiretor da Dream Action Coalition, uma associação de luta para dar aos indocumentados um caminho para a cidadania, elaborou um plano de emergência para imigrantes para o caso de serem detidos, e trabalha em muitos casos de maneira gratuita para proteger os indocumentados de Nova York, principalmente os mexicano-americanos.
"Meu principal trabalho é que possam entender seus direitos, que não se deixem vencer pelo medo, que estejamos unidos nos próximos quatro anos", afirma.
Hoje Vargas pode trabalhar legalmente graças a um decreto conhecido como "DACA", que o ex-presidente Barack Obama assinou em 2012, antes de sua reeleição, e que concedeu a milhares de jovens uma permissão de residência e trabalho de dois anos, renovável.
Apesar disso, Vargas recorda que Obama foi o presidente que deportou mais imigrantes na história do país, e assegura que só aprovou o DACA porque achou que isso poderia ajudá-lo a se reeleger.
"Não sabemos o que acontecerá com Trump, se o DACA será eliminado. Mas independente do que aconteça, vamos continuar lutar pelo direito de permanecer no país que é o nosso lar", garante.
"Minha mãe me ensinou que o sonho americano não é um carro da moda, uma casa grande. É abrir a porta para muitas pessoas, sem se importar com seu status migratório ou sua religião", conclui.
Mais lidas
-
1Grave acidente
Jogador da base do CSA tem amputação parcial de uma das pernas
-
2Streaming
O que é verdade e o que é mentira na série Senna, da Netflix?
-
3Em Pernambuco
Médica morre em batida envolvendo um carro e uma moto em Caruaru
-
4A hora chegou!
‘A Fazenda 16’: Saiba quem vai ganhar e derrotar os adversários no reality da Record TV
-
5Provedores de Internet
Associação denuncia ataque em massa que pode prejudicar mais de meio milhão de internautas em Alagoas