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"EUA vai ficar bem", diz Barack Obama em última coletiva como presidente
Presidente falou sobre Rússia, Trump, diversidade e democracia e brincou com jornalistas dois dias antes de deixar a Casa Branca
Ele também brincou com os jornalistas, lembrando que alguns o acompanham há vários anos, ao dizer que eles reclamam de suas longas respostas, mas que isso só acontece porque eles fazem "perguntas divididas em seis partes".
Com um tom mais sério, ele elogiou a imprensa e ressaltou a importância de sua liberdade, dizendo que ela pressiona os que estão no poder a serem as melhores versões de si mesmos.
A primeira pergunta de um jornalista foi em relação à comutação da pena de Chelsea Manning e o vazamento de informações. Obama afirmou não acreditar que a libertação de Manning possa animar ninguém que esteja disposto a fazer o mesmo que ela. "Ela passou por um processo muito duro", ressaltou e disse que sua sentença foi desproporcional às que outros acusados por crimes semelhantes receberam.
"Estou confortável que a justiça foi cumprida e que a mensagem foi enviada em relação à segurança nacional", afirmou. Ele acrescentou que a proposta de Assange, fundador da WikiLeaks, que disse aceitar ser extraditado em troca da liberdade de Manning, não foi levada em conta.
As relações com a Rússia também foram discutidas, e Obama disse acreditar que é interesse do mundo e dos EUA ter uma boa relação com a Rússia, e que ele buscou fazer isso durante seu governo. Mas, segundo o presidente, após Putin voltar à presidência, um sentimento anti-EUA cresceu naquele país.
Ele destacou que é importante deixar claro que as sanções à Rússia são por causa da ingerência do país na Ucrânia, que teve sua soberania desrespeitada. Ele afirmou que é importante transmitir a mensagem de que países poderosos não podem sair invadindo e dominando países com menos poder.
Outro repórter abordou a questão da transferência de poder, uma vez que Obama prometeu um processo pacífico, mas dezenas de congressistas democratas já anunciaram que irão boicotar a posse de Trump. O presidente disse que teve conversas "cordiais" e muitas vezes longas com seu substituto, e que ofereceu seus melhores conselhos, mas que não pode afirmar se ele os seguirá e que também não revelará o teor das conversas.
Obama disse ainda acreditar que Trump pode mudar suas posições em relação a alguns assuntos e "chegar às mesmas conclusões que eu cheguei". O presidente reforçou também a importância de uma equipe competente e forte. "Este é um trabalho de tanta magnitude que você não pode fazer sozinho. Você depende muito de um time".
Quanto ao boicote de democratas à posse, ele disse que não iria comentar o assunto, mas garantiu que ele e Michelle estarão lá, brincando que já checou a previsão climática e se assegurou de que não fará tanto frio quanto no dia de sua primeira posse.
Sobre suas prioridades após deixar o cargo, Obama disse que pretende passar mais tempo com suas filhas e a mulher, com quem completa 25 anos de casamento este ano, e que deve escrever, observar os acontecimentos e também absorver com mais calma tudo o que passou em seus oito anos na Casa Branca.
Ele afirmou ainda que pode se sentir impelido a se manifestar se sentir que alguns valores centrais estiverem correndo risco, como por exemplo no caso de uma institulização de alguma forma de preconceito racial, de obstáculos para que pessoas votem, de restrições à liberdade de imprensa ou a rejeição aos filhos de imigrantes.
Obama também justificou sua decisão de encerrar a política de "pés secos, pés molhados" em relação a imigrantes cubanos, afirmando que a reaproximação dos países e a abertura de viagens entre eles pesaram no momento de avaliar porque cubanos ainda tinham um programa que não beneficia imigrantes de outros países da América Latina. Segundo ele, a política representava "um antigo modo de pensar que não fazia mais sentido".
Ao ser questionado sobre o tom de Trump na questão de Israel e Palestina, que sinaliza uma discordância com a opção de dois estados, Obama disse que investiu muita energia, tempo e esforços para conversas de paz, e que se tornou claro que não é possível forçar uma paz, mas sim facilitar, promover uma plataforma, encorajar.
Mas demonstrou preocupação porque o crescimento dos assentamentos israelenses "cria uma situação que torna a solução de dois estados impossível". Ele evitou, no entanto, comentar a posição de Trump. "Acho que minha visão está clara, vamos ver como a abordagem deles irá se desenvolver".
Obama disse, porém, acreditar que é inapropriado para um presidente recém-empossado mudar totalmente a política nesses casos. "Mas se ele for fazer isso, faça com consciência do que pode acontecer", alertou.
Obama falou ainda sobre o legado de sua presidência sobre os direitos LGBTQ. Ele afirmou que "não poderia estar mais orgulhoso" da transformação que ocorreu na sociedade norte-americana na última década em relação ao tema. "Quando você pega alguém da geração de Sasha e Malia, é difícil na cabeça delas alguém entender porque se deveria discriminar uma pessoa por causa de uma orientação sexual", exemplificou.
Ele disse acreditar que a questão dos direitos LGBTQ não é algo reversível, pois a mentalidade do país mudou. Entretanto, afirmou que isso não quer dizer que não haverão batalhas a serem enfrentadas no assunto.
Usando a Olimpíada do Rio como metáfora, Obama destacou as vantagens da diversidade para os EUA, lembrando que pessoas tão diversas como Simone Biles e Michael Phelps ganharam medalhas. "Eles são de todas as formas, cores, tamanhos, geneticamente diversos", afirmou.
Ainda falando sobre diversidade, ele disse que um dia os EUA terão uma mulher presidente, um latino presidente, um judeu presidente, um hindu presidente... "quem sabe?".
O presidente mencionou ainda sua preocupação com a democracia. "Nós somos o único país entre as democracias avançadas que torna mais difícil votar, ao invés de ser mais fácil", disse, lembrando que algumas restrições datam da época das leis racistas de Jim Crow.
Segundo ele, as pessoas precisam prestar mais atenção a isso e a noção de que as pessoas podem votar facilmente e não vão porque não querem é uma "notícia falsa", disse, usando um termo bastante adotado por Trump.
A última pergunta da coletiva foi feita por uma repórter que, segundo Obama, o acompanha desde que ele era senador. "Ela sempre me escutou, então o mínimo que posso fazer é dar a ela minha última resposta como presidente", brincou.
A questão foi sobre a relação dele e de sua mulher com as duas filhas adolescentes do casal, e sobre como a família lidou com o resultado das eleições, especialmente após um discurso esperançoso de Michelle.
Ao dizer que Sasha e Malia o surpreendem, encantam e impressionam sempre, o presidente afirmou que nos últimos tempos também aprendeu muito com elas, e que foi interessante ver como reagiram à eleição. "Elas ficaram desapontadas, prestaram atenção no que a mãe delas disse, e acreditaram naquilo", admitiu.
Mas Obama disse que tenta ensinar resiliência e esperança às meninas. "A única coisa que é o fim do mundo é o fim do mundo", disse. Ele afirmou ainda que não acredita que alguma delas tenha intenção de seguir uma carreira política.
Obama também usou as filhas como exemplo para garantir que é otimista em relação às próximas gerações. "Eu acredito neste país. Eu acredito no povo americano. Eu acredito que as pessoas são mais boas do que ruins... é verdade que em privado eu xingo muito mais do que em público. Às vezes fico triste e frustrado, como todo mundo, mas em meu coração acredito que os Estados Unidos ficarão bem", encerrou.
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