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EUA expulsam agentes de inteligência por atividade hacker em eleição

Obama responsabilizou agentes por roubo de dados e disse que diplomatas americanos foram assediados na Rússia

Por G1 30/12/2016 00h51
EUA expulsam agentes de inteligência por atividade hacker em eleição
Reprodução - Foto: Assessoria

Os Estados Unidos anunciaram nesta quinta-feira (29) uma série de sanções à Rússia por "sabotagem a processos e instituições eleitorais". Entre as medidas, está a expulsão de 35 agentes de inteligência russos em Washington e San Francisco e o fechamento de dois complexos dos serviços de inteligência da Rússia em Nova York e Maryland.

O presidente Barack Obama divulgou uma declaração sobre as medidas. Ele lembrou que sua administração alertou em outubro que a Rússia levou adiante ações que pretendiam interferir no processo eleitoral americano de 2016. Segundo ele, "o roubo de dados e a exposição de informações durante a eleição só podem ter sido coordenados pelos níveis mais elevados do governo russo".

Ele disse, ainda, que os diplomatas americanos viveram "um nível inaceitável de assédio" em Moscou por parte dos serviços de segurança russos e pela polícia ao longo do último ano.

Um porta-voz do presidente russo Vladimir Putin disse que Moscou lamenta as sanções e vai considerar medidas de retaliação.

Além de fechar os dois complexos de inteligência e expulsar os 35 agentes, os EUA puniram nove entidades e indivíduos, incluindo o GRU e o FSB, dois serviços de inteligência russos, quatro funcionários do GRU e três empresas que forneciam suporte para a GRU. A Secretaria do Tesouro também identificou dois russos que usaram meios cibernéticos para se apropriar de fundos e informações pessoais.

O governo americano declarou que não vai parar por aí e vai continuar a tomar uma série de medidas contra a Rússia, algumas das quais não serão tornadas públicas.

Agências de segurança dos EUA afirmaram que as atividades hackers por parte das agências de inteligência russas são “parte de uma campanha de uma década de operações cibernéticas direcionadas ao governo americano e seus cidadãos”.

Em um comunicado, as agências encorajaram as companhias de seguranças e o setor privado americano a procurar em seu tráfego de rede por sinais de atividades maliciosas.

Interferência na eleição

Obama afirmou que as sanções foram anunciadas após "repetidos avisos privados e públicos ao governo russo" e que são a resposta apropriada aos "esforços para danificar interesses dos EUA violando normas internacionais de comportamento". O presidente disse que todos os americanos deveriam se alarmar pelas ações da Rússia.

Segundo Obama, sua administração vai providenciar um relatório para o Congresso nos próximos dias sobre “os esforços russos para interferir em nossa eleição, bem como uma ciberatividade maliciosa relacionada ao nosso ciclo eleitoral em eleições anteriores”.

O presidente afirmou que os EUA e seus aliados devem trabalhar juntos para se opor aos esforços russos "para enfraquecer as normas internacionais estabelecidas de comportamento e interferir em governos democráticos".

Um alto funcionário americano, que deu entrevista à Reuters pedindo anonimato, disse à agência que os agentes de inteligência expulsos terão 72 horas para deixar o país. O acesso aos dois complexos será negado a todos os funcionários russos ao meio-dia de sexta-feira, acrescentou.

Ele afirmou que os russos que estão sendo expulsos exerciam atividades "não compatíveis" com a diplomacia.

O comissário de direitos humanos do Ministério de Relações Exteriores russo, Konstantin Dolgov, disse que as sanções são contraproducentes e vão prejudicar a restauração dos laços bilaterais entre Rússia e EUA, afirmou a agência Interfax.

Reação russa

A Rússia rejeitou "categoricamente" as acusações "infundadas" de Washington sobre sua ingerência nas recentes eleições nos Estados Unidos, declarou o porta-voz do Kremlin Dmitri Peskov. "Rejeitamos categoricamente as afirmações e as acusações infundadas sobre a Rússia", disse Peskov, citado pela agência de imprensa russa Ria-Novosti.

Preskov disse que as sanções americanas "destróem as relações diplomáticas com a Rússia" e são um sinal da "política externa agressiva de Washington".

Ele afirmou que Moscou questiona a eficiência das medidas, já que a administração de Obama vai acabar em três semanas, e que não tem certeza se o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, aprova o que foi divulgado.

O Kremlin disse ainda que Putin vai tomar uma decisão sobre a resposta russa e que a retaliação vai ser "adequada".

Konstantin Kosachyov, presidente do conselho do Comitê de Relações Exteriores da câmara alta do Parlamento russo, disse que a decisão de Washington representa "a agonia de cadáveres políticos", segundo a agência de notícias RIA.

Já a Embaixada da Rússia no Reino Unido postou um tuíte dizendo que a expulsão dos 35 russos dos Estados Unidos é um "deja vu da Guerra Fria". "Como todo mundo, inclusive o povo americano, ficaremos felizes com o final dessa administração desafortunada", diz a mensagem.

Trump e os republicanos

Mais cedo, quando o governo americano anunciou que divulgaria medidas contra a Rússia, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, pediu à Casa Branca que apresente "provas claras" de uma possível interferência russa nas eleições presidenciais.

"Se os EUA têm provas claras de que alguém interferiu em nossas eleições, devemos divulgá-las", disse em uma conferência telefônica com veículos de comunicação Sean Spicer, porta-voz da equipe de transição de Trump, que está passando os últimos dias do ano em seu clube privado Mar-a-Lago, em Palm Beach (Flórida).

Já os líderes republicanos Paul Ryan, John McCain e Lindsey Graham manifestaram seu apoio às sanções e pediram mais contundência.

Grande parte dos republicanos apontam Moscou como um dos principais perigos para os EUA, embora Trump tenha elogiado em várias ocasiões a figura de Vladimir Putin e defendido uma aproximação à Rússia.

Em comunicado, o presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Paul Ryan, se mostrou de acordo com a decisão de Obama. "A Rússia não compartilha os interesses dos Estados Unidos, mas procurou miná-los, semeando uma perigosa instabilidade no mundo todo. Embora a ação de hoje seja tardia, é uma maneira apropriada de terminar com oito anos de política fracassada com a Rússia", afirmou.

O senador republicano John McCain também apoiou as sanções contra a Rússia e manifestou que o país continua sendo "uma ameaça para os fundamentos da democracia".

McCain afirmou que duvida que os esforços da russos tenham afetado o resultado eleitoral dos EUA, embora garanta que tanto ele como o senador republicano Lindsey Graham impulsionarão sanções adicionais contra a Rússia.