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Chanceleres comunicam suspensão da Venezuela do Mercosul

Venezuela não cumpriu com obrigações, dizem chanceleres de Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai

Por G1 02/12/2016 17h38
Chanceleres comunicam suspensão da Venezuela do Mercosul
Reprodução - Foto: Assessoria

Os chanceleres da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, países fundadores do Mercosul, anunciaram nesta sexta-feira (2) que comunicaram a Venezuela de sua suspensão do bloco, segundo comunicado divulgado pelo Ministério de Relações Exteriores da Argentina.

Nesta quinta-feira, a Venezuela completou quatro anos de adesão ao Mercosul, e este foi o prazo máximo dado ao país pelos outros membros para que os venezuelanos cumprissem todas as normas de adesão. "No dia de ontem foi analisado o estado de cumprimento das obrigações assumidas pela Venezuela, constatando-se o estado de descumprimento", diz a nota.

Mais cedo, antes da divulgação do comunicado, a ministra de Relações Exteriores da Venezuela, Delcy Rodríguez, disse em sua conta do Twitter que o país não foi suspenso do Mercosul, reagindo a notícia da decisão pela suspensão, que foi antecipada nesta quinta pelas agências de notícias Reuters e France Presse, citando fontes ligadas ao bloco.

A Venezuela foi admitida no Mercosul em 2012, em uma manobra dos governos de Dilma Rousseff e Cristina Kirchner, da Argentina. Depois da suspensão temporária do Paraguai, causada pelo impeachment do ex-presidente paraguaio Fernando Lugo, Brasil e Argentina convenceram o Uruguai a acelerar a admissão da Venezuela, que só dependia da aprovação do Congresso paraguaio.

O país entrou oficialmente no bloco em dezembro do mesmo ano e, depois de ser readmitido, o Congresso do Paraguai, em uma negociação tocada pelo presidente Horácio Cartes, concordou em aprovar sua admissão para regularizar a situação.

A Venezuela, no entanto, descumpriu a maior parte dos prazos de adesão ao bloco, especialmente nas questões econômicas. O problema foi a solução encontrada por Brasil, Paraguai e Argentina, para evitar que o país assumisse a presidência pro tempore do bloco em julho deste ano, como deveria ter acontecido, e abriu caminho para a suspensão.

Divisão ideológica

Após uma década de forte crescimento econômico e políticas de esquerda ao redor da América do sul que levaram o Mercosul a abraçar a Venezuela, a suspensão agora enfatiza a divisão ideológica na região, que sofre com a queda nos preços das commodities e com a fragilidade econômica.

A decisão do bloco também isola ainda mais o governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, que é acusado de exacerbar as crises política, econômica e humanitária que assolam o país.

Reingresso

Para reingressar ao Mercosul --bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai--, a Venezuela terá de renegociar os termos de sua participação de acordo com as regras comerciais e de imigração do bloco, segundo informações divulgadas pela Reuters.

A Venezuela disse ao bloco que cerca de 130 normas, que inclui um acordo sobre direitos humanos, são "inadmissíveis". Isso sinaliza que qualquer negociação para uma readmissão deve ser tensa e levar anos, disse uma autoridade brasileira envolvida nas negociações com a Venezuela, citada pela agência.

"Eles não poderão reingressar no bloco se houver alguma coisa que vá fundamentalmente contra o Mercosul", disse a autoridade, que pediu por anonimato para poder falar livremente sobre o assunto.

'Entraremos pela janela'

Em setembro, o presidente venezuelano Nicolás Maduro reagiu a um ultimato feito pelos países fundadores do Mercosul, dizendo que se eles expulsassem seu país do grupo, ele entraria no bloco "pela janela".

"Expulsar-nos? Pois sim! Se nos mandam embora pela porta, nós entramos pela janela, mas do Mercosul ninguém tira a Venezuela", afirmou. "O que está tentando fazer a tríplice aliança dos governos neoliberais, de direita, antipopulares, pró-imperialistas de Paraguai, Brasil e Argentina não tem nome", disse Maduro.