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John Kerry mantém expectativa de se chegar a novo cessar-fogo na Síria

Desde 2011, conflito provocou a morte de mais de 300 mil pessoas

Por G1 16/10/2016 20h43
John Kerry mantém expectativa de se chegar a novo cessar-fogo na Síria
Reprodução - Foto: Assessoria

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, afirmou neste domingo (16), após se reunir com os ministros de Relações Exteriores europeus em Londres, na Inglaterra, que mantém a expectativa de se chegar a um novo cessar-fogo na Síria nesta semana.

"Há trabalho a ser feito nos próximos dois que poderia levar, pelo menos assim esperamos, a abrir as portas para um novo cessar-fogo. Mas será difícil", disse Kerry, em entrevista coletiva conjunta com o chanceler do Reino Unido, Boris Johnson.

Após a reunião, Kerry destacou ainda que os aliados ocidentais pretendem impor novas sanções econômicas contra a Síria e a Rússia motivadas pelas ações em Aleppo.

"Nós planejamos sanções suplementares e queremos ser claros, o presidente [americano, Barack] Obama não descartou nenhuma opção no momento", declarou.

O ministro das Relações Exteriores britânico, Boris Johnson, disse que foram propostas "várias medidas", "incluindo medidas suplementares contra o regime e seus apoios". "Estas medidas afetarão os autores de esses crimes", avisou.

Kerry minimizou a possibilidade de uma ação militar, acrescentando que seu dever era esgotar todas as soluções diplomáticas. "Conversamos sobre todos os mecanismos à nossa disposição, mas não vejo nenhum interesse por ir à guerra em nenhuma parte da Europa."

Kerry se encontrou em Londres com Johnson e os ministros das Relações Exteriores de França e Itália depois da reunião de sábado (15) em Lausanne, na Suíça, com os chanceleres da Rússia e das principais potênciais regionais envolvidas no conflito sírio.

"Tivemos uma discussão muito honesta com russos e iranianos sobre como podemos exatamente chegar ao acordo. Minha missão é esgotar todas as possibilidades para uma solução pacífica", disse Kerry.

Suíça

No sábado (15), em Lausanne, a conferência sobre a Síria da qual participaram representantes dos EUA, Rússia e os atores-chave do conflito terminou sem avanços concretos.

Os participantes na reunião, a metade defensores do regime de Damasco e a outra metade da rebelião síria, se levantaram da mesa após pouco mais de quatro horas de negociações em um hotel da cidade suíça.

A reunião, que apresentou um novo formato (os países europeus não foram convidados), foi precedida por uma reunião entre John Kerry e o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, que não se viam desde o início da ofensiva russo-síria, há três semanas, em Aleppo.

Os bairros do leste da cidade, controlados pelos rebeldes, permanecem sob fogo cruzado, sobretudo os de Hanano, al Maysar e Inzarat, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

De reunião em reunião

Antes mesmo de começar, os participantes não escondiam a baixa expectativa em torno da reunião na Suíça. O encontro aconteceu em um contexto extremamente tenso entre Moscou e os países ocidentais, que acusam a Rússia de ter cometido "crimes de guerra" em Aleppo.

EUA e Rússia negociaram durante quase um ano sobre a Síria em várias reuniões e impulsionaram dois acordos de cessar-fogo em 2016 que duraram poucas semanas.

O fracasso se deveu aos diferentes interesses neste conflito extremamente complexo, onde estão implicados uma dezena de países.

Desde que a trégua foi rompida no final de setembro e começou a ofensiva contra a parte da cidade em poder dos insurgentes, onde vivem cerca de 260 mil habitantes, mais de 370 pessoas foram mortas, a maioria civis, segundo o OSDH.

Entre as vítimas estão mais de 130 crianças, de acordo com a ONG Save the Children. O regime de Damasco e seu aliado russo garantem que os bombardeios a Aleppo são para "eliminar os terroristas".

Há dois dias, Moscou propôs que os rebeldes saíssem da cidade, prometendo-os segurança. Já a ONU projetou um plano para a saída dos combatentes do Fatah al Sham, ex-Frente Al Nusra.

Mas tanto a oposição quanto seus apoios temem que, sob o pretexto de evacuar os combatentes, o regime e a Rússia só busquem uma rendição forçada de Aleppo.

Desde março de 2011, o conflito na Síria provocou a morte de mais de 300 mil pessoas, deixando milhões de deslocados e refugiados.

Crimes de guerra

Na sexta-feira, Kerry disse que é necessária uma "investigação dos crimes de guerra" cometidos pela Rússia e pelo regime sírio em Aleppo, onde ambos mantêm uma "estratégia para aterrorizar os civis" com ataques a hospitais que vão "muito além do acidental".

"A Rússia e o regime devem ao mundo mais que uma explicação sobre os motivos pelos quais seguem atacando hospitais, instalações médicas, crianças e mulheres", disse Kerry, ao lado de seu colega francês, Jean-Marc Ayrault, no Departamento de Estado, em Washington.

"Esses são atos que exigem uma investigação apropriada de crimes de guerra, e aqueles que os cometeram deveriam prestar contas por essas ações", acrescentou.

Os frequentes bombardeios a hospitais da cidade síria, por parte da aviação nacional e da russa, "vão além do acidental, mas muito além", opinou Kerry. "Esta é uma estratégia coordenada para aterrorizar os civis e matar todos que estiverem no caminho de seus alvos militares", disse o secretário de Estado.