Símbolo de um tempo em que as águas do Velho Chico conduziam comércio, pessoas e cultura entre o Sertão e o Baixo São Francisco, a canoa de tolda retorna agora para celebrar outro tipo de travessia do cinema nacional. Neste domingo (16), os filmes vencedores do 18º Festival do Cinema Brasileiro, do 15º Festival de Cinema Universitário de Alagoas e do 12º Festival Velho Chico de Cinema Ambiental receberão o troféu Canoa de Tolda, premiação oficial do Circuito Penedo de Cinema.

Inspirado na embarcação tradicional do Baixo São Francisco, o troféu resgata o mesmo nome adotado na década de 1970 pelos antigos festivais de cinema realizados em Penedo, cuja mostra competitiva era dedicada aos filmes em Super-8, com produções majoritariamente alagoanas.

Naquela época, o prêmio entregue aos vencedores era uma réplica em madeira da embarcação, produzida artesanalmente por mestres locais. A peça atual é assinada pelo artista plástico Fred Correia e confeccionada em aço inox, mantendo a referência à embarcação de casco comprido, vela trapezoidal e estrutura robusta, usada por décadas para transportar cargas e passageiros rio acima.

“É interessante pensar que, assim como hoje, aqueles festivais tinham exibições, debates e atividades paralelas, mas tudo era feito com muita simplicidade. O troféu, uma réplica imensa em madeira, já representava a força do rio como identidade local. Estamos apenas continuando essa travessia”, explicou Sérgio Onofre, coordenador geral do Circuito Penedo de Cinema.

Neste ano, em comemoração à 15ª edição do circuito, o design do troféu ganhou nova leitura. “Ele sempre teve um formato horizontalizado, remetendo ao comprimento da embarcação original. Agora trazemos uma versão mais vertical, sem perder a essência da canoa de tolda, mas adaptando-a para uma estética mais simbólica”, disse.

Durante a abertura do Circuito Penedo de Cinema, na última segunda-feira (10) foi inaugurada uma escultura de 2,5 metros, réplica do troféu Canoa de Tolda, que ficará exposta no Cine Penedo.

A escolha pelo nome e pelo formato do troféu não é aleatória. Representa o compromisso do evento com a preservação da identidade local, em um movimento de valorização da memória e das raízes ribeirinhas da cidade.

“A canoa de tolda não é apenas um símbolo de transporte fluvial. Ela representa o elo entre o povo do rio e seu território, sua economia, sua cultura. Homenageá-la é também dar visibilidade à história viva do São Francisco”, destacou o historiador penedense Jorge Luiz.

Filho de pai pescador e construtor naval, ele lembra que as embarcações navegavam longas distâncias, transportando arroz, melancia, gado e até pedras usadas na construção civil, conectando Sertão e Baixo São Francisco.

Jorge explicou também que a canoa de tolda era uma embarcação de grande porte, com vela trapezoidal, proa curva e ampla, dotada de duas tábuas de bolina, com grandes placas de madeira fixadas lateralmente, que auxiliavam na navegação mesmo quando o vento era contrário.

A homenagem ganha ainda mais sentido com a chegada da embarcação Lusitânia, última canoa de tolda ainda existente, que será restaurada em Penedo, após ser tombada como patrimônio pelo IPHAN. “Ela representa um testemunho físico dessa história e fortalece ainda mais o simbolismo do troféu entregue aos vencedores”, acrescentou Onofre.

Sobre o Circuito

A 15ª edição do Circuito Penedo de Cinema acontece entre os dias 10 e 16 de novembro. O evento é promovido pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), pelo Governo de Alagoas, por meio da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult-AL), e pelo Instituto de Estudos Culturais, Políticos e Sociais do Homem Contemporâneo (IECPS). Conta ainda com o patrocínio da Prefeitura de Penedo, do Sebrae e do IMA. E apoio da Mistika, DOT, Fórum dos Festivais, Cardume, Fredyart, Super Connect e da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).

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