Interior

Polícia Militar desocupa fazenda em Arapiraca

Alvo de tensão política, Fazenda Laranjal estava ocupada pelo Movimento Sem Terra, que cobrava por reforma agrária na região

Por Davi Salsa / Sucursal Arapiraca 13/11/2025 08h08 - Atualizado em 13/11/2025 09h57
Polícia Militar desocupa fazenda em Arapiraca
Movimento Sem Terra havia ocupado a Fazenda Laranjal, em Arapiraca, e conviveu com decisão judicial e com tensões políticas - Foto: Davi Salsa

Cerca de 150 policiais do 3º Batalhão da PM foram cumprir ontem (12), o mandado de reintegração de posse na Fazenda Laranjal, no Acampamento Papa Francisco, entre os municípios de Arapiraca e São Sebastião, onde mais de 100 famílias de trabalhadores rurais sem terra ocupam a área desde abril do ano passado.

Lideranças do Movimento dos Sem Terra (MST) tentaram por várias horas negociar com o comandante da operação, tenente-coronel Carlos Alberto, do Grupo de Gerenciamento de Crise da PM.

A ação começou por volta das dez horas e também mobilizou viaturas do Corpo de Bombeiros, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Grupamento de Policiamento Aéreo e representantes do Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas (TJ/AL), das secretarias de Saúde, Assistência Social, Conselho Tutelar e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Alagoas.

Técnicos da Equatorial estiveram no acampamento para retirar os cabos de energia elétrica no local. O deputado estadual Cabo Bebeto (PL) e o vereador Vavazinho (PL), de Arapiraca, acompanharam a operação, que se estendeu até o final da tarde de ontem, para o cumprimento do mandado de reintegração de posse na Fazenda Laranjal, que tem área de aproximadamente 20 tarefas de terras.

As lideranças do MST cobraram o cumprimento do acordo da cessão de outra área após reunião, meses atrás, com representantes do Instituto de Terras de Alagoas (Iteral) e equipes da Polícia Militar de Alagoas. Como não houve consenso, as famílias acampadas decidiram manter a ocupação.

Em julho deste ano, o clima de tensão aumentou com a denúncia de disparos de arma de fogo contra as barracas de lona no acampamento. Agora, porém, a operação para o cumprimento do mandado de reintegração de posse ocorreu de forma pacífica e as famílias receberam a garantia de serem transferidas a outro acampamento.

Com o apoio do Grupo de Gerenciamento de Crise da PM, as famílias de trabalhadores e trabalhadoras sem terra puderam colocar os seus pertencentes dentro de caminhões, que transportaram todo o material até o Acampamento Eldorado do Carajás, localizado no município de Junqueiro.

COBRANÇAS POLÍTICAS

Em junho deste ano, o deputado estadual Ricardo Nezinho (MDB) cobrou ao Governo do Estado no sentido de dar suporte na desocupação da Fazenda Laranjal.

Nezinho observou que Arapiraca é uma cidade historicamente conhecida por ter realizado uma reforma agrária natural e que, após essa ação do MST, está vivenciando um momento inédito, que tem trazido certa tensão aos pequenos produtores rurais do município.

“Pela primeira vez na história, a cidade passa por uma invasão de terra do MST. A fazenda, de pouco mais de 20 tarefas, é registrada em cartório, legalmente, e tem comprovação produtiva na plantação de milho, mandioca e fumo”, informou o parlamentar.

o deputado Ronaldo Medeiros (PT) defendeu o MST, dizendo que acompanha de perto o trabalho que o Movimento realiza no Estado. “Ando em diversos assentamentos do MST, que é um movimento que busca, sim, a reforma agrária, mas é um movimento que produz, que pratica a agricultura familiar”, assegurou.

Por outro lado, também em aparte, os deputados Cabo Bebeto (PL), André Silva (Republicanos), Breno Albuquerque (MDB) e a deputada Cibele Moura (MDB) se associaram ao pronunciamento de Ricardo Nezinho. Todos questionaram as ações do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. Na opinião deles, ao invadir terras — produtivas ou não — o Movimento está cometendo crime.

“Eles sabem muito bem que terras invadidas não podem ser tituladas, jamais terão posse. Eles sabem disso e, mesmo assim, invadem”, criticou o deputado Cabo Bebeto, lembrando que há uma lei de sua autoria, promulgada em 2023, que trata da aplicação de multa e responsabilização dos líderes do Movimento em caso de invasão criminal.