Interior
Irmãs investem em souvenirs temáticos de Arapiraca
Cheio de afetividade e propósitos, negócio criado na pandemia vira sucesso no Agreste alagoano ao fazer homenagem à cidade
Do alto da Serra do Candará, em Palmeira dos Índios, a avó descia todas as madrugadas para vender banana na cidade. Uma rotina que já se repetiria com a filha, que comercializava goiabas. Até que ela, a filha, Laura, decidiu mudar o destino de uma família de mulheres marcadas pelo trabalho braçal.
“Nossa mãe era uma empresária do seu tempo. Ela alterou o destino de toda nossa geração”, enfatizam as irmãs Alesandra e Sirlane Moreira, proprietárias da Amoras Legacy, uma pequena empresa que produz souvenirs com a marca da cidade de Arapiraca.
E foi assim, vendendo uma vaquinha magra, alimentada uma noite inteira, para ser comercializada pela manhã ao padre da cidade, que nascia uma série de mudanças na vida da família Moreira.
Com a decisão de descer a serra, a mulher deu mais um passo em direção a Arapiraca, onde passou a residir e de onde as filhas fariam nascer um projeto cheio de afetividade e propósitos. O milagre começava a acontecer.
O ano era 2020 e o cenário, embora pandêmico, fez as duas irmãs decidirem abrir, em definitivo, a pequena empresa cujo nome traduzido pela dupla significa: “Legado das Amoras”, ou no caso, o Legado das Moreiras.
O pontapé veio com o lançamento de uma coleção que homenagearia a cidade que as acolheu: a coleção “Abrace Arapiraca”.
“Fomos acolhidas, abraçadas com generosidade. Era justo que a primeira etapa fosse retribuir tudo o que recebemos em forma desse abraço”, lembra a artesã-empresária Sirlane Moreira.
Quando decidiram investir num negócio próprio e com propósito, como gostam de afirmar, as irmãs tomaram decisões marcantes.
Alesandra, 42 anos, casada e mãe de um casal de filhos, era administradora da empresa do marido. Sirlane, casada, dois filhos, gestora de Recursos Humanos da mesma empresa.
Ambas se demitiram. Foi um processo natural e sem traumas, garantem. “Já havíamos dado a nossa contribuição. Era hora de fazermos algo que nos desse prazer e rentabilidade. Antes, o trabalho era para nos sustentar. Agora, conseguimos unir o prazer de fazer o que gostamos”, enfatiza Sirlane.
“A pandemia fechou portas, mas nós abrimos várias”
Mesmo com as dores da pandemia - elas inclusive perderam para a Covid-19 um irmão de apenas 50 anos de idade -, o negócio prosperou.
“As pessoas estavam muito sensibilizadas. Os presentes com cargas emocionais eram uma forma de carinho”, relata Alesandra, que desde menina gostava de papelaria e de trabalhos manuais.
“Onde as pessoas estavam fechando portas, nós abrimos várias”, observa a artesã e empresária de Arapiraca.
Hoje, em novo endereço e com um trabalho focado na venda de brindes e souvenires que a dupla fez o empreendimento crescer.
De sete dias da semana, a dupla dedica três deles para a confecção das peças. Nos outros dias, há expediente na pequena loja, situada em um edifício empresarial da cidade.
Todas as peças são produzidas por elas, a partir de materiais fabricados e comercializados no mercado local. O trabalho movimenta uma rede de fornecedores, garantindo emprego e renda para várias famílias na cidade, principalmente no setor de produtos voltados para o turismo, uma área nova em Arapiraca.
A ideia das irmãs empresárias é a de que a prática de presentear pessoas com peças temáticas sobre a cidade em que vivem seja algo marcante para todos.
“Grandes cidades já fazem isso e Arapiraca desperta essa paixão. O que é bom para o setor do turismo”, destacam. A fala encontra eco em ações de vendas que a dupla promoveu recentemente.
A Feirinha da Avenida é sucesso e costuma levar público cativo e interessado em eventos que unam comércio, boa gastronomia e música.
O trabalho não é considerado artesanato, mas manualidades. “É tudo reinvestido no negócio. Mesmo deixando uma vida estável e já consolidada, é difícil. Mas não nos arrependemos. Pelo contrário, estamos cada vez mais confiantes”, pontuam em voz uníssona de quem se entendem “irmãs em outras vidas”.
Entre aprender, fazer e vender, as Moreiras fazem seu legado. Iniciaram um bazar que já segue em sua quarta edição e movimenta a cidade e novos empreendimentos em Arapiraca.
“A ideia da feirinha foi excelente, e tivemos muito prazer em contribuir como o projeto”, afirma Sandra Bezerra, que faz parte da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do município.
Apoio do Sebrae para expandir o negócio
Os souvenirs confeccionados com a marca de Arapiraca viraram peças de turista e para turistas - uma novidade no mercado. “Pessoas já enviaram para os Estados Unidos, Canadá e Europa. O arapiraquense é muito ligado a seus ícones e consomem o que produzimos, seja para ter ou para presentear alguém”, celebram as irmãs-empresárias.
Elas contam que as peças variam de preço e tamanho. As menores são vendidas a R$ 15, e as maiores os preços variam entre R$ 50 e 150.
Planetário Municipal, time do ASA, Concatedral e a folha do fumo são reproduzidos em canecas, xícaras, papelaria e até toalhas de praia - uma aposta em turismo fora da cidade, uma vez que Arapiraca não tem litoral. Imagens e desenhos são feitos com a colaboração de artistas locais, como os artistas e designers Edimário Calixto e Rubens Rocha.
Agora, a dupla estuda novas coleções para levar as peças a outras cidades. Afinal, a ideia é ampliar atitudes de empatia e, claro, abraços.
Mas há muito o que vencer. Uma consultoria com o Sebrae foi iniciada recentemente e as ponderações do processo já começam a refletir na dinâmica da empresa.
“O marketing, por exemplo, precisa melhorar”, reconhecem as pequenas empresárias, além de outras abordagens planejadas.
Afinal, mesmo com a brilhante ideia da mãe, de passar uma noite inteira “engordando” uma vaca para vendê-la, o comércio mudou.
Noites em claro precisam ser usadas para vendas no E-comerce, talvez. Ou para sonhos com imagens afetivas e novos carinhos.
“Nossa felicidade está aqui. E vamos expandi-la, até que isso vire uma marca acolhida por mais e mais lugares. E que abrace o mundo”, palavras das irmãs Moreira, que desceram a serra para subir na vida.
Mais lidas
-
1Apenas 15 anos
Corpo do filho do cantor J Neto é encontrado na cozinha
-
2Confira
Consciência Negra: veja o que abre e fecha em Alagoas nesta quarta-feira (20)
-
3Consciência Negra
Jorge Aragão anima noite de sexta no Vamos Subir a Serra na Orla de Maceió
-
4Serviço
Veja relação do que abre e fecha no Feriado da Proclamação da República em Alagoas
-
5Marechal Deodoro
Ausência do superintendente da Codevasf gera indignação em reunião sobre projetos envolvendo mel e própolis vermelha