Interior

Médico afroindígena de Craíbas é exemplo de persistência e superação

Romário Silva venceu o preconceito e se formou em medicina aos 27 anos

Por Assessoria 27/01/2023 17h51 - Atualizado em 27/01/2023 20h18
Médico afroindígena de Craíbas é exemplo de persistência e superação
Romário Silva - Foto: Arquivo pessoal

Uma verdadeira história de superação para se inspirar. O afroindígena Romário Silva, 29 anos, é um jovem médico, descendente dos cariris - uma linhagem indígena ramificada em Alagoas. Filho do pedreiro Sebastião Martins dos Santos e da professora Maria Socorro da Silva. Romário se formou em medicina, aos 27 anos, pela Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal).

Vencendo barreiras e preconceitos, o jovem médico desde sua formação tem mudado a vida dos seus pacientes nas cidades onde atua: Feira Grande e Craíbas, ambas no Agreste de Alagoas.

Romário Silva concluiu o ensino fundamental na Escola Barros Paes, no Município de Craíbas, seu ensino médio foi no Instituto Federal de Alagoas, o antigo Cefet. Após concluir o curso médio-técnico, Romário Silva fez, por três vezes, o vestibular da Uncisal em Maceió, onde foi aprovado na terceira tentativa.

Em entrevista, o jovem médico falou de sua trajetória e das dificuldades que passou, mas garantiu que a persistência e a determinação foram combustíveis para ele conseguir seus objetivos.

O médico revelou que durante muitos momentos da faculdade, principalmente por causa das dificuldades financeiras, pensou em desistir. “Eu sentia algo diferente e por mais que demorasse eu iria me formar. Foram três tentativas, confesso que era meio frustrante pra mim. Cada vez que eu prestava a prova aguardava ansiosamente pelo resultado e, quando não via meu nome na lista de aprovados, chorava um pouco, mas no outro dia voltava para luta. Eu sabia que por mais que demorasse eu iria conquistar o meu objetivo. Só não consegue quem desiste. E desistir é uma palavra que não está no meu vocabulário”, revelou o agora doutor Romário.

Durante as duas primeiras tentativas de ingressar na faculdade, a própria família o desmotivava. “Eles diziam que eu não ia conseguir, que o curso era apenas para ‘filhinhos de papai’ e para pessoas que tinham condições financeiras. Eu era motivo de deboche quando meus primos iam para festas e eu ficava em casa estudando. Mas tive meus pais ao meu lado, meu pai e minha mãe sempre me incentivaram a não desistir. Eles diziam: Meu filho continue na luta”, ressaltou Romário Silva, completando que seu diploma é motivo de orgulho para os seus pais.

Câmara Municipal de Feira Grande homenageou o médico com o título de Cidadão Honorário da cidade (Foto: Arquivo pessoal)

Além de ser de uma família humilde, o jovem médico disse que ainda sofreu preconceitos por causa de sua cor e por ser um afroindígena. “A discriminação e o preconceito ainda persistem muito. Eu senti na pele, não só durante a minha trajetória até passar no vestibular de medicina, mas durante a própria faculdade. A minha turma era composta por 96% de pessoas brancas, então eu era um dos poucos negros da turma. Em certos momentos eu percebia olhares diferentes. Queira ou não, muitas pessoas acabam julgando a cor da pele. Comparando ela com nossa capacidade educacional e profissional. A gente sabe que a cor da pele, as orientações sexuais, entre outras coisas, não determinam nada sobre as pessoas”, pontuou.

O médico, que também é pós-graduado em dermatologia pelo Colégio Brasileiro de Medicina e Saúde CBMS) lançará em breve o projeto inédito “O dia que o Médico Foi Até Você”. O projeto tem como objetivo ir até a residência do paciente para saber como está a recuperação. Essa visita ocorrerá aleatoriamente sem distinção de raça, de cor ou de poder aquisitivo.

“A gente sabe que é muito comum as pessoas terem receio de ir ao médico. Um dos objetivos principais deste projeto é fazer com que as pessoas se conscientizem e passem a frequentar mais os serviços de saúde. A princípio, eu vou fazer visita aos pacientes que vieram até a mim se consultar. Vou pegar o contato do paciente e em um determinado momento eu irei lá, na casa dele, saber como foi a recuperação. O paciente não saberá o dia e nem a hora que irei visitá-lo. Será uma surpresa. É uma maneira de aproximar essa relação de médico/paciente. Isso não impedirá de levar saúde para aqueles locais mais remotos, para aquelas pessoas que não possuem condições de ir até o médico”, concluiu o médico, ressaltando que levará saúde para todos, de uma forma digna.

Recentemente, precisamente no último dia 5 de janeiro, a Câmara Municipal de Feira Grande homenageou o médico com o título de Cidadão Honorário da cidade. A indicação do nome foi do presidente da Casa Legislativa Alexandre Morcerf, o Alexandre do doutor Tadeu.

Na ocasião, os vereadores ressaltaram que Dr. Romário Silva atende em média mais de 200 pessoas por dia na Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24 horas) de Feira Grande.

A história do Dr. Romário será contada pelo o Projeto Valores da Nossa Terra, no programa na TV Liberdade.