Interior

Destruição: moradores tentam salvar o que restou após enchentes em cidades ribeirinhas

Famílias vítimas das enchentes apontam que tragédia foi maior que a de 2010

Por Lucas França com Tribuna Hoje 04/07/2022 18h59
Destruição: moradores tentam salvar o que restou após enchentes em cidades ribeirinhas
Destruição por todos os lados é o que foi visto nessa segunda em cidades do interior de AL - Foto: Edilson Omena

As famílias afetadas com as enchentes deste fim de semana em cidades ribeirinhas estão retornando aos poucos para suas residências e tentando salvar o que a água dos rios que margeiam essas cidades não levou. Nesta segunda-feira (04), foi possível perceber o rastro de destruição em várias cidades da Zona da Mata e Agreste de Alagoas.

Em São José da Laje, a Praça de Eventos da Cidade, conhecida por ser o cartão postal do município, ficou completamente destruída após o Rio Mundaú transbordar neste fim de semana. Os coqueiros foram arrastados pelas águas, bancos e monumentos destruídos. E o mesmo aconteceu em várias residências e estabelecimentos comerciais em cerca de 10 ruas.

A aposentada Maria Vieira de Amorim, 72 anos, conta que foi perda total e não teve como salvar nada. “Perdi completamente tudo, aqui na minha casa água subiu cerca de três metros. Só a casa que não foi ao chão. Roupas, móveis e até a feira que tinha acabado de fazer a cheia levou. O que restou foi minha vida, e agradeço a Deus por isso’’, disse a aposentada lembrando que com o muro da casa caiu ela pegou o filho que tem necessidades especiais e corrido. “Deu tempo de correr e foi Deus ter acontecido de dia, por isso não houve registro de mortes. Agora, é limpar a casa e seguir em frente, quando possível compramos as coisas, se não, vamos agradecer pela vida. SE Deus enviou toda essa água é por algum motivo’’, completou.

Aposentada Maria Vieira mostra até onde água chegou (Foto: Edilson Omena)



Dona Maria comenta ainda que no momento não só ela, mas vizinhos e amigos necessitam de ajuda. “Aqui estamos precisando de tudo, de roupa a alimentos. Eu estou apenas com essa roupa do couro, mas o que ficou dentro de casa não vou jogar. Vou lavar e tentar usar depois, pois não terei como comprar tudo novamente’’.

Maria Eduarda, dona de casa, grávida do segundo filho disse que não tem forças nem para chorar. “A situação é caótica. Perdemos tudo, até o enxoval do meu filho e o berço a água levou. Nãos ei o que fazer. Os vizinhos estão ajudando na limpeza da casa, mas vamos ficar no chão’’.

Já Eliane Barbosa da Silva, também morada de São José da Laje, disse que teve um pouco mais de ‘sorte’. “Diferente de muitos vizinhos e parentes, eu ainda consegui salvar ao menos a cama, geladeira, fogão e algumas roupas. Mas, isso foi o que achei essencial para salvar enquanto a água entrava. Graças a Deus tudo aconteceu por volta das 9h da manhã. Essa enchente prejudicou a todos’’, Eliane dizendo que ficaram hospedadas na casa da irmã com as sete pessoas que moram na residência. “Voltamos hoje [segunda-feira, 04] quando a água baixou.

Praça da cidade ficou embaixo d'água (Foto: Edilson Omena)



Assim como dona Maria, Eliane ressalta a necessidade das vítimas neste momento e crítica à falta de ações pontuais da Prefeitura da cidade. Estamos precisando de medicação, produtos de higiene, colchões, agasalhos e em especial cesta básica. Alimentos, itens de higiene pessoal. Não estou pedindo só por mim, pois amigos e parentes que moram em outras cidades estão me ajudando, mas falo pelas demais vítimas’’.

Moradores de Murici comparam tragédia como terremoto e afirmam que foi maior que a de 2010


Em Murici, também na Zona da Mata, a segunda-feira (04) foi de limpeza e contabilização de prejuízos. Caminhões e tratores iniciaram logo pela manhã a limpeza das ruas. Por lá, o sinal de destruição parece cena de filmes de terror. Os moradores comparam a tragédia com um terremoto e afirmam que a enchente foi maior que a 2010, com a diferença que não houve registros de morte.

Imagens feitas pelo repórter fotográfico Edilson Omena mostra como ficou a cidade, mesmo já com grande parte das ruas limpas.

Em Murici, as cenas parecem de filme de guerra, comprado ainda com terremoto (Foto: Edilson Omena)



A Prefeitura de Murici, por meio da Defesa Civil Municipal e da Secretaria de Assistência Social, segue monitorando e prestando toda assistência a população afetada pela enchente. Os desabrigados estão alocados em algumas escolas da rede municipal de educação.

O prefeito Olavo Neto, assinou no sábado (02) um decreto que declara a Situação de Emergência no município em decorrência do alto volume de chuva dos últimos dias. A medida vale por 180 dias. Com a situação emergencial, todos os órgãos municipais podem atuar nas ações de respostas necessárias para diminuir os efeitos causados pelas chuvas.

Em União dos Palmares, a situação segue a mesma que em Murici e São José da Laje, Várias Famílias precisaram deixar suas moradas para se abrigarem em alojamentos temporários por conta das inundações e transbordamento do rio.

Em União, as famílias já retornaram para limpar a sujeira deixadas pelas águas (Foto: Edilson Omena)



Muitas famílias perderam móveis e objetos pessoas. Ana Clara conta que estava em casa quando a água começou a entrar nas ruas, mas não achava que iria invadir as casas. “Foi tudo muito rápido, não tinha como salvar as coisas. A gente entra em desespero e nem pensa direito no que fazer, só em salvar a vida’’.

Em Rio Largo, as vítimas também começaram a retornar para suas moradias e contabilizar os prejuízos.

“Foi tudo tão de repente que a gente nem pensou em salvar nada, quem iria imaginar que água chegaria aqui e ainda cerca de três metros. Nessas horas a vida é mais importante. Corremos para casa da minha cunhada deixando tudo para trás. Estamos vivos e iremos começar do zero. Vamos lutar novamente e reconquistar tudo – mas, não nego que olhando assim, bate uma vontade chorar, um desespero porque não sabemos nem por onde começar, mas tento pensar no ponto positivo que é de estarmos vivos’’, disse Vitória Valkíria.

Vitória Valkíria, diz que não tem o que contabilizar de prejuízos, pois foi perda total (Foto: Edilson Omena)



''Chuvas devem continuar em Alagoas, mas níveis de rios e lagoas devem diminuir''


De acordo com a Sala de Alerta da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), a chuva deve continuar a cair no estado durante esta semana, porém a previsão é de que os níveis de rios e lagoas fiquem mais baixos nos próximos dias. A informação foi passada pelo meteorologista Henrique Mendonça, nesta segunda-feira (04).

"Os rios, tanto Mundaú, quanto Paraíba estão baixando. O Jacuípe está transbordado nesse momento, mas a tendência também é de diminuição desse nível. Não vai ser de imediato, vai demorar por conta do escoamento de muita água que ainda desce do Mundaú e Paraíba, que afetam as lagoas Mundaú e Manguaba, na região de Marechal Deodoro e de Maceió, como Vergel, Joaquim Leão, e Trapiche", explica.

Durante a tarde, a Sala de Alerta da Semarh divulgou, um novo alerta hidrometeorológico mostrando a situação dos principais rios e lagoas que banham o estado. E segundo os dados do órgão, os níveis dos rios Mundaú e Paraíba e das lagoas Mundaú e Manguaba mantêm-se elevados, porém com tendência de rebaixamento gradual.

Ainda de acordo com o especialista, a previsão é de chuva intercalada com tempo seco durante todo o mês. “Chuva deve ser contínua em todo o mês de julho, mas com intercalada com tempo seco’’.

Ele explica ainda que por estarmos dentro da quadra chuvosa à perspectiva é que julho chova de maneira expressiva. “Litoral, Zona da Mata, parte do Agreste, são regiões que nos preocupa. Além dos rios, as áreas de encosta também preocupam, pois o solo está encharcado, e promove movimentação de massa e deslizamento de terra", explica Mendonça.