Interior

Em São Brás, tremor leva medo a moradores

A terra tremeu duas vezes; Agreste e Sertão de Alagoas são as regiões com maior incidência de abalos sísmicos

Por Tribuna Independente 02/09/2020 09h01
Em São Brás, tremor leva medo a moradores
Reprodução - Foto: Assessoria

“É fim dos tempos”. Esta foi a frase mais comentada na cidade de São Brás, localizada no Agreste de Alagoas, nos últimos dois dias. É que por lá, a terra tremeu duas vezes causando medo entre os moradores.  O último abalo sísmico sentido foi na manhã de ontem (1), e deixou a pequena população de seis mil habitantes receosa. Agreste e Sertão são as regiões com maior incidência de tremores no estado.

De acordo com o Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, o abalo também foi sentido no município de Canhoba e Amparo, região Norte de Sergipe.

O professor Humberto Barbosa, que é coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), explicou que tremores de terra sempre existiram, porém com proporções menores e muitas vezes passados despercebidos pela população.

“O abalo foi sentido por duas vezes em São Brás, mas não está descartado que em municípios vizinhos também tenha ocorrido e a população nem percebeu”, frisou o professor.

O prefeito de São Brás, Marcos Sandes, disse que a população está assustada e que o tremor de terra é o assunto do momento na cidade. “Foram dois dias de tremor, um na segunda-feira (31) que foi mais leve, e o de terça-feira (1) que fez medo, foi mais forte”, contou.

“As pessoas não estão acostumadas, principalmente em cidade pequena, ficaram apavoradas, mas a equipe da Defesa Civil do município está monitorando a situação e qualquer anormalidade, logo os moradores serão avisados no sentido de prevenir para algo maior”, ressaltou.

Victor Vasconcelos, procurador do município de São Brás, contou que o fenômeno causou medo e estranheza para os mais velhos. “Minha mãe e minhas tias ficaram com medo, nunca tinham sentido tanto com esses tremores de terra como agora, estão mais intensos, antes não eram assim. O pessoal mais velho comenta que é o fim dos tempos”, disse.

De acordo com o professor Humberto Barbosa, nesta terça-feira (1) foi registrado um forte tremor de 6,8 de terra no Chile o que pode ter feito acomodar terreno em várias localidades, incluindo o Nordeste. No domingo, o professor lembrou outra placa Caribenha registrou um grande tremor, o que segundo ele, pode também ter provocado indiretamente os tremores na Bahia. “O Brasil não sofre influência de placa diretamente, mas sofre consequência secundária destas placas”, pontuou.

Conforme o docente, no Nordeste não existem placas tectônicas, mas sim falhas geológicas que podem ter proporcionado o fenômeno natural. Humberto refrisou que pequenos tremores ocorrem com certa frequência em diversas partes da escala global que sequer são percebidos pelos humanos.

“Mas de domingo para cá estão havendo pequenos tremores com mais incidência. Na Bahia, por exemplo, foram registrados 12 abalos”, afirmou. “Preocupa porque pode voltar a tremer, é inevitável e não tem como prevenir... Então é importante que as prefeituras estejam em alerta para resguardar a população no caso de uma evacuação, inclusive com a emissão de sinais sonoros para avisar de algo mais sério”, ressaltou o professor.

Abalos desde 70

Aderson Nascimento, coordenador do Laboratório Sismológico da UFRN, destacou que há registros da sismicidade em Alagoas desde a década de 1970, com registros de tremores em cidades como: Junqueiro, Pilar, Cajueiro, São Brás, no litoral e agora, mais recentemente, em Canhoba um tremor de magnitude 2.7 que pôde ser sentido em Alagoas.

“A gente acredita que a atividade sísmica é resultante da reativação de falhas, que é um fenômeno muito semelhante ao que está acontecendo no Estado da Bahia” observou.

“Até hoje, os eventos dessa região não apresentaram magnitude acima de 3.4. Em 4 de março de 1972 houve um tremor em Junqueiro com essa magnitude. Eventos dessa magnitude podem ser percebidos pela população local, pois trata-se de abalos de pouco profundidade, algo entre 8 e 10 quilômetros os menos. (quanto mais rasos os tremores, mais são sentidos pela população)”, explicou.

Aderson Nascimento avalia que é comum que a população fique apreensiva ao sentir esses tremores, especialmente porque não está acostumada a sentir esse tipo de fenômeno.

Ele afirmou que especificamente em Canhoba, há registros da sismicidade desde 2016. No dia 16 de junho de 2016 houve um tremor de magnitude 2.5.

Mais recentemente, no dia 31 de agosto, houve um evento de magnitude 1.8, e nesta terça-feira (1), houve o evento de magnitude 2.7. “Então, trata-se de uma falha que está sendo reativada e a gente acompanha através de uma estação da Rede Sismográfica Brasileira que está localizada no distrito de Tacaratu”.

O coordenador do Laboratório Sismológico da UFRN concluiu esclarecendo que essas falhas são movimentos naturais de placas tectônicas sobre a qual o Brasil está, e que a sul-americana, possui falhas ativas que concentram energia, e quando essa energia é liberada ocorrem os tremores de terra.