Interior

Óleo avança em regiões de mangue de Coruripe e Porto de Pedras

No Rio Coruripe avanço chega a 7 km na foz; já no Rio Manguaba avanço foi identificado até 4,5 km acima

Por Evellyn Pimentel com Tribuna Independente 25/10/2019 08h56
Óleo avança em regiões de mangue de Coruripe e Porto de Pedras
Reprodução - Foto: Assessoria
As manchas de óleo que vêm afetando praias em toda a costa nordestina chegaram também a manguezais dos rios Coruripe, no Litoral Sul, e Manguaba, no Litoral Norte do estado. O monitoramento constatou avanço das manchas em 4,5 km no Rio Manguaba, em Porto de Pedras, e 7 km no Rio Coruripe. Em Coruripe o diagnóstico foi feito pelo Instituto Amigos da Natureza. Segundo Zilma Borges, a equipe avançou sete quilômetros acima da foz e detectou a presença de óleo “puro”. Foram 75 quilos retirados do Rio Coruripe no trabalho realizado ontem (24). “O Instituto Amigo da Natureza junto com a Associação de Ostreicultores de Barreiras de Coruripe realizaram monitoramento e limpeza do Rio Coruripe. Nós subimos o rio dentro da foz até aproximadamente 8km até o estuário superior e pudemos constatar a presença de óleo, tanto de piche quanto de óleo nas margens. A gente não pode ir mais por conta da maré. Nas margens ainda tem presença de óleo. Foram 75 quilos de óleo puro, tiramos o máximo possível de areia. Nós entregamos no Centro de Defesa Ambiental da Petrobras”, destacou Zilma. Já no Rio Manguaba, em Porto de Pedras, o monitoramento do Ibama constatou a presença de óleo em 4,5 km na área de mangue. “O mangue é uma região importante e rica em nutrientes, é berçário de diversas espécies. É ali que boa parte das espécies se reproduzem. Uma vez que esse óleo chegue vai prejudicar a cadeia alimentar como um todo. O manguezal faz a ciclagem do carbono, nitrogênio, fosforo do ambiente. Uma vez que o óleo chegue ele interrompe esse ciclo. Desestabiliza e ao mesmo tempo vai matando a região que é super importante para as espécies”, explica o professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Emerson Soares. Na avaliação de Emerson, que é doutor em Biotecnologia e Pós-Doutor em Ciências Aquáticas, a chegada do material aos estuários causa ainda mais preocupação. “É gravíssimo, é questão de emergência ambiental. É caso de pegar todos os recursos disponíveis, sejam humanos, sejam financeiros. Isso vai ter, já tem, prejuízos inestimáveis. Tenho imagens de mergulho em Pernambuco. Também vamos fazer mergulhos em Ipioca. É uma situação de calamidade pública. Atingiu mangues. Atingiu mangue do Rio Manguaba, em Porto de Pedras, do Rio Coruripe. Pode chegar sim ao São Francisco. Temos uma situação nunca vista, nunca vi algo assim na minha vida. Tenho mais de 20 anos trabalhando com meio ambiente, já trabalhei no Ibama, no Amazonas com várias situações, mas essa é a mais terrível que estamos passando. Isso vai perdurar por anos, porque envolve berçários de espécies, reprodução, turismo”. Corais em Paripueira e Ipioca serão avaliados   Uma ação envolvendo equipes de mergulho está sendo organizada para o fim de semana na Praia de Ipioca, em Maceió, para a observação dos corais da região. A Prefeitura de Coruripe também solicitou o trabalho de mergulhadores para identificar os danos e se há presença de petróleo cru em profundidade. “Vamos fazer uma varredura nos corais de Ipioca e Paripueira para detectar se há óleo na região dos corais”, pontua Emerson. [caption id="attachment_335615" align="alignleft" width="300"] Professor Emerson Soares destaca gravidade da chegada do óleo aos estuários: “é uma situação de calamidade” (Foto: Edilson Omena)[/caption] O professor reforça o alto nível de toxicidade do óleo, segundo ele o produto acumula nos organismos e pode levar à morte de animais ou comprometimento de ecossistemas. “É um desastre sem precedentes. O óleo está penetrando também na região de mangue, está ficando no fundo da praia e em todos esses locais temos organismos microscópicos que são importantes na cadeia alimentar. Como também temos organismos maiores que se alimentam deste e se contaminam quando estão em regiões de mangue, corais, fundo do mar. Um dos principais danos é que essas toxinas se acumulam, geralmente esse óleo possui altos níveis de metais pesados que vão acumulando. Cada vez que o animal mantem contato com o material infectado vai se intoxicando. E as pessoas ao se alimentarem, os organismos vão acumulando também. É preciso lembrar que esse petróleo é altamente tóxico”, acrescenta. Até o fechamento desta edição, o Instituto do Meio Ambiente (IMA) havia confirmado apenas a presença de óleo no manguezal do Rio Manguaba. Além disso, o órgão informou que mais de 720 toneladas de resíduos contaminados haviam sido retirados das praias alagoanas desde o início do mutirão de limpeza. Enquanto isso, o monitoramento segue e há registro oficial nos municípios de Feliz Deserto, Coruripe, Piaçabuçu, Roteiro, Barra de São Miguel, Japaratinga e Maragogi, que continuam com ações de limpeza nas praias. De acordo com o mapa atualizado do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), 233 pontos da costa nordestina foram afetados até agora. Em Alagoas, já são 40 pontos em 13 municípios.