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 Emancipação Política de Arapiraca foi mudada

Aniversário do filho do emancipador, o jornalista Serapião Rodrigues, motivou alteração; data oficial foi 31 de maio de 1924

Por Sucursal Arapiraca com Texto: Davi Salsa 14/09/2019 10h44
 Emancipação Política de Arapiraca foi mudada
Reprodução - Foto: Assessoria
  No próximo dia 30 de outubro, Arapiraca comemora seus 95 anos de emancipação política. Oficialmente, o então povoado pertencente a Limoeiro de Anadia foi elevado à condição de município no dia 31 de maio de 1924, por meio de sanção do projeto de lei pelo governador Fernandes Lima, que encaminhou o telegrama ao Major Esperidião Rodrigues, o grande emancipador de Arapiraca. Contudo, a festa da emancipação ocorreu cinco meses depois. Os registros históricos não relataram, até agora, o verdadeiro motivo para a festa ter sido transferida para o dia 30 de outubro de 1924. A reportagem da Tribuna teve acesso a um depoimento exclusivo da neta do emancipador, o Major Esperidião Rodrigues, a servidora pública aposentada Roza Rodrigues, de 82 anos de idade. Na entrevista inédita, concedida ao documentário audiovisual Raízes de Arapiraca, um projeto idealizado pelo deputado estadual Ricardo Nezinho (MDB), Roza Rodrigues revela que a mudança da festa para 30 de outubro foi motivada por conta do aniversário do filho do emancipador, o jornalista Serapião Rodrigues, que morava em Maceió. O acervo audiovisual reúne, até agora, mais de 80 relatos inéditos de nativos e antigos moradores da cidade. Filha de Gundizalves Rodrigues, o filho mais novo do segundo casamento do Major  Esperidião Rodrigues, no relato feito ao documentário audiovisual Raízes de Arapiraca, Roza Rodrigues lembra que seu pai havia relatado, certa vez, que o jornalista e filho de Esperidião Rodrigues estava vindo para Arapiraca comemorar o aniversário com familiares. “Por essa razão, meu avô aproveitou a vinda do filho jornalista para comemorar o aniversário dele e da festa da cidade no mesmo dia”, esclarece Roza Rodrigues, desvelando, depois de 95 anos, um dos fatos mais importantes da história do município. O depoimento exclusivo da neta de Esperidião Rodrigues deixa aflorar o que, até agora, ainda não havia sido explicado com clareza pelos livros já publicados sobre a emancipação de Arapiraca. Saga dos 40 dias Antes de tornar-se o emancipador de Arapiraca, o líder Esperidião Rodrigues enfrentou uma verdadeira via-crúcis para transformar o povoado pertencente a Limoeiro de Anadia em município. Em abril de 1914, Domingos Lúcio da Silva, um sobrinho dele, entregou uma carta de lideranças locais pedindo a Esperidião Rodrigues para liderar os rumos da emancipação do povoado de Arapiraca da Vila de Limoeiro de Anadia. Em outubro, ele fez uma viagem a cavalo até Maceió, para falar com autoridades do estado sobre o processo de emancipação política e a votação do projeto pelos deputados na Assembleia Legislativa. Jornalista foi frequentador do palácio Durante 40 dias, Esperidião Rodrigues passou a ser um frequentador assíduo do Palácio do Governo. Quando ele chegava, o pessoal dizia: “Lá vem o homem dos olhos azuis novamente”. Nesse período, ele teve um contato com o deputado Odilon Auto, de quem conseguiu a aprovação de assinar a proposta e apresentar aos demais parlamentares e ainda ao secretário da Fazenda, Castro de Azevedo. No dia 31 de maio de 1924, Esperidião Rodrigues recebeu um telegrama oficial do governador Fernandes Lima informando que havia acabado de sancionar o projeto de lei criando o município de Arapiraca. Meses depois, no dia 1º de janeiro de 1925, Esperidião foi eleito, através do voto popular, o primeiro prefeito de Arapiraca, tendo como vice José Zeferino de Magalhães. A dupla governou o município até 1928. Em 1930, Esperidião foi eleito pela segunda vez prefeito, tendo como seu vice Antônio Romualdo. Os dois continuaram no comando do governo municipal até 1932, quando aconteceu a Revolução Constitucionalista e os prefeitos passaram a ser nomeados pelos interventores. Cultivo do fumo impulsionou desenvolvimento Desde o início do seu povoamento, Arapiraca sempre teve uma atividade econômica que se destacava pelo empreendedorismo de sua gente. A feira livre, considerada por décadas uma das maiores do interior nordestino, fortaleceu o comércio local. Mas o ápice do desenvolvimento econômico foi quando o agricultor Francisco de Paula Magalhães enxergou na cultura fumageira o ‘ouro negro’ que iria alavancar o crescimento da cidade. A partir de 1950, Arapiraca começou a receber firmas internacionais de exportação do tabaco para vários países, dando início a um ciclo de desenvolvimento que tornou a cidade conhecida em todo o país como a Capital Brasileira do Fumo. Cultivado em pequenas propriedades rurais, o fumo milhares de empregos no campo e na cidade, fortalecendo ainda mais o comércio local, o setor hoteleiro e da prestação de serviços. Entre as décadas de 1980 e 1990, a cultura fumageira sofreu forte abalo com os acordos internacionais na área da saúde pública. Os produtores de Arapiraca foram obrigados a reduzir a área plantada e passaram a cultivar com maior intensidade a mandioca e  hortaliças. Mesmo assim, a economia de Arapiraca seguiu o ritmo de crescimento, consolidando-se como polo regional de desenvolvimento. Hoje, com população estimada em 231.747 habitantes, segundo o mais recente levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade é a nona maior metrópole do interior nordestino.