Interior

Camponês planta mais de 300 culturas e cria agrofloresta no Agreste alagoano

Agricultor recupera espécies nativas como a umburana, catingueira e mororó em associação com frutíferas e palma forrageira no município de Craíbas

Por Texto: Davi Salsa – Sucursal Arapiraca com Tribuna Independente 22/06/2019 08h37
Camponês planta mais de 300 culturas e cria agrofloresta no Agreste alagoano
Reprodução - Foto: Assessoria
O amor pela natureza, o uso da tecnologia social e os saberes populares estão transformando uma propriedade rural quase estéril em um diversificado sistema agroflorestal no município de Craíbas, no Agreste alagoano. Dos 4,5 hectares de terras, localizados na Fazenda Santa Rosa, o agricultor Florisval Alexandre Costa, de 66 anos, reservou um hectare para o plantio e preservação de mais de 300 espécies nativas, a exemplo da catingueira, mororó, umburana e dezenas de outras culturas em associação com frutíferas e a palma forrageira, que é a maior fonte para alimentação de rebanhos na época da estiagem. Sem o uso de agrotóxicos, Florisval Alexandre plantou diferentes variedades na mesma área. Ele conta que a adubação é feita com o próprio material produzido pelas espécies nativas, que geram nutrientes e ajudam no enriquecimento do solo de sua agrofloresta. Como chove pouco no município de Craíbas, o camponês resolveu construir um barreiro. “O reservatório é quem salva a minha situação. Estou fazendo agora uma experiência com o cultivo do inhame e também um pouco de amendoim. Muitas vezes, a gente tem que usar bastante água para poder manter essas plantas vivas”, explica. A palma forrageira é a principal cultura da agrofloresta, que também divide espaço com aroeira, angico, craibeira, pau d’arco, cedro, arapiraca, braúna, pau ferro, trapiá, mandacaru e outras espécies da região. O camponês ainda produz batata, mandioca, entre outras raízes em associação com frutíferas, incluindo mamoeiro, pitangueira, cajueiro, mangueira, goiabeira, acerola e abacaxi. “Há três anos que não consigo tirar uma semente de milho e de feijão aqui. Então, resolvi plantar espécies adaptadas para alimentação dos animais, como o mororó, umbuzeiro, imburana, catingueira e outras plantas”, acrescenta Florisval Alexandre, que também cultiva gliricídia e leucena, que são muito resistentes à seca e muitos boas para produzir ração animal. Luta pela terra e movimentos sociais Na grande seca de 1970, Florisval Alexandre atuou em grupos de jovens ligados à Igreja Católica. Ele conta que fez parte de grupos de animação de cristãos no meio rural, a ACR, participando de encontros e estudos de formação na Região Nordeste e estados do Sudeste. “O maior objetivo, dentro da fé cristã, era atuar nas lutas pela posse da terra, criação de grupos para organizar o movimento sindical, incluindo mulheres e jovens, luta para eleger vereadores, prefeitos e deputados comprometidos com a causa dos pobres, desprotegidos e oprimidos na sociedade”, acrescenta. O agricultor também participou de treinamentos para convivência no semiárido e conseguiu fazer um curso de Agroecologia no Serviço de Tecnologia Alternativa (Serta) e foi um dos fundadores do Movimento Sem Terra (MST) em Alagoas, tendo sido o primeiro dirigente do movimento sindical no município de Craíbas. No ano de 1986, o camponês foi candidato a deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores (PT). “Era uma candidatura do meio rural, para que a gente pudesse ter acesso a esse campo, né?”, comenta Florisval Alexandre, que dois anos depois teve seu nome lançado como candidato a prefeito do município agrestino. “Com amigos e amigas, criamos o Grupo de Catingueiros e Catingueiras do Semiárido Alagoano, e também dedico meu tempo, já que eu não posso trabalhar por conta de um grave acidente, também faço algumas coisas nas horas vagas, como a coleta de sementes nativas, produção de viveiros e plantação de mudas em propriedades de vizinhos”, completa. Devido à grande variedade de espécies nativas em um mesmo lugar, a agrofloresta recebe, periodicamente, a visita de pesquisadores com turmas de alunos e ambientalistas para conhecerem de perto o rico bioma, que foi credenciado pelo professor Roberto Mendes, do quadro do Serta, como Propriedade de Referência da Agroecologia.