Interior

Trabalhadores decidem fechar usina Santa Maria nesta terça-feira (31)

Manifestação é contra atraso de salários e não recolhimento de direitos

Por Claudio Bulgarelli com Tribuna Independente 31/07/2018 09h03
Trabalhadores decidem fechar usina Santa Maria nesta terça-feira (31)
Reprodução - Foto: Assessoria
Continua e se agrava cada vez mais a crise da indústria açucareira em Alagoas. Depois de paralisarem suas atividades no mês passado, agora, os trabalhadores rurais de Porto Calvo decidiram que vão fechar a indústria açucareira Santa Maria, na manhã desta terça-feira, em decisão tomada na semana passada durante uma assembleia realizada no Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município. Motivos: Além dos vencimentos em atraso e direitos trabalhistas não recolhidos, os funcionários também vão exigir a saída do interventor estatutário Leonardo Oiticica. Com ânimos exaltados, a assembleia dos trabalhadores rurais chegou à conclusão de que o melhor caminho para pressionar a direção era tentar fechar a usina. O presidente do Sindicato da classe, Josival Vicente de Melo, fez um relato do sofrimento que estão passando os mais de 700 funcionários, muitos até passando fome. Ele foi categórico em afirmar que a empresa está devendo três meses de salários aos colaboradores, além dos três últimos 13º salários, férias aos servidores e o não recolhimento de direitos trabalhistas, como o fundo de garantia. O presidente do sindicato afirmou que a única opção era realmente tentar fechar a indústria. Pela manhã haverá uma manifestação pacífica na porta da usina com o propósito de exigir os salários e a saída do interventor. Caso nada seja resolvido, o protesto segue nos dias seguintes até tudo estar solucionado e de acordo com as exigências propostas pelos trabalhadores. A Central Açucareira Usina Santa Maria S.A. é a maior indústria de Porto Calvo, na região Norte de Alagoas. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores Rurais 353 pessoas participaram da reunião. Mas a empresa tem aproximadamente 700 trabalhadores rurais e cerca de 200 no setor industrial. A crise da usina reflete diretamente na crise do município, porque o salário dos trabalhadores é quase que totalmente injetado na economia do município. O comércio local já sente os efeitos negativos. A região canavieira de Porto Calvo, na conhecida zona canavieira de Alagoas, já foi uma das mais prósperas de Alagoas, e do Brasil. Os fornecedores de cana moíam, literalmente, na “porta de casa”. Hoje, a história é outra. Com a desativação das três usinas que funcionavam no município os custos com transporte passaram a pesar muito no bolso do produtor. Das 4 usinas que funcionavam no município e que geravam quase 4 mil empregos, somente a Santa Maria, a duras penas, que se mantém em pé. Setor da cana vive uma crise sem precedentes em Alagoas   A indústria Santa Maria, que foi propriedade, no passado, do Grupo Othon, foi fechada e reaberta depois, no final dos anos 90, como Santa Maria - a partir de uma sociedade entre o grupo Oiticica e os antigos proprietários da Destilaria São Gonçalo. Afetada pela crise do setor sucroenergético e pela discordância entre seus sócios, a Santa Maria não conseguiu entrar em operação na safra 14/15. A falta de entendimento entre os sócios, as dívidas com os trabalhadores rurais e da indústria e a falta de fontes de financiamento apontavam para um horizonte sem perspectivas. No setor, o fechamento da usina já era dado como certo. Mas ai a situação se reverteu no final de 2016 quando o secretário da Agricultura, Álvaro Vasconcelos, anunciou que a Santa Maria voltaria a moer. O secretário, produtor de cana, passou a liderar um processo no que tinha como objetivo a reabertura das usinas que estavam fora de operação em Alagoas nas últimas safras, como a Santa Maria, Uruba, Guaxuma, Laginha e Roçadinho. A Usina, localizada num ponto estratégico, com capacidade para moer cana de Alagoas e Pernambuco, com boas terras, em região acidentada e com terras com tabuleiro, deveria ter superado a crise. Não foi o que aconteceu. Assim, o município, que sentiu o baque de perder três usinas, Maciape, São Gonçalo e a Santana, vive a ansiedade de perder sua última usina, agravando a crise de milhares de pessoas. CRISE Após sete meses de moagem em meio a dificuldades financeiras, a safra 17/18 foi finalizada pelas 17 usinas alagoanas com 13,7 milhões de toneladas de cana processadas. Em comparação ao ciclo anterior, quando foram beneficiadas 16 milhões de toneladas, foi registrada uma redução de 14,3%. Com isso, a quantidade de cana esmagada representa a menor safra da história do setor sucroenergético de Alagoas. Em 14/15, por exemplo, foram beneficiadas 23,4 milhões de toneladas de cana por 20 unidades industriais; no ciclo 15/16 a produção caiu para 16,3 milhões de toneladas com 19 usinas em funcionamento e na safra 16/17 para 16 milhões de toneladas com 17 unidades em operação. O ciclo 17/18, que foi finalizado no mês de abril pela usina Coruripe, foi iniciado em setembro de 2017 pela usina Santo Antônio, localizada no Litoral Norte de Alagoas. Diante de um ciclo difícil, de acordo com o departamento técnico do Sindaçúcar-AL, as únicas usinas que tiveram crescimento na safra 17/18 foram: Leão com 13,8% e 681 mil toneladas de cana processadas; Santa Maria com 7,9% e mais de 395 mil toneladas de cana moída; Pindorama com 3,7% e 717 mil toneladas beneficiadas e por fim a Marituba com 1,8% e com uma moagem superior a 716 mil toneladas de cana esmagadas. E após Alagoas ter amargado um dos piores ciclos da cana das últimas décadas, beneficiando apenas 13,7 milhões de toneladas de cana, a Conab divulgou o primeiro levantamento da safra 18/19 com a estimativa de produção e de moagem para o Estado. Segundo o estudo, a previsão de moagem prevê uma nova quebra de safra que deve chegar a 13,3 milhões de toneladas com uma variação negativa de 2,3% em comparação ao ciclo passado. Apesar de o Estado ser o maior produtor da região Nordeste, há uma expectativa de redução na área colhida e também na produtividade decorrente, principalmente, da queda da participação dos fornecedores de cana na moagem por conta de dificuldades financeiras. Ainda de acordo com o levantamento, o Estado de Alagoas, que chegou a ter uma área de canavial de 463,7 mil hectares, deverá reduzir este território, na próxima moagem, para 301,7 mil hectares. Com isso, a estimativa de área a ser colhida é 0,7% menor que a da safra anterior, que foi de 303,8 mil hectares. Uma leve brisa de esperança , no entanto, está no clima. Desde dezembro do ano passado a região canavieira de Alagoas vem registrando precipitações pluviométricas acima de média histórica. Segundo o levantamento apresentado pelo Sindaçúcar-AL, a posição acumulada é de 778, 5 milímetros (mm) de chuva. Tal resultado vem renovando as esperanças dos plantadores de cana, industriais e ou produtores rurais, que apostam na regularidade positiva das chuvas na região para promover uma melhora de produtividade na próxima safra da cana no estado.