Interior

Baile da Chita de Paulo Jacinto completa 66 anos de história

Considerado o mais tradicional do Estado, evento promove o desenvolvimento socieconômico, político e cultural da cidade

Por Lucas França com Tribuna Independente 14/07/2018 09h09
Baile da Chita de Paulo Jacinto completa 66 anos de história
Reprodução - Foto: Assessoria
“Tudo que eu tinha deixei lá, não trouxe não. Deixei o meu roçado plantadinho de feijão. Deixei a minha mãe com o meu pai e meus irmãos e com a Rosinha eu deixei meu coração. Por isso eu vou voltar pra lá, não posso mais ficar. Rosinha ficou lá em Propriá, aiai, uiui, eu tenho que voltar, aiai, uiui, a minha vida tá todinha em Propriá”... Será ao som da música Propriá ou simplesmente “Rosinha de Propriá”, como ficou conhecida a canção de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, que é o hino de abertura, que centenas de pessoas serão recebidas neste sábado (14), no Clube Cultural Recreativo PauloJacintense (CRPJ), a partir das 23h em mais um edição do tradicional Baile da Chita que completa 66 anos de tradição. O sexto Patrimônio Imaterial Histórico e Cultural de Alagoas, foi criado há 66 anos e até hoje vem promovendo o desenvolvimento socioeconômico, político e cultural de Paulo Jacinto, que fica na região da Zona da Mata do estado. O baile atrai frequentadores de toda a região, e os moradores da cidade já estão ansiosos e se preparando para celebrar a festa. Os menos de oito mil habitantes não veem a hora de se vestir de chita e rever os filhos da terra que voltam à cidade nessa época para participar da tradição. A paulojacintense Margarida Fontan mora em Maceió há anos, e nessa época volta à cidade e não vai sozinha, sempre leva uma caravana com ela. Para ela, o baile é de fundamental importância para a cultura local. “O Baile da Chita é importante para população porque ele é a maior manifestação  cultural de nossa cidade. Faz parte de nossa história uma vez que sua primeira edição surgiu com a finalidade de arrecadar fundos para ajudar no processo de emancipação  de nosso município. Dizem que ‘povo sem cultura  é  povo sem história’, mas graças  a Deus temos uma história linda, colorida, alegre”, conta Margarida. E ela já está preparada para curtir o evento em grande estilo. ‘’Mesas compradas, só esperando a hora de dançar a ‘Rosinha de Propriá’ ao som da maravilhosa orquestra Golden Time e da banda Amoda”, ressalta informando que irá seguir a tradição “vou com um vestido de chita, afinal a chita é  o tema da festa”. A servidora pública salienta que está época é o melhor dia do ano. “Está é uma data importante em nossa cidade. Dia de receber amigos e família e esse ano não vai ser diferente, pois nada se compara a alegria de estarmos juntos”, ressalta Margarida Fontan. Outro que estar ansioso é o assistente social e pesquisador Valney Erick, que já perdeu as contas de quantos bailes participou. Sozinho e com a família. “Existe essa euforia, porque é o nosso referencial. O baile é a nossa identidade cultural. Está sobrevivendo até hoje e foi por causa dele que nos tornamos independente politicamente. A importância desta festa é saborearmos as alegrias, durante a sua realização, e sabermos que o rever amigos, o famoso congraçamento, promovido por este elemento aglutinador, nos faz reviver, a vitória deste município que amamos, e que se deu por meio desta magnífica ideia”, explica o assistente social. Tecido tinha grande poder comercial Após várias reuniões, Josefa Barbosa, José Aurino de Barros (In memorian), e outros, discutiram o que fazer para pagar o advogado, foi quando a própria Josefa teve a ideia de realizar um baile no povoado. Depois de tudo planejado, surgiu o nome de ‘’Baile da Chita’’, segundo os professores e pesquisadores da cidade, a chita era um tecido da época que tinha um grande poder de comercialização. Então, os organizadores resolveram dar origem a esta referência. A musicalidade também se tornou importante. Na época, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira estavam fazendo sucesso com a composição Propriá, que carinhosamente ficou conhecida como Rosinha de Propriá pelos paulojacintenses, por se tornar a chamada de abertura do evento. Luiz Gonzaga estava de passagem pela região Nordeste e ao saber que sua música era considerada a chamada de abertura do baile, em agradecimento e por convite do senhor José Aurino de Barros na época prefeito nomeado em 1953 ele fez questão de realizar um show na cidade já emancipada. Até hoje a música Propriá, ainda é tocada pelas bandas e orquestras convidadas, na abertura do baile. Nos preparativos para o primeiro baile, Josefa teve a ideia de colocar uma rainha, uma vez que o baile seria realizado após os festejos juninos, no mês de julho. A rainha era eleita através dos fundos adquiridos, a que mais arrecadasse dinheiro na venda de rifas e bingos seria a eleita. Todos esses acontecimentos se deram por volta da década de 50. [caption id="attachment_116770" align="aligncenter" width="225"] Eleição de rainha todos os anos também é uma tradição do Baile da Chita (Foto: Lucas França)[/caption] Como uma forma de dá continuidade a tradição, a escolha da rainha ainda acontece, com algumas modificações. Como não se trata de arrecadação de dinheiro para emancipação, atualmente a escolha da rainha é feita com votos dos diretores ou associados do CRPJ. Este ano a diretoria abriu inscrições para as jovens da cidade entre 15 e 18 anos que são sócias do CRPJ. As inscrições foram online. Quatro jovens se inscreveram para participar do processo de escolha, e no último sábado (7), aconteceu à votação. A escolhida foi a estudante Carol Mendonça, de 16 anos, que já havia participado o ano passado também dessa forma de escolha. Através das redes sociais, a estudante agradeceu pelos votos conquistados e disse que será uma honra representar a festa. REGISTRO DE MEMÓRIA Até hoje existem várias versões sobre o Baile da Chita, mas nas pesquisas para o Trabalho de Conclusão de Curso - TCC: Baile da Chita, um registro de memória, de autoria dos jornalistas Lucas França e Roberison Xavier, consta que durante todos esses anos a festa deixou de ser realizada em apenas um ano. Em 1978, por causa da morte do então prefeito da cidade José Correia Fontan. Já em 1989, depois de uma forte enchente que inundou a cidade semanas antes da festa, o baile foi adiado e realizado no mês de setembro. Outra inundação, no ano de 2010, adiou a edição mais uma vez. Apesar da tragédia a população não deixou de realizar a tradicional festa. Em 2014, também não houve o baile da Chita em ambiente fechado, mas foi realizado na Praça de Eventos Josefa Barbosa, aberto ao público. Evento espera mais de 800 pessoas Os responsáveis pela organização do evento afirmam que os preparativos estão sendo realizados e que os frequentadores não vão se arrepender de participar. O público vai dançar com a Orquestra Golden Time, banda Amoda e Trio Pé de Serra. [caption id="attachment_116771" align="aligncenter" width="300"] Baile acontece neste sábado; e reúne caravanas de amigos(Foto: Cortesia)[/caption] Segundo o jornalista Marcelo Firmino que é um dos colaboradores do evento, a expectativa de público é de mais 800 pessoas. “Número alcançado no ano passado”, disse o jornalista. O diretor-presidente do CRPJ, José Barros responsável pela organização do baile, disse que 10 pessoas estão na comissão. “São 10 pessoas envolvidas diretamente com a organização fora os apoios que temos. Está tudo indo como planejado. As vendas de ingressos individuais e mesas já iniciaram. As mesas custam R$ 150,00. Já os individuais é R$ 30,00. Serão 172 mesas. Restam 50 mesas e 120 ingressos”, disse Barros. ECONOMIA LOCAL No período da festa, a movimentação na cidade aumenta. Gerando mais renda para o comércio local.  “Nessa época a gente ganha mais. Desde maio/junho tivemos encomendas. As pessoas querem se vestir com o tecido que deu nome ao baile”, disse Cícera Monteiro, coordenadora da Associação das Costureiras de Paulo Jacinto. Quem também fatura com o baile são os pequenos comerciantes e ambulantes que acabam vendendo seus produtos nos arredores do CRPJ. PREFEITURA O Baile da Chita acontece neste sábado (14), mas, para acompanhar a festa privada que acontecerá no CRPJ, a prefeitura da cidade vai realizar uma festa gratuita com apresentações culturais durante o dia e shows com grandes nomes da música regional. Porém, este ano a festa acontece no próximo fim de semana nos dias 21 e 22 de julho. A novidade este ano, é que além da rainha do Baile da Chita, pela primeira vez a Festa da Chita também terá uma rainha. A estudante de 15 anos, Eduarda Santos foi escolhida após se apresentar em um evento promovido por uma escola municipal da cidade. Sua beleza chamou atenção. E como ela não poderia concorrer para ser rainha do baile por não ser sócia do clube que organiza o evento. Foi proclamada como a primeira rainha da Festa da Chita. Na programação, além de nomes como Samyra Show, Walkíria Santos (ex-Magníficos), Tuareg’s e Banda Mô Fio, vai ter espaço garantido para os músicos da terra no palco de shows representados pela Banda Forró Ponto de Partida e o cantor Maciel Valente. Solidariedade ganha força durante festejos com campanha Como nessa época festiva o município triplica a quantidade de pessoas, um grupo de amigos resolveu colocar a solidariedade em ação. Fontan Neto, Jason Gonzaga Neto, Petrúcio Silva  e Antônio Cândido criaram a  campanha “Chita Solidária”, que é justamente a junção da Festa da Chita e da solidariedade que tem como objetivo ajudar a população menos favorecida do próprio município. “A ideia surgiu no ano passado, diante da onda de frio que é essa época do ano, resolvermos tentar de alguma maneira arrecadar roupas para aquelas pessoas mais necessitadas. E por que não ser direcionado a nossa terra natal, aliado a festa mais tradicional da cidade. Já que estávamos cansados de só ouvir e fazer críticas com relação à situação da pobreza em Paulo Jacinto, colocamos em pratica a campanha Chita Solidária. É uma maneira de tentar ajudar as pessoas menos favorecidas da cidade. Nossa ideia é agregar e fazer com que mais pessoas ajudem, não apenas nos dias do Baile da Chita e sim em outras épocas e quem sabe até diariamente, não queremos nada em troca além de um sorriso de quem recebeu. É a certeza que de alguma forma estamos fazendo aquelas pessoas felizes”, ressalta o grupo. Ainda segundo os organizadores da campanha, ao iniciar a divulgação da segunda edição da “Chita Solidária”, eles perceberão a aceitação da população. “Percebemos no mesmo instante a aceitação e empenho dos paulojacinteses tanto dos que moram na cidade quanto dos espalhados pelo mundo (nosso grupo chama carinhosamente Paulo Jacinto de capital do mundo). Recebemos roupas em geral, calçadas, alimentos, entre outros donativos todos em ótimo estado podendo ser aproveitado por quem mais necessita. Podemos resumir que a campanha foi um sucesso em 2017. Todos os donativos quem foram arrecadados durante o evento, foram entregues na paróquia da cidade, que tem um projeto social ativo”, explica. Para a segunda edição do projeto, o grupo disse estar com expectativa boa. “Fica o convite a todos: esse ano teremos duas oportunidades de doar. Durante o 66° Baile da Chita, que acontecerá no dia 14 de julho e durante a Festa da Chita que acontecerá nos dias 21 e 22 de julho. Doe o que te sobra, aqueles que precisam”, faz o convite o grupo. Fontan Neto disse que as doações podem ser entregues a Jason Neto, Petrucio Silva (Pel Silva) e Antônio Cândido, tanto aqui em Maceió e nos dias da festa em Paulo Jacinto na casa de qualquer um deles. “Nos dias das festas, estaremos na praça central para recebermos de braços abertos sua ajuda. Estamos abertos a quem quiser nos procurar não só durante a festa, como também nos outros dias a arrecadar e levar até a cidade é fazer a distribuição, afinal sempre estamos por lá e não haverá dificuldade para isso, e quem sabe um dia possamos não apenas atender a necessidade de Paulo Jacinto, como também das comunidades vizinhas”, ressalta. [caption id="attachment_116772" align="aligncenter" width="300"] : Organizadores da “Chita Solidária”: “Campanha surgiu ano passado, diante da onda de frio da época do ano” (Foto: Arquivo pessoal)[/caption]