Interior

O potencial dos rios Tatuamunha e Manguaba

Turismo sustentável é tendência no Litoral Norte alagoano

Por Cláudio Bulgarelli com Sucursal Litoral Norte 12/05/2018 12h29
O potencial dos rios Tatuamunha e Manguaba
Reprodução - Foto: Assessoria
Dois rios da região Norte de Alagoas já experimentaram a exploração do turismo sustentável. O Rio Tatuamunha, que divide os dois municípios que são a nova sensação do turismo no Nordeste, São Miguel dos Milagres e Porto de Pedras, já é visitado por turistas há nove anos motivados pelo mais importante projeto de preservação ambiental de Alagoas: o santuário do peixe-boi marinho. O Rio Manguaba, que é o mais importante do Norte de Alagoas, foi palco de intensas batalhas militares na época da colonização, e, num passado mais recente, por suas águas escoava a produção de açúcar dos engenhos da parte Norte do Estado. Hoje, seu maior destaque está nos vários portos ao longo de suas margens e também na bela foz, que separa os municípios de Porto de Pedras e Japaratinga. O único com turismo organizado, o Rio Tatuamunha, que abriga o Santuário do Peixe Boi, administrado pelo ICMBio e explorado pela Associação do Peixe Boi, se transformou, nos últimos anos na principal atração turística da Rota Ecológica dos Milagres, levando, por ano, mais de 10 mil pessoas ao passeio pelas suas tranquilas águas. O santuário é um projeto de preservação localizado em um trecho do rio, no povoado de mesmo nome, em Porto de Pedras. Atualmente esse tipo de turismo de observação envolve mais de 20 jangadeiros credenciados, mas somente 10 podem entrar no rio por dia, levando 10 pessoas por jangada, num total de 70 visitantes. O trabalho dos jangadeiros está direcionado ao serviço de condução de visitantes e às ações socioambientais para a gestão ambiental compartilhada e a melhoria da qualidade de vida da população local, já que mais de 100 famílias vivem diretamente ou indiretamente desse tipo de turismo. O passeio é uma contemplação do rio e manguezal de Tatuamunha, com sua flora e fauna local, em especial o peixe-boi. PEQUENA CAMINHADA O visitante é acompanhado por um condutor credenciado durante todo o passeio. Começa com uma pequena caminhada pelo povoado até chegar à ponte estreita sobre rio e manguezal. Após a travessia da ponte, onde já se pode contemplar a beleza e riqueza da biodiversidade local, embarca-se numa jangada simples, conduzida com varas por dois remadores. Segue-se por um passeio tranquilo com algumas paradas no leito ou nas camboas do rio, além de uma parada para observar o recinto de readaptação dos peixes-boi e, com sorte, para contemplar os animais livres que podem ser encontrados no percurso. O trajeto de ida e volta pode durar até 3 horas. Mesmo com a presença constante de fiscalização do ICMBio e o trabalho de conscientização ecológica dos jangadeiros, o Rio Tatuamunha recebe toneladas de esgotos de comunidades que vivem em trechos de suas margens. Em São Miguel dos Milagres, por exemplo, no povoado do Manibu mais de 50 famílias despejam seus esgotos diretamente num braço do rio. E ao longo da estrada parque, na comunidade do rio, no povoado da Laje, outras centenas de casas também não possuem rede sanitária, onde esgotos também são despejados diretamente no rio. Soma-se o desmatamento e a grande quantidade de lixo despejados no rio, colocando em risco a vida do peixe-boi, o animal marinho que com o maior risco de extinção no Brasil. Rio Manguaba e seus portos coloniais no Litoral Norte Três anos atrás, os passeios pelo Rio Manguaba enfim sairiam do papel e se tornariam uma realidade a mais para o desenvolvimento do turismo na região. Infelizmente o projeto não avançou. Nesse mesmo período, duas empresas de exploração do turismo sustentável, a Manati e a Eco Turismo, deram início a passeios organizados com saída do porto de Porto de Pedras, na foz do rio, até alguns quilômetros acima, em direção a Porto Calvo, sobretudo para visita de contemplação em noites de lua cheia e visitas mais restritas até os primeiros portos construídos na época da colonização e ocupação holandesa na região. [caption id="attachment_99415" align="alignnone" width="300"] Rio Manguaba une beleza e história da era colonial, sobretudo após a descoberta de fortes (Foto: Divulgação)[/caption] Apesar de não possuir litoral, Porto Calvo integra a região turística da Costa dos Corais alagoana justamente por causa da restinga do Rio Manguaba. Por isso o município quer usufruir do movimento turístico que já existe na região, atraindo visitantes com sua rica história da época do Brasil colônia que passa, necessariamente, pelas águas do rio, por onde escoava a produção açucareira da época, os víveres e as armas empunhadas nas refregas entre os exércitos luso-espanhol e holandês. E tudo isso pode mudar com a descoberta de um forte do período da ocupação holandesa e a revelação de muitos outros. Interessados começam a aparecer para criar passeios pela histórica do Manguaba, que nasce no pé da Serra do Lino e escorre num curso que já era percorrido 400 anos atrás até o mar. Do Porto do Varadouro, em Porto Calvo, até a foz, entre Porto de Pedras e Japaratinga, são 42 km de águas navegáveis. A bacia do Rio Manguaba drena parte dos municípios de Novo Lino, Jundiá, Porto Calvo, Japaratinga e Porto de Pedras. Desde a sua nascente o rio percorre zonas rurais e cruza por centros urbanos, sendo o mais importante rio do Norte de Alagoas. PASSEIO TURÍSTICO O passeio pelo Manguaba já é feito pelos moradores de Porto Calvo, mas ainda não foi explorado comercialmente como atrativo turístico. Os nativos alugam jangadas e barcos a motor e descem o rio, sobretudo nos fins de semana e feriados, numa viagem recreativa. Partindo de Porto de Pedras, alguns jangadeiros já exploram o passeio turístico em caiaques e jangadas. O projeto das prefeituras de Porto Calvo e Porto de Pedras, no entanto, é profissionalizar o serviço, tornando-o acessível ao turismo externo. O mais forte atrativo para que essa ideia se torne realidade, foi a descoberta há alguns anos de um forte do século XVII, da época da ocupação holandesa no Brasil, localizado no Reduto Ilha do Guedes, às margens do Manguaba, numa fazenda particular. O local do forte, essa pequena ilha no meio do rio, defronte à antiquíssima Rua do Varadouro, por onde foram dependuradas, num dia do ano de 1635, as partes esquartejadas de Calabar, só tem acesso por meio de barco. O Forte Bass na Ilha do Guedes, que está sendo restaurado desde 2017 pelo Iphan foi o provável reduto do acampamento de Johannes Lichthard, um almirante holandês, a serviço da Companhia das Índias Ocidentais, no século 17 XVII.