Interior

Sem matéria-prima, catadores pedem socorro em Arapiraca

Em pouco mais de um ano, renda dos trabalhadores informais cai pela metade com o fim do Lixão de Mangabeiras

Por Davi Salsa com Tribuna Independente 24/03/2018 08h50
Sem matéria-prima, catadores pedem socorro em Arapiraca
Reprodução - Foto: Assessoria
Desativado há mais de um ano, por força da legislação ambiental, o antigo lixão de Arapiraca, conhecido como Lixão de Mangabeiras, foi a principal fonte de renda e de sobrevivência, por mais de duas décadas, para dezenas de catadores de materiais recicláveis da segunda maior cidade de Alagoas. Diariamente, homens e mulheres retiravam o sustento de suas famílias com o recolhimento de papelão, garrafas PET, alumínio, cobre e outros produtos das montanhas de resíduos no antigo lixão. Se, por um lado, o fechamento do lixão de Arapiraca minimiza problemas de saúde pública e ajuda nas ações de defesa do meio ambiente, da outra parte está gerando um problema social sem precedentes para as pessoas que sobrevivem da coleta seletiva de materiais recicláveis. O antigo lixão foi desativado em dezembro de 2016, com a implantação da Central de Tratamento de Resíduos (CTR) do Agreste, localizada entre as cidades de Arapiraca e Craíbas. O novo espaço foi criado em atendimento à Lei nº 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). A expectativa dos catadores de lixo de Arapiraca era de que fosse adotado, pelo poder público, um projeto alternativo de geração de emprego e renda, mas até agora as famílias estão entregues à própria sorte. As pessoas que vivem da coleta de material reciclável são, na grande maioria, analfabetos e com renda mensal per capita de pouco mais de R$ 60. “Com o fim do lixão, não temos onde buscar nosso sustento” O papelão é uma das principais matérias-primas para o processo de reciclagem. É dele que a Associação de Catadores de Resíduos Sólidos de Arapiraca (Ascara) precisa para gerar renda para as 18 famílias, atualmente vinculadas à entidade. A associação tem oito anos de funcionamento e, segundo revela a presidente Maria do Socorro da Silva, no auge do trabalho, a entidade reuniu mais de 30 famílias de catadores de material reciclável. “Hoje, com o fim do lixão, a gente não tem mais onde buscar o nosso sustento. Além disso, toda semana nós temos de pagar o aluguel de duas cargas de material trazido pelo caminhão até a nossa sede”, relata. A solução encontrada pelos trabalhadores informais está sendo uma parceria com grandes empresas, que armazenam lixo à espera do caminhão alugado pela associação. Outra reinvindicação da presidente da entidade refere-se ao combustível do caminhão. “Antes, a prefeitura ajudava no transporte, mas agora a gente é que tem de pagar o combustível para o transporte de todo o material”, lembra. Com mais de 20 anos de experiência na coleta de material reciclado, a dona de casa Maria Aparecida de Almeida, 49 anos, casada e mãe de seis filhos, diz que saiu de Garanhuns, sua cidade natal, para tentar a sorte em Arapiraca. “Sustentei minha família por longos anos, com a coleta seletiva. Depois que o lixão fechou, minha renda caiu muito. Hoje, tenho de trabalhar dois ou três meses para arrumar o apurado de antes”, lamenta. A Associação dos Catadores de Resíduos Sólidos de Arapiraca chegou a comercializar 11 mil quilos de papelão. Atualmente, a coleta do produto é de pouco mais de quatro toneladas. PREFEITURA Procurada pela reportagem da Tribuna Independente, a Prefeitura de Arapiraca informa que está tratando diretamente com as associações às quais os catadores estão vinculados. A gestão adianta que a previsão legal, pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, prevê a integralização social da figura do catador, e o município está atuando em ação conjunta com as suas secretarias e promovendo diversas ações para evitar mais prejuízos aos catadores. A Prefeitura de Arapiraca revela que tem colaborado com o trabalho dos catadores, fornecendo combustível, produtos oriundos do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), auxiliando no licenciamento das associações e buscando galpões e maquinários para o exercício dos seus trabalhos com dignidade. Para este ano, a gestão explica que arcará com as despesas do aluguel de um galpão, durante o período de um ano, e o processo já está em licitação. Além disso, a prefeitura vai disponibilizar um caminhão com motorista e combustível para a coleta dos resíduos recicláveis, em sistema de rodízio para as associações, bem como promover cursos de capacitação e de Educação de Jovens e Adultos (EJA), com participação obrigatória e efetiva dos catadores de resíduos recicláveis em um galpão que deverá ser locado para o início do projeto.